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Dados do Inpe sugerem aceleração da área desmatada na Amazônia

Valor Econômico, Brasil, p. A2
Autor: CHIARETTI, Daniela
22 de Out de 2018

Dados do Inpe sugerem aceleração da área desmatada na Amazônia

Daniela Chiaretti

O desmatamento da Amazônia em julho, agosto e setembro deste ano cresceu 61,2% em relação ao mesmo trimestre de 2017. No quadrimestre, de junho a setembro, o aumento foi de 36%. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e indicam que a têndência de desmate da Amazônia é de alta no período eleitoral.
Os dados são do Deter B, um sistema de detecção por satélite em tempo quase real das mudanças na cobertura vegetal da floresta. O sistema identifica e mapeia alterações na cobertura florestal com área mínima próxima a 1 hectare. O satélite revisita uma mesma área em, no máximo, cinco dias.
Embora o Deter não seja o sistema mais preciso que o Inpe usa para revelar o desmate, avisa equipes de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que a floresta está sob pressão em determinada área. O dado oficial (e anual) do desmatamento da Amazônia é divulgado geralmente em novembro e dado por outro sistema, mais preciso, o Prodes, que mede o corte raso da floresta de agosto a julho do ano seguinte.
Os dados mais recentes, de agosto para cá, não irão aparecer no resultado consolidado do desmatamento da Amazônia de 20172018. De agosto até meados de outubro, fase de intensificação da campanha eleitoral, o Deter B identificou quase o dobro de ações de desmate deixando o solo exposto, de degradação florestal e de atividades de mineração. "Note-se que este é o período seco, época em que historicamente mais se desmata na Amazônia, mas a tendência do que observamos no Deter é de alta", diz Claudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas do Inpe.
Analistas dizem que há uma conjunção de fatores que podem explicar a tendência de alta. Em primeiro lugar, o câmbio favorável à exportação de commodities. Em segundo, as falas do candidato Jair Bolsonaro (PSL) e seus auxiliares sobre acabar com "a indústria da multagem", como ele diz, e reduzir o papel do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente, ao dizer que vai juntar a pasta à da Agricultura. "E, em terceiro, a mensagem política local", diz Jair Schmitt, diretor do departamento de combate ao desmatamento do MMA.
Isso é claro no Acre, por exemplo. O senador Gladson Cameli (PP) elegeu-se governador no primeiro turno, quebrando a hegemonia de 20 anos do PT no poder. "Vou abrir para o agronegócio, sem agredir o meio ambiente, obedecendo o que diz o Código Florestal", disse Cameli ao Valor. Segundo ele, os ex-governadores do PT "criaram a política da florestania, que era para inglês ver". De 1o de agosto a 10 de outubro o desmatamento no Acre, segundo as imagens do Deter B, chegou a 141 km2, muito próximo ao consolidado de 12 meses nos três anos anteriores.
O Estado do Amazonas, há poucos anos o mais preservado da Amazônia Legal, é nova frente do desmatamento. Há muita pressão pela pavimentação da BR-319, a estrada que liga Manaus a Porto Velho. Isso pode desencadear um forte processo de desmate no Estado. A pressão para pavimentar a estrada se fortaleceu nos últimos dias. O desmatamento de julho a setembro no Estado, comparando-se os mesmos meses de 2018 e 2017, tem forte tendência de alta.
O Inpe começou a medir o desmatamento do Cerrado com o mesmo sistema do DeterB em maio. "Na Amazônia o desmatamento do trimestre foi de 1864 km2, para um estoque de floresta de 3 milhões de km2. No Cerrado, a relação foi de 1227 km2 para um estoque de um milhão de km2", diz Almeida, do Inpe.

Valor Econômico, 22/10/2018, Brasil, p. A2

https://www.valor.com.br/brasil/5939791/dados-do-inpe-sugerem-aceleraca…

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