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Crime acorda o governo

CB, Brasil, p. 7
27 de Dez de 2005

Crime acorda o governo
Assassinato de índio leva Palácio do Planalto a deslocar secretário de Direitos Humanos e presidente da Funai para a região, junto com a PF

Dois dias após o assassinato do líder guarani-caiouá Dorvalino Rocha, o governo federal decidiu enviar representantes a cidade de João Antônio, a 300km de Campo Grande (MS), onde o índio foi morto. Desembarcam hoje no local o secretário de Direitos Humanos, ministro Paulo Vannuchi, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Gomes e dois delegados da Polícia Federal (PF). Rocha foi executado no último sábado, 10 dias depois de integrantes da sua etnia terem sido expulsos da área indígena Nhanderu Marangatu.
"Essa vai ser uma visita para assegurar a não repetição de atos de violência desse tipo, garantir o prosseguimento das investigações da PF e assegurar a preocupação do presidente Lula com a questão", explica Vannuchi. A direção da Funai informa que, para evitar novos conflitos entre fazendeiros e índios, foi criado um posto provisório do órgão na beira da estrada de terra onde os 450 guaranis-caiouás estão acampados. Cinco funcionários da Funai estão no local orientando os índios e acompanhando as investigações da PF.
Por ordem da Superintendência da PF no estado, foi instaurado inquérito para apurar o assassinato. Além de investigar os mandantes do crime, os agentes pretendem realizar uma devassa na empresa de segurança contratada pelos fazendeiros da região, que há 20 anos travam uma disputa de terras com os índios. Só este ano, 24 foram assassinados na região de João Antônio.
A tribo reivindica a posse de uma área de 9,3 mil hectares que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva homologou como reserva indígena em março deste ano. Fazendeiros que contestam a criação da reserva conseguiram na Justiça mandados de reintegração da área. Por ordem do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim, os índios foram despejados no último dia 15 de dezembro em uma operação da Polícia Federal.
Relato
Todo o drama vivido pelos índios guaranis-caiouás está descrito em documento que movimentos sociais pretendem entregar hoje para o ministro Vannuchi. O relatório irá detalhar as condições de vida das famílias, citará a falta de água e ressaltará a completa ausência de segurança no local. "O documento já estava pronto e foram acrescentados apenas alguns dados novos. É preciso ressaltar que dois documentos foram protocolados na Polícia Federal e na Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública, na semana passada, alertando sobre o risco de conflito na região, mas nada foi feito", disse Fabíola Santos, presidente do Centro de Direitos Humanos Marçal de Souza Tupã-í. .
O material apresenta um breve histórico da situação dos indígenas, desde que foram removidos das fazendas Itá Brasília, Morro Alto e Piquiri Santa Mônica, no último dia 15 de dezembro, e levadas para a margem da rodovia. Os movimentos sociais cobram uma solução definitiva para a questão o mais breve possível. O clima ainda é tenso em João Antônio, mesmo após a desocupação. "Os fazendeiros não aceitam a permanência dos índios, próximo às fazendas", disse a presidente do CDDH.

CB, 27/12/2005, Brasil, p. 7

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