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Controle de desmate vai integrar pós-Kyoto

OESP, Vida, p. A36
08 de Dez de 2007

Controle de desmate vai integrar pós-Kyoto
Negociador do Brasil diz que novo pacto antiaquecimento incluirá tema

Cristina Amorim

O negociador-chefe do Brasil na 13ª Conferência sobre o Clima (COP-13), na Indonésia, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou ontem que a inclusão oficial do desmatamento evitado de florestas tropicais como forma de reduzir a emissão de gases do efeito estufa já foi incluída no "mapa de Bali".

O mapa é um conjunto de diretrizes que os países seguirão até 2009 para costurar um novo regime internacional de controle do aquecimento global, substituto do Protocolo de Kyoto, que expira em 2012.

A derrubada e queima da floresta libera na atmosfera o carbono que antes era retido como biomassa (folhas, troncos e raízes). É a principal contribuição brasileira ao aquecimento. Globalmente, o desmatamento responde por até 20% das emissões de gases-estufa.

Mas a lista de questões pendentes continua grande. Não se sabe se os países em desenvolvimento com estoques florestais receberão ou não ajuda financeira dos ricos e quais mecanismos seriam os mais adequados. Também se discute se as ações de controle do desmatamento começam a ser tomadas imediatamente ou se ficam para depois. Se começarem já, os países em desenvolvimento pleiteiam uma recompensa no futuro. Se ficarem para 2013, quando todo o acordo pós-Kyoto deve entrar em vigor, corre-se o risco de boa parte da floresta já ter caído.

Na terça-feira, a secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Thelma Krug, participante da delegação brasileira na COP-13, havia afirmado que "é prematura" a idéia de ligar ações de redução das emissões de gás-estufa resultantes do desmatamento a um mercado ou fundo internacional de financiamento.

Agora o Brasil defende na conferência a criação de um fundo voluntário, alimentado pelos ricos, para o país pobre que demonstre resultados mensuráveis no controle do desmatamento.

MODELO

Anteontem, o governo brasileiro anunciou que, entre 2006 e 2007, o desmatamento na Amazônia foi estimado em 11.224 quilômetros quadrados, uma queda de 20% em relação ao observado entre 2005 e 2006.

A notícia repercutiu em Bali, ainda que timidamente. "Vejo com otimismo, pois mostra que o desmatamento evitado pode ser parte da solução, que é possível lidar com esse problema", comemorou ontem o diretor do programa de florestas da ONG WWF International, Rod Taylor.

O chefe da delegação européia, Artur Runge-Metzer, disse que "talvez o modelo brasileiro (de combate ao desmatamento) possa ser usado como um esboço para outros países, que seja adaptado de acordo com as diferentes realidades".

O Brasil é o único país em desenvolvimento que mantém um sistema de monitoramento periódico por satélite do desmatamento de sua floresta tropical, o que permitiu a criação de um registro histórico.

A Indonésia, por exemplo, sede da conferência e outro grande desmatador mundial, não tem nada parecido.

INCÓGNITAS

Mas, apesar de o governo brasileiro ter obtido três anos de queda na taxa, ninguém sabe ponderar quanto do resultado decorre das chamadas "ações de comando e controle" e o que é simplesmente reflexo de cotações desfavoráveis de commodities como a soja, cujo plantio invade extensas áreas da floresta. Se a queda do desmatamento for apenas uma reação aos preços baixos da soja, por exemplo, assim que a tendência de mercado se inverter a destruição voltará com toda força.

Uma luz amarela já foi acionada em maio, quando a curva de desmatamento na Amazônia voltou a subir, justamente seguindo uma recuperação de valor das commodities. Esse repique não foi refletido no no índice de desmatamento recém-divulgado porque ele acumula o registro de 12 meses.

"O grande desafio é a mudança na equação econômica que sustenta a lógica do desmatamento", disse o subsecretário de Política do Itamaraty, Everton Vargas. "A queda parece ter sido uma conseqüência de uma situação econômica mais ações de governança. A subida (recente) mostra que é preciso ajuda externa."

País é 8o na luta contra mudança climática

EFE

O Brasil ficou em 8.o lugar na lista dos países que mais lutam contra as mudanças climáticas entre as 56 nações mais poluentes do planeta, segundo classificação elaborada pela ONG Germanwatch. O ranking é liderado pela Suécia. O estudo também destaca os esforços do México e da Argentina, mas mostra um alerta em relação à Austrália, Estados Unidos e Arábia Saudita.

O Índice de Performance sobre Mudança Climática 2008 avalia os esforços dos principais países emissores de CO2 e foi divulgado como subsídio à COP-13. Os 56 países analisados são responsáveis por 90% das emissões de CO2 lançadas à atmosfera.

Entre os dez países mais poluentes e que fazem menos esforços destacam-se Rússia (50.o), Canadá (53.o), Austrália (54.o), Estados Unidos (55.o) e Arábia Saudita (56o).

O objetivo do índice, publicado pela Germanwatch desde 2006, é aumentar a pressão sobre os países industrializados que mais contribuem para o aquecimento global, entre eles EUA, com 21,44% das emissões de CO2, China (18,8%), Rússia (5,69%), Japão (4,47%), Índia (4,23%) e Alemanha (3%).

Entre as 20 primeiras colocações, além do Brasil, estão México (4.o lugar) - atrás de Suécia, Alemanha e Islândia - e Argentina (10o lugar). Também fazem parte da lista 12 dos 27 países da União Européia (UE), entre eles Reino Unido (7.o), França (18.o), Hungria (6.o) e Malta (14.o).

OESP, 08/12/2007, Vida, p. A36

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