OESP, Economia, B4
01 de Nov de 2007
Crise revela nível de aperto energético
Para analistas, não há gás para setor elétrico e indústria ao mesmo tempo
Nicola Pamplona e Irany Tereza
O racionamento de gás natural imposto pela Petrobrás esta semana revela o nível de aperto do setor energético brasileiro. Para analistas, a metáfora do "cobertor curto" define bem o cenário atual, em que não há gás suficiente para atender o setor elétrico e a indústria ao mesmo tempo. A situação, dizem especialistas, ficou ainda pior após a nacionalização do setor de petróleo na Bolívia, que inviabilizou a expansão do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol).
"(O racionamento) não chega a causar surpresa, dado o aumento da demanda por este insumo e a estagnação de sua oferta", afirmam, em relatório, os analistas da Tendências Walter Vitto e Bruno Selvaggi. Segundo eles, excluindo a demanda das térmicas, o consumo de gás cresceu 5,9% de janeiro a agosto, enquanto a oferta caiu 1,2%. A Petrobrás já promovia uma espécie de "racionamento branco", evitando conectar novos clientes à rede e, por isso, mantinha controle da situação.
No entanto, a seca dos últimos meses evidenciou o desequilíbrio entre oferta e demanda. Na terça-feira, quando a redução no fornecimento de gás foi iniciada, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinou o despacho de cinco térmicas a gás nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste e da usina de Araucária, na Região Sul. Ao todo, as térmicas a gás geraram 1,8 mil megawatts (MW) médios durante o dia, consumindo um volume de gás natural superior aos 8 milhões de metros cúbicos.
O despacho das térmicas é determinado pelo custo marginal de operação do sistema elétrico (CMO), valor que, na prática, precifica a água dos reservatórios. Esta semana, o CMO superou os R$ 230 por megawatt-hora (MWh), superior ao custo de operação das térmicas. Tal situação é comum nesta época do ano, quando os reservatórios das hidrelétricas estão vazios e têm como objetivo preservar alguma água para gerar energia no ano seguinte.
Em 2006, o Brasil só não enfrentou racionamento semelhante porque a Petrobrás declarou indisponibilidade das térmicas por falta de gás natural. O ONS teve, assim, que despachar usinas mais caras, como as movidas a óleo diesel. Naquela época, o nível dos reservatórios no Sudeste e Centro-Oeste chegou a 42%. Na terça-feira, estava em 52%. Por força de um termo de compromisso com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Petrobrás teve de redirecionar gás para a geração de energia.
A expectativa é que o ritmo de queda no nível dos reservatórios diminua nas próximas semanas, pois há previsão de chuvas sobre as principais barragens brasileiras, nos Rios Grande e Paranaíba, responsáveis por 70% da capacidade de armazenamento de energia da região. Se isso ocorrer, o CMO volta a cair e as térmicas a gás deixam de ser necessárias.
Especialistas alertam para a repetição do problema no ano que vem, caso a Petrobrás não consiga ampliar a oferta de gás natural. O parque térmico brasileiro foi projetado a partir da possibilidade de expansão do Gasbol, inviabilizada pela crise com a Bolívia. A estatal busca outras fontes de gás no exterior, que poderia ser importado na forma liquefeita (GNL). A previsão é que o primeiro navio, com capacidade de 6 milhões de m³ por dia, chegue em maio de 2008.
Outra alternativa em estudo é a instituição de um contrato chamado de "firme-flexível" de gás. O modelo prevê a substituição do fornecimento a indústrias por combustíveis alternativos, como óleo combustível, durante o período de seca, quando o gás vai para as térmicas. A Petrobrás arcaria com os custos da substituição.
OESP, 01/11/2007, Economia, B4
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