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Confronto entre índios e fazendeiros - Wilson Matos da Silva

Douradosagora - http://www.douradosagora.com.br/
Autor: Wilson Matos da Silva
28 de Jul de 2009

Como articulista, especialmente de nossa causa indígena, tenho a obrigação e o dever de alertar a sociedade em geral, notadamente aqueles que, de alguma forma estão envolvidos na questão da DEMARCAÇÃO, índios e não índios. A campanha maléfica que se faz em torno da questão, massificando o título em epígrafe, com acentuado destaque à palavra CONFRONTO e, ou "pode haver morte no campo".

São alguns políticos, "autoridades", Ongs e certas corporações que formam um bando de aves de mau agouro que estão a chalrear (profecia, prognóstico, vaticínio, predição, augúrio), estes, são os componentes do batalhão que apostam no "quanto pior melhor" e literalmente querem ver o circo pegar fogo, na espera de colher dividendos eleitoreiros.

Senão vejamos, confronto armado pressupõe grupos treinados e de posse de armas capaz de (lesar) a integridade física e colocar em risco de morte seu oponente. Nossas comunidades só poderiam participar de um confronto, se este fosse de almas, - em tempos pretéritos nem assim poderíamos já que negavam-nos também o direito de possuir ALMAS - jamais com armas! No interior das aldeias a pobreza, o abandono, a discriminação e o descaso, imperam.

Nós, índios, já estamos em guerra há décadas, e quase que derrotados! Só as sobreditas aves de mau-agouro não perceberam isso. Esses facínoras urubus que vivem no bem bom, à custa da desgraça do nosso povo conseguem profecias avassaladoras num momento tão complexo e de muita esperança do nosso povo já tão espoliado.

A nossa guerra é pela sobrevivência! Estamos em um fronte diuturnamente sendo atacados, pelo abandono do estado, pela discriminação da sociedade e pela indústria do índio, e, resistimos entrincheirados em nossas culturas, tradições e valores morais milenares, herança de nossos antepassados, herança que não foi inventariado pelo Judiciário, mas, inventariado pela oralidade de nossos ancestrais.

Nessas trincheiras resistimos bravamente às hordas inimigas, fruto do descaso do estado, dos políticos e das sanguessugas da causa indígena, quais sejam: a fome, a desnutrição, a violência crescente nas aldeias, causas que fatalmente culmina com o maior flagelo de nossas comunidades na região da Grande Dourados, o SUICÍDIO dos nossos jovens.

Até quando o Governo Federal vai manter esta política indigenista arcaica, obsoleta e ultrapassada, com apadrinhados políticos no comando realizando experiências como se fossemos ratos de laboratórios? Comungo o entendimento do professor doutor Antonio Brand - "A Funai tem se omitido muito. Durante todo o ano passado ela esteve quieta, quando deveria ter esclarecido à opinião pública, mas não o fez. Estamos na expectativa para esse ano, mas até agora está tudo parado. A Funai tem uma presença muito fraca, frágil aqui na região e por isso é facilmente subjugada. Sua presença deveria ser mais forte e qualificada, com mais advogados e presença na imprensa, mas até agora não vimos isso por aqui" parte da entrevista 15/07/2009 rede de educação cidadã www.recid.org.br

As "autoridades" que estão vendo risco de conflitos estão completamente enganadas, já que as nossas comunidades estão muito ocupadas resistindo a agruras das exóticas e mal fadadas políticas públicas dos governos Federal, Estadual e Municipal, idealizadas, debatidas, elaboradas e "executadas" por apadrinhados políticos sem nenhum conhecimento do dia-a-dia de nossas comunidades.

Se alguém desejar um confronto, deverá fazê-lo contra o estado, até por que, essa terra, uma vez declarada de ocupação do nosso povo, imediatamente se torna bens da união, aos nossos povos importa apenas ser índio, e isso não é crime não é ser contra ninguém. É ser a favor da dignidade da pessoa humana. Esta dívida histórica há que ser reparada e com muita urgência. Cabe àqueles que tem esperança de estancar este processo genocida a tarefa de levantar o povo brasileiro e despertar a consciência cívica da nação para o cumprimento - Art. 67 ADCT) - da demarcação das terras indigenas. A omissão será cobrada pela história de forma implacável.

Em pleno século XXI, é inconcebível que a sociedade possa admitir, centenas de crianças índias padecendo às margens da rodovia sem direito à educação, Saúde, moradia, segurança e o que é pior sem direito de ser criança. No passado não tão distante, Aldeamentos inteiros foram incendiados, para dar lugar a bois, muitas crianças indefesas foram carbonizadas em suas próprias ocas. Títulos de posse foram fabricados na calada da noite, inclusive com falsa cadeia dominial.

Nó os índios recusamos o desaparecimento da vida, em vida! Estamos a olhar para frente e não vemos futuro! Olhamos para os lados, pobreza, indigência, miséria, confinamento, exploração, fome, alcoolismo, desemprego, aculturamento, prostituição, preconceito. Olhamos para trás e recordamos pela oralidade de nossa história, tempos idos em que éramos gente, pois toda gente tem o direito de
viver.

Estas aves de mau agouro, componentes da indústria do índio são os ditos "civilizados" irascíveis e embrutecidos, preocupados com o próprio umbigo, membros de uma civilização decadente e assassina, aprendiz da guerra, apologista da insensibilidade ao próximo. Precisam educar os seus espíritos para aprender com nós os índios que a vida é a imanência da natureza, e, portanto não vale a pena ser vivida a não ser com paz, liberdade e justiça.

*É Índio residente na Aldeia Jaguapirú, Advogado, presidente da (CEAI OAB/MS), Diretor Regional do ODIN (Observatório Nacional de Direitos indigenas no MS), E-mail matosadv@yahoo.com.br

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