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Conflito agrário: MT faz 1º júri por morte de índio

Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: Rose Domingues
10 de Nov de 2004

Pela primeira vez na história de Mato Grosso a Justiça Federal julga alguém pela morte de um índio durante um conflito por posse de terra. Como o processo foi desmembrado pelo juiz federal Cesar Augusto Bearsi, o mecânico Sebastião Gonçalves Bastos foi julgado separadamente durante todo o dia de ontem por formação de quadrilha e assassinato do índio Yaminerá Suruí, 70 anos à época, cujo corpo depois de ser alvejado com dois tiros ainda foi carbonizado pelos capangas contratados por posseiros, no intuito de dificultar a sua identificação. O fato ocorreu no dia 16 de outubro de 1988, na Reserva Indígena Zoró, município de Aripuanã, divisa com o Estado de Rondônia.

Também são denunciados por colaborar com a emboscada contra o povo Suruí, que resultou na morte de Yaminerá, José Antônio da Silva, Sadi Francisco Tremea, Antônio Lopes da Silva, Cloves Alves de Almeida e Elci Ferreira Radis. Nos autos consta que os indiciados se defendem das acusações alegando não existirem provas que os liguem à morte do índio.

Entre as testemunhas arroladas pela acusação estavam funcionários da Funai, índios e lavradores. A defesa arrolou funcionários da Prefeitura de Colniza; além de um lavrador que também colaborou com a acusação. Dos oito convocados, apenas dois não compareceram. Além de Bastos, outras duas pessoas também faziam parte do bando de pistoleiros, que estão foragidos. Até o fechamento desta edição, às 19h, o julgamento não havia terminado.

Neto presenciou a morte do avô

O neto do índio assassinado, Henrique Iabanday, 38, que fala a língua portuguesa, afirma que estava no local onde ocorreu a emboscada, no ano de 1988. Ele explica que estavam ocorrendo frequentes invasões de posseiros nas Reserva Indígenas do Zoró e do Suruí, ricas em madeira de lei e minério. "Naquele dia, os homens da tribo se organizaram e foram conversar com os posseiros. Não esperávamos por uma emboscada no trajeto de volta, mas fomos surpreendidos".

De acordo com Iabanday, tudo aconteceu muito rápido, dois veículos Toyota chegaram com homens armados e começaram a disparar contra eles. Como o avô dele encontrava-se no primeiro grupo foi o primeiro a ser atingido. "Os mais jovens, como eu, correram para o mato para se salvar".

Durante a entrevista, ele se emociona e pede que a justiça seja feita. Narra outras mortes de parentes, todas motivadas por conflitos de terra na região que ele considera bastante perigosa e sem lei. "Essas pessoas ainda não foram punidas porque estão acobertando gente importante, políticos e fazendeiros". Mesmo assim, ele considera uma vitória um dos executores do avô no banco dos réus. Oito índios Suruís acompanharam o julgamento de Sebastião no Hotel Paiaguás.

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