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Consumo de álcool cresce

Gazeta Digital (MT)- http://www.gazetadigital.com.br/
Autor: Tania Rauber
22 de Nov de 2010

O consumo excessivo de álcool por adultos e até adolescentes tem aumentado o índice de violência em aldeias da etnia Karajá, na região da Ilha do Bananal, no Araguaia. Uma pesquisa realizada em 2004 pelo Distrito de Saúde Especial Indígena (DSEI) Araguaia, da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), já apontava o problema. Na época, quase metade da população de 6 aldeias afirmou ingerir bebidas alcoólicas e, destes, 77% admitiram ficar embriagados constantemente.

Outro dado preocupante é que, apesar de ocorrer com mais frequência entre os mais velhos, o vício é comum entre índios jovens: 17,2% dos que declararam ingerir bebidas alcoólicas tinham de 15 a 19 anos; 30,9%, de 20 a 29 anos e 19,8% de 30 a 39 anos. Apesar da situação ter sido denunciada há 6 anos, nenhuma medida foi tomada e os casos de violência só aumentaram. Brigas em família, confusões com vizinhos, suicídios, afogamentos a até homicídios já foram registrados.

Um dos casos mais graves ocorreu há pouco tempo, quando um jovem alcoolizado matou o tio na aldeia Santa Isabel, a maior da região, onde vivem quase mil indígenas. Segundo o cacique Idiarrina Karajá, o mais agravante é que o vício está atingindo cada vez mais adolescentes e crianças das comunidades. "Nós temos garotos com 13 anos que já estão se envolvendo com a bebida. E isso não é futuro para eles. Queremos que eles estudem e participem do esporte. Isso sim é futuro".

Idiarrina afirma que a bebida entra facilmente nas aldeias, e muitos adultos acabam estimulando os menores a beber. "Eu tenho 4 filhos e fico preocupado. O comércio quer vender, e os índios compram bebida fácil. Precisamos de apoio para cuidar, principalmente, das nossas crianças".

Os problemas enfrentados nas aldeias foram apresentados durante um seminário realizado esta semana, pelo Ministério Público Federal (MPF) do Estado do Tocantins e pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) de São Félix do Araguaia. A técnica do Dsei Vera Lúcia Bogea explicou que, além da facilidade em adquirir a bebida na cidade, devido à proximidade com as aldeias, outro problema é a venda de álcool dentro das próprias comunidades e o consumo em festas tradicionais. "Nós temos aproximadamente 2,7 mil índios da etnia Karajá e eles mesmos nos procuraram preocupados com esta situação".

Uma das propostas apresentadas foi a criação de normas internas em cada comunidade, proibindo o consumo e venda de bebidas alcóolicas em seus limites, e a implantação da "lei do silêncio" a partir das 22 horas.

Vera Lúcia salienta que outra cobrança é pela instalação de um Centro de Apoio Psicossocial no município de São Félix do Araguaia. "Nós não temos centro aqui e os índios que aceitam o tratamento tem que ir para outros Estados. Porém, na maioria das vezes eles acabam desistindo porque não conseguem se entrosar, ficam muito longe das famílias, e acabam voltando. Mas para isso precisamos do apoio do Estado e do município".

Na pesquisa realizada em 2004, 58% dos Karajás afirmaram querer se livrar do álcool. Outros 23% manifestaram o desejo de continuar com o vício.

Causas - Uma pesquisa realizada com os indígenas durante o seminário apontou que todos têm algum parente próximo envolvido em situações provocadas pelo álcool e que a dependência é geralmente ligada à saúde mental das pessoas.

O estreitamento de relações com brancos alcoólatras, falta de emprego e de perspectiva de vida, desvalorização da família e do casamento, perda de auto estima cultural, busca da sensação de poder, autoafirmação para conquistas amorosas e falta de ocupação para o corpo e a mente foram apontadas como as principais causas para o vício.

Para as comunidades são necessários mais investimentos para tratamento, incentivo ao esporte, lazer, produção artística e cultura tradicional com implementação de centros de atividade dentro das aldeias.

Venda legal - Considerados cidadãos brasileiros com todos os direitos e deveres desde a promulgação da Constituição de 1988, os índios têm o direito de comprar bebida alcoólica, substância lícita e de acesso a qualquer pessoa maior de 18 anos.

O procurador da República Álvaro Manzano destaca que a proibição da venda de álcool aos índios é uma opção altamente discriminatória e não deve ser cogitada. "É necessário que os índios assumam o protagonismo de suas vidas, o que inclui a sustentabilidade das aldeias e também a capacidade de lidar com problemas como o abuso de álcool".

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