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Conheça as Yarang: mulheres indígenas que trabalham pela regeneração das florestas do Xingu

Vogue Brasil, Sustentabilidade, p. 88-89
10 de Jun de 2021

Conheça as Yarang: mulheres indígenas que trabalham pela regeneração das florestas do Xingu
Depois de um ano isoladas por causa da pandemia, as mulheres Yarang voltam a se reunir para coletar sementes que restauram áreas desmatadas e garantem a sobrevivência dos rios

MARIA LAURA NEVES
05 JUN 2021

Yarang é o nome que os membros da etnia Ikpeng dão às formigas-cortadeiras, ou saúvas, aquelas que carregam pequenos pedaços de folhas, em fila, e aguentam até 20 vezes do próprio peso sobre o corpo. É também a palavra que escolheram para denominar um grupo de mulheres que se dedica a colher sementes de determinadas árvores típicas da bacia do Xingu para recompor áreas desmatadas.

Como as formigas, elas sabem ler os sinais da floresta para fazer esse trabalho. Usam uma sabedoria sagrada, transmitida de geração em geração, e que, nos últimos anos, passou a trazer também renda para as coletoras. "Nós, indígenas, só podemos sobreviver se a floresta estiver em pé. Mas o trabalho que a gente faz pelo ambiente beneficia também os brancos. O bem-estar da floresta é o bem-estar de todos nós", diz Magaró Ikpeng, 50 anos, uma das líderes do movimento, sobre o motivo de se dedicar à atividade.

As mulheres Yarang são um dos grupos que formam a Rede de Sementes do Xingu, projeto criado há 14 anos em parceria com o Instituto Socioambiental, uma organização não governamental que defende os direitos dos povos originários, que visa restaurar áreas desmatadas dentro do Parque Indígena do Xingu e nos seus arredores. O reflorestamento também é feito em áreas de nascente dos rios da bacia, em fazendas e assentamentos, para garantir a vida e a biodiversidade da região. As mulheres representam 65% da força de trabalho da Rede. Ao longo de sua existência, o projeto já restaurou 6,8 mil hectares de áreas desmatadas e gerou uma renda de R$ 4,4 milhões para as comunidades. À Vogue, Magaró conta que a coleta lhe garante uma renda de cerca de R$ 500 anuais. "É uma recompensa por algo que a gente já fazia naturalmente", completa.

Em geral, a coleta dura quatro meses e começa no mês de julho. As Yarang costumam sair juntas, uma vez por semana, para o trabalho dentro da mata. Depois de colhidas, as sementes transformam-se em "muvucas", uma mistura de diferentes espécies e areia que tem um poder de germinação por hectare até dez vezes maior do que o plantio de mudas tradicional.

O ano de 2021 será especial para as mulheres Yarang. Em 2020, as atividades foram suspensas em função da pandemia. "Recebemos a orientação de não aglomerar. Como nossa aldeia tem um trânsito muito grande de pessoas, fomos acampar no mato para não pegar o vírus. Mesmo isolados, tivemos alguns casos", conta a líder. Agora, com a população indígena vacinada, pretendem retomar a atividade.

Entre os ganhos do projeto, Magaró lista o contato com mulheres de outras etnias que vivem no Mato Grosso. "Nós não nos conhecíamos e, por causa da Rede, passamos a fazer um encontro de mulheres coletoras. Também conhecemos mulheres não indígenas, como as assentadas". Ao todo, o projeto conta com 568 coletores de sementes que vivem no Território Indígena do Xingu, em territórios indígenas Xavante, em cidades e assentamentos de agricultores familiares. "Quero que acabe logo essa pandemia para que a gente possa se encontrar novamente, para que a Rede aumente e que tenhamos mais áreas reflorestadas", diz Magaró, que repete a mensagem no fim da entrevista: "O bem-estar da floresta é o bem-estar de todos nós". Mais sábia, impossível.

Vogue Brasil, 10/06/2021, Sustentabilidade, p. 88-89

https://vogue.globo.com/Sustentabilidade/noticia/2021/06/conheca-yarang…

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