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Corpo de índio desaparecido após conflito com PF é achado

FSP, Poder, p. A16
09 de Nov de 2012

Corpo de índio desaparecido após conflito com PF é achado
PF confirma 8 feridos em confronto na divisa entre MT e PA, dos quais 6 índios
Rainery Quintino, coordenador da Funai, confirmou a morte e disse que uma equipe está a caminho da área

RODRIGO VARGAS COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CUIABÁ

Índios mundurucus localizaram ontem o corpo de um integrante da etnia que estava desaparecido desde o confronto de anteontem com agentes da Polícia Federal às margens do rio Teles Pires, na divisa de Mato Grosso e Pará.
Segundo o relato dos índios, o corpo de Adenílson Krixi Mundurucu, 28, tinha marca de tiro na cabeça.
"O corpo foi achado com dois tiros nas pernas e um na cabeça. Foi uma covardia o que fizeram, um verdadeiro massacre. Estamos com muito medo", afirmou à reportagem o índio Sandro Waru Munduruku, filho do cacique da aldeia Teles Pires.
Até o fim da tarde de ontem, a PF ainda confirmava somente oito pessoas feridas: dois policiais, atingidos por flechas, e seis índios.
Dois índios, com ferimentos a bala nos braços e nas pernas, foram transferidos para Cuiabá, capital do Estado, onde aguardam cirurgia. Segundo a direção do hospital, ambos estão em condição estável, sem risco de morte.
Rainery Quintino, coordenador da Funai em Jacareacanga, no sul do Pará, confirmou a morte do índio e disse que uma equipe do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) do rio Tapajós estava a caminho da área do conflito levando um caixão.
A ação da PF fazia parte da Operação Eldorado, que combate uma rede de exploração de garimpos ilegais de ouro na região. Líderes das etnias mundurucu e caiabi, segundo as investigações, participavam do suposto esquema.
As duas etnias ocupam áreas vizinhas no entorno do rio Teles Pires. As terras mundurucus ficam somente no lado do Pará, enquanto o território dos caiabis se estende também por Mato Grosso.
Waru Munduruku disse que o pai do índio morto no confronto viu quando o filho foi atingido e aponta um delegado da PF (um dos feridos) como o autor dos disparos.
"O pai dele viu o delegado atirando. Depois ele passou um rádio para nós e falou: 'O meu filho levou um tiro e está desaparecido'. A PF falou para ele: 'O seu filho está vivo por aí'", relatou Waru. "Achamos o corpo e estamos revoltados", afirmou.
A insatisfação dos índios não se resume à atuação da PF no confronto. Segundo o índio, a aldeia foi alvo do que chamou de "ataque".
"Nós queremos saber por que o delegado invadiu a aldeia, jogando bombas de efeito moral, atirando com bala de borracha nas pessoas, atirando nas casas e amedrontando nossas crianças. A operação era somente no rio."
Segundo relato de policiais, a PF entrou na aldeia em razão do conflito ocorrido no rio. Segundo eles, o objetivo era verificar a existência de armamentos escondidos e atender feridos.
Após o confronto, 17 índios foram detidos e levados para prestar esclarecimentos na Superintendência da Polícia Federal em Sinop, norte de Mato Grosso. Até o fim da tarde de ontem, não havia relatos sobre os depoimentos.

Frases
"O corpo [de Adenílson Krixi Mundurucu, 28] foi achado com dois tiros nas pernas e um na cabeça. Foi uma covardia o que fizeram, um verdadeiro massacre. Estamos com muito medo"
"Hoje [ontem] achamos o corpo [de Adenílson] e estamos revoltados"
SANDRO WARU MUNDURUKU
filho do cacique da aldeia Teles Pires

Saiba mais
Choques têm se intensificado em outras regiões

DE SÃO PAULO

Conflitos entre policiais federais e índios têm sido comuns nos últimos anos.
Em 2009, tupinambás invadiram uma fazenda em área que compreende os municípios de Ilhéus, Buerarema e Una (BA).
Os agentes usaram armas de choque para conter os índios. Cinco indígenas procuraram o Ministério Público Federal na Bahia e disseram ter sido torturados.
Também em 2009, seis índios se feriram em confronto com agentes em operação para combater um suposto esquema de pesca ilegal na terra indígena Umutina, perto de Barra do Bugres (MT).
Segundo a PF, o embate ocorreu quando agentes tentavam cumprir um mandado de busca.
Policiais federais e caingangues também entraram em conflito no fim de 2000, quando 50 indígenas bloquearam a rodovia RS-324, na divisa de Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Dois caingangues foram presos.

FSP, 09/11/2012, Poder, p. A16

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/77017-corpo-de-indio-desaparecid…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/77019-frases.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/77022-choques-tem-se-intensifica…

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