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Conferência transforma clima da cidade

Estadão - http://www.estadao.com.br/
Autor: Clarissa Thomé e Antonio Pita
17 de Jun de 2012

Índios espalhados pelo Rio e manifestações individuais e de ONGs marcam o evento

RIO - Sábado, 8h30. A caminho do trabalho, a representante de vendas Marcela Bastos surpreende-se com o metrô um pouco mais cheio do que o normal. E leva susto maior ainda ao entrar no vagão: dezenas de índios se espalham pela composição.

Com trajes típicos, alguns carregam instrumentos, arcos, flechas e cordões de miçangas. Em um canto, um grupo balança os chocalhos e dança, entoando cantigas tradicionais. A música logo toma conta do metrô e é repetida por outros indígenas.

Desde que desembarcaram na cidade, há dois dias, os índios de diferentes etnias, que vieram participar da Cúpula dos Povos, transformaram seus cocares multicoloridos numa espécie de marca registrada da Rio+20.

Misturados à população carioca, estão mudando a rotina da cidade. Assim como outros personagens, dão um ar de festa aos dias em que o Rio se transforma no centro do debate ambiental.

Vestido de "homem-floresta", o montador de máquinas José Geraldo da Silva, de 52 anos, foi o centro das atenções ontem, no Aterro do Flamengo, onde está montada a Cúpula dos Povos. Mineiro da cidade de Pedra Azul, ele diz que há 12 anos se cobre de galhos e folhas em eventos para chamar a atenção das pessoas para a preservação da natureza. Mal sabe o que está sendo discutido há alguns quilômetros dali, no Riocentro. Nem tem interesse em saber. "Quero que as pessoas olhem para a natureza."

Enquanto uns se esforçam para chamar a atenção, a indígena Enildes Santos, de 20 anos, tupinambá de Ilhéus (BA), preferiria ter passado despercebida. Enildes conta que não gosta das brincadeiras de que tem sido alvo. "Eles ficam mangando da gente, tapando a boca com a mão e fazendo bu-bu-bu. E onde quer que a gente vá, eles tiram fotos. Foto não vale nada, pode tirar, mas não gosto que fiquem mangando", queixou-se, usando o termo regional para zombaria.

Clima. Copacabana amanheceu com um cenário diferente na areia: a reprodução de barracos de uma favela, instalação feita pela ONG Rio de Paz, conhecida por fincar cruzes na areia em atos contra a violência urbana.

Os três barracos cenográficos tinham até "quintal", com roupas no varal, vala negra e ratos, além de um saco plástico preto recobrindo um monte de areia, representando um corpo. "Estamos dizendo para os governantes que queremos metas claras para o desenvolvimento social e o combate à desigualdade", afirmou o coordenador da ONG, Antônio Carlos Costa.

A manifestação atraiu curiosos, mas não agradou a todos. "Os gringos querem ver nossas belezas, não nossas tristezas", queixou-se uma senhora que caminhava no calçadão. Para Priscila de Paula, de 24 anos, moradora da Favela do Mandela, a comunidade cenográfica não era uma representação perfeita. "Tem pouco rato", brincou.

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