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Cresce mortalidade infantil indígena

FSP, Brasil, p. A4
25 de Jan de 2005

Cresce mortalidade infantil indígena
Em MS, foram 60 mortes por mil nascidos, segundo a Funasa

Hudson Corrêa
Da agência Folha, em Campo Grande

Dados da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) apontam que, nas aldeias de Mato Grosso do Sul, 27% das crianças índias, de até cinco anos de idade, estão desnutridas e que em 2004 a mortalidade infantil chegou a 60 por mil nascidos vivos, quase o triplo do índice verificado entre a população brasileira (24,3 por mil, segundo o Ministério da Saúde).
A mortalidade infantil nas aldeias em 2003 foi de 48 por mil nascidos vivos. A mesma marca ocorreu em 2002. No ano passado, porém, houve aumento de 25% no índice, que vinha caindo desde 1999 quando atingia 140 por mil nascidos.
O novo avanço da mortalidade infantil ocorreu apesar de o governo federal ter lançado, em abril de 2003, o programa Fome Zero para índios na região de Dourados (219 km de Campo Grande), onde vivem cerca de 27 mil das etnias guarani e caiuá.
As aldeias deles são conhecidas pelos casos de suicídio que ocorrem principalmente devido à falta de terra. Em Dourados, 11 mil índios vivem numa aldeia de apenas 3.500 hectares (em uma área desse tamanho podem ser assentados no máximo 200 sem-terra). Nos últimos cinco anos, 234 guaranis e caiuás se mataram.
Aldeias desses índios chegam a ter 37% das crianças desnutridas.
Desde 2003, uma equipe da Funasa visita aldeias verificando se o peso das crianças índias, com até cinco anos, está compatível com a idade delas.
Naquele ano, o resultado apontou que 32% estavam desnutridas. O índice caiu para 27% em 2004, mas ainda é considerado alto pelos técnicos.
A desnutrição e mortalidade infantil estão relacionadas à falta de terra e os casos de alcoolismo entre os índios, afirmou o coordenador-regional da Funasa, Gaspar Hickmann.
"Os pais bebem e abandonam os filhos em casa. As crianças ficam até três dias sem comer", afirma a nutricionista Cíntia Naito que coordenada o programa de vigilância nutricional nas aldeias.
Na avaliação dela, os índios se entregam ao álcool devido à falta de terra e ao conflito cultural.
A desnutrição é uma das causas da mortalidade infantil. A maioria das criança que passam fome tem menos de dois de idade, segundo a Funasa.
Mato Grosso do Sul possui cerca de 50 mil índios. É a segunda maior população indígena no Brasil, atrás do Amazonas.
Cestas básicas
O governo de Mato Grosso do Sul foi encarregado de implantar o Fome Zero nas aldeias da região de Dourados. Em 2003, o então ministro da Segurança Alimentar José Graziano assinou um convênio com o governador Zeca do PT para repassar R$ 5,5 milhões ao projeto.
Ontem o governo estadual divulgou que investiu R$ 3,8 milhões no projeto durante 2004. O Estado diz que distribui por mês 1.782 cestas com 32 quilos de alimentos nas aldeias da região de Dourados.

FSP, 25/01/2005, Brasil, p. A4

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