VOLTAR

Cosipar incentiva carvao que preserva o ambiente

GM, Rede Gazeta do Brasil, p. B13
24 de Jan de 2005

Cosipar incentiva carvão que preserva o ambiente

Siderúrgica faz convênio com universidades para usar 1% do faturamento em pesquisa de tecnologia que elimine os poluentes. A preocupação com a questão ambiental, principalmente a relacionada com a produção de carvão vegetal para alimentar os fornos, leva a maior siderúrgica de ferro-gusa da região de Carajás, a Cosipar, a investir em conhecimento científico para melhorar os processos de produção de carvão. Na última semana, a empresa assinou em Belém um convênio de cooperação tecnológica com as universidades Federal de Viçosa (UFV) e Federal Rural da Amazônia (UFRA) para a realização de pesquisas nas áreas de floresta energética e carbonização.
O professor Alexandre Pimenta, coordenador técnico do convênio pela UFV, destacou que a universidade mineira pretende utilizar na região de Carajás a sua larga experiência na área de produção de carvão vegetal como matéria-prima para o setor de siderurgia para obter um produto sem dano ao meio ambiente, com tecnologias que permitam a produção de carvão sem a emissão de poluentes. O professor Sueo Numazawa, da UFRA, disse que a tecnologia de Viçosa com o uso de eucalipto para a produção do carvão deverá ser adaptada para uso dos resíduos vegetais das espécies amazônicas.
Exportações
Com o bom preço obtido ano passado pelo ferro-gusa no mercado internacional, tem aumentado o interesse de vários grupos pela implantação de novas siderúrgicas ao longo da ferrovia de Carajás, para aproveitar o potencial de ferro das minas da Companhia Vale do Rio Doce na região. Hoje existem 14 guseiras no Maranhão e no Pará, que produziram ano passado algo em torno de 2,8 milhões de toneladas de ferro-gusa.
Há cerca de dois anos o produto estava cotado a US$ 90 a tonelada, chegando hoje aos US$ 300. De acordo com o balanço preliminar as exportações paraenses em 2004, entre janeiro e novembro, as guseiras já implantadas no município paraense de Marabá haviam exportado o equivalente a US$ 199 milhões, um crescimento de 133,55% em relação ao mesmo período de 2003.
Um dos maiores investimentos nessa área está sendo feito pela própria Vale do Rio Doce para a implantação em Marabá, em parceria com a Nucor, a maior siderúrgica dos Estados Unidos, da Ferro-Gusa Carajás S/A (FGC), um investimento de US$ 80 milhões para a produção estimada de 380 mil toneladas anuais de ferro-gusa, a partir de outubro.
E o projeto já nasce com a preocupação ambiental: a produção do carvão vegetal que abastecerá a FGC será toda ela obtida na floresta renovável de eucalipto da Celmar, no Maranhão, onde a Vale tem 35 mil hectares de floresta plantada.
Na semana passada, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá (ACIM), Félix Gonçalves de Miranda, ao mesmo tempo em que saudava os novos investimentos no município, com a perspectiva de aumento do número de guseiras na cidade de seis para 12, em um curto espaço de tempo, alertava para a necessidade de investimento também em projetos de reflorestamento.
"Todos esses investimentos são bem vindos porque vão gerar emprego e renda, mas nossa preocupação é que também sejam direcionados recursos na área de reflorestamento, que também será uma fonte de empregos", disse Miranda. É que além do projeto da Vale, existem pelo menos outros cinco em processo de instalação em Marabá, inclusive alguns de grupos locais.
Órgãos do governo, como o Ministério do Trabalho e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) têm atuado para combater irregularidades praticadas principalmente por empresas que fornecem o carvão vegetal para as guseiras instaladas na região e relacionadas às condições de trabalho e à comercialização de matéria-prima de origem ilegal.
Há um mês o Ibama fez em Marabá a maior apreensão de carvão vegetal produzido de forma irregular. Foram quase 11 mil m³ e a empresa responsável foi multado em R$ 1 milhão, mas deveria pagar apenas 10% desse valor, pois o restante seria pago com o reflorestamento de áreas degradadas.
O presidente da Cosipar, Luiz Carlos Monteiro, reconhece que a produção do carvão vegetal na região é uma questão delicada que precisa ser enfrentada. "Precisamos verificar claramente as questões ambientais, legais e produtivas. Por isso, a Cosipar procura adotar um processo de crescimento saudável, com soluções racionais e inteligentes. Estamos estabelecendo uma base para a difusão do conhecimento, com uma melhoria tecnológica no processo produtivo, de tal forma que se tenha um rendimento na conversão da madeira para o carvão maior, que pode chegar a cerca de 25% de incremento, com ganhos significativos e com perdas muito menores do que as verificadas hoje", disse Monteiro.
Ele afirmou que a Cosipar vai investir 1% do seu faturamento anual - que este ano deve chegar a US$ 140 milhões - nas pesquisas que serão desenvolvidas através do convênio firmado ontem com a UFV e a UFRA.
Mas a empresa já está investindo este ano R$ 10 milhões na utilização de finos de carvão, material que hoje é desperdiçado pelas guseiras, o que deverá representar economia de 52 mil toneladas anuais no consumo de carvão.
Além disso, a empresa vai implantar o Centro Tecnológico de Biomassa da Amazônia Oriental, no município de Barcarena, que terá como um de seus primeiros projetos reduzir a zero a emissão de fumaça no processo. E o convênio assinado ontem possibilitará também a formação de recursos humanos, com o treinamento dos trabalhadores das carvoarias, estudantes de graduação e pós-graduação nas áreas de interesse. Luiz Carlos Monteiro informou ainda que até 2012 a Cosipar deverá ter estabelecido entre 32 mil e 36 mil hectares de floresta plantada na região. Ela possui um viveiro com capacidade de produção de 7 mil mudas de árvores por ano.
kicker: Preço do ferro-gusa estimula novas guseiras em Carajás
kicker2: Reflorestar gera renda e emprego, além de abastecer alto-fornos

GM, 24/01/2005, Rede Gazeta do Brasil, p. B13

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.