VOLTAR

Curto-circuito no gás

FSP, Opinião, p. A2
01 de Nov de 2007

Curto-circuito no gás
Não é só o abastecimento de combustível que vive crise, cujas raízes estão no mercado de eletricidade e na omissão do governo

Veio enfim a crise mais anunciada do governo Lula: já está faltando gás natural. A Petrobras só causou surpresa, ao cortar 17% do fornecimento a distribuidoras de São Paulo e Rio de Janeiro, pelo caráter abrupto da medida, logo revertida, no segundo caso, por decisão da Justiça fluminense. O abastecimento foi retomado no Rio, mas a liminar nem de longe representa uma solução, pois o problema tem origem alhures: no Ministério de Minas e Energia (MME).
O gás natural surge como sintoma agudo apenas por fazer a ligação entre dois sistemas energéticos com dificuldades conhecidas de suprimento. Após o racionamento no final do governo FHC, usinas termelétricas se tornaram o principal instrumento emergencial de geração de energia, e o gás natural, ainda relativamente abundante, o combustível salvacionista. Feito o remendo, porém, não caminharam como deveriam planejamento e investimentos para suprir com eletricidade a retomada do crescimento econômico.
Muitas empresas industriais fizeram vista grossa para a previsível escassez futura. Refestelaram-se nos preços módicos do mercado livre de eletricidade, abrindo mão de contratos de longo prazo. Também atraídas pelo baixo custo, várias indústrias -como nas áreas de cerâmica e vidro- converteram fornos a óleo em fornos a gás, confiando nas promessas de ampliação do fornecimento pela Bolívia e da produção no Brasil. O aumento acelerado da demanda por gás elevou a cerca de 25% sua fatia no montante de combustíveis consumidos no país.
Não é de hoje, contudo, a previsão de que não haveria gás suficiente. Isso já ficara evidente nos episódios em que termelétricas foram chamadas a gerar energia e não o fizeram, por falta do combustível. Dessas falhas resultou um termo de compromisso entre a Petrobras e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que obriga a estatal a fornecer gás para as usinas de eletricidade. Bastaram agora algumas semanas adicionais de seca no Sudeste, o que limitou a produção de energia por hidrelétricas e levou ao acionamento de termelétricas, para a escassez anunciada de gás se materializar.
Por mais que se busque imputar à Petrobras responsabilidade pela crise de fornecimento, não lhe compete resolver sozinha o problema do gás. Não enquanto não forem enfrentadas também as deficiências do mercado elétrico. Isso é atribuição do MME.
Cabe ao ministério coordenar um plano para acelerar a diminuição da dependência do gás natural, já iniciada de forma desorganizada, identificando as oportunidades menos custosas para sua substituição. Parece inescapável, no entanto, compensar aquelas empresas obrigadas a retomar o uso de óleo combustível, em especial numa conjuntura de alta do petróleo.
Era, de resto, o que o governo federal já deveria ter feito

FSP,,01/11/2007, Opinião, p. A2

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.