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Compra de mina por siderúrgica está em alta

OESP, Economia, p. B15
20 de Abr de 2008

Compra de mina por siderúrgica está em alta
Ganhos de competitividade com verticalização reforçam tendência

Alberto Komatsu
Rio

A alta do preço do minério de ferro e os ganhos de competitividade com a verticalização estão fazendo o movimento de siderúrgicas rumo à aquisição de minas de minério de ferro entrar numa curva ascendente. A avaliação é de especialistas em mineração. Segundo eles, essa estratégia começou a tomar corpo nos últimos quatro anos com as usinas estrangeiras, que começaram a investir em regiões com abundância de oferta de insumos, como o Brasil.
No ano passado, lembra o especialista em mineração Germano Mendes de Paula, as siderúrgicas responderam por 26% da produção de minério de ferro em todo o mundo, sendo que essa relação foi de 12% nos países em desenvolvimento.
"Quando uma siderúrgica olha e vê que a maioria das competidoras tem uma vantagem comparativa (mina de ferro), e ela vê que não tem, enxergam que precisam reduzir essa desvantagem", afirma Mendes de Paula.
0 especialista, também professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, afirma que esse movimento não é de hoje, mas se intensificou nos últimos quatro anos . "A onda de verticalização não tem sido linear. Ela estava numa curva descendente, que nos últimos anos se transformou em ascendente", acrescenta.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi a pioneira entre as usinas brasileiras a manter uma .mina de minério de ferro, a Casa de Pedra, em Minas Gerais. Segundo o último relatório de resultados da empresa, de 2006, a jazida produziu 13,5 milhões de toneladas naquele ano, sendo que 50% disso foi consumido pela CSN.
0 grupo Gerdau/Açominas tem planos ambiciosos de extração de minério de ferro para consumo próprio. A empresa informa que, neste ano, 30% da sua demanda por minério de ferro será suprida por reservas próprias.
No ano que vem, a relação de verá passar para 45%. Em 2010, a Gerdau estima que esse porcentual seja de até 80%. Suas reservas em Minas Gerais estão estimadas em 1,8 bilhão de toneladas de aço nas jazidas de Miguel Burnier, Várzea do Lopes, Gongo Soco e Dom Bosco, compradas da siderúrgica Barra Mansa, controlada pelo grupo Votorantim.
O grupo Gerdau já aplicou US$ 90 milhões em suas reservas e reservou mais US$120 milhões para esse fim nos próximos dois anos.
"O setor siderúrgico fez um hedge (proteção) para compensar a alta de seus custos", afirma o ex-presidente da mineradora BHP no Brasil e especialista em mineração, Wilson Brumer. Segundo ele, contribuiu para o movimento de aquisições de minas de ferro a alta do preço do minério, que mudou a avaliação do que é um bom ativo.
"O patamar de qualidade do minério de ferro mudou muito ao longo dos anos. As empresa buscam agora minério de ferro com qualidade inferior", afirma Brumer. Questionado se ainda há bons ativos no Brasil que podem despertar mais interesse de siderúrgicas, Mendes de Paula tem avaliação parecida com a de Brumer. "A lógica do bom ativo tem mudado muito.
Há quatro anos, uma mina considerada intermediária ou ruim hoje é tida como boa", afirma.
No início de fevereiro, a Usiminas anunciou a comprada mineradora J. Mendes por US$ 925 milhões. Estima-se que a compravas atendera 84% da necessidade de minério de ferro da Cosipa, controlada pela Usiminas.
Os investimentos programados para a J. Mendes são da ordem de US$ 750 milhões. Sua capacidade de produção deverá mais do que dobrar, das atuais 6 milhões de toneladas por ano para 13 milhões de toneladas anuais nos próximos cinco anos.
O grupo EBX, do empresário Eike Batista, está promovendo um movimento inverso, ao vender ativos de mineração para grupos siderúrgicos estrangeiros. A empresa já vendeu, em janeiro, parte de suas ações em dois complexos de mineração para a Anglo American por US$ 5,5 bilhões.
São os sistemas Minas-Rio e Amapá. Em recente entrevista, Eike Batista informou que seu outro ativo de mineração, o sistema Corumbá, atraiu o interesse de outro grupo estrangeiro, cujo nome não revelou.

OESP, 20/04/2008, Economia, p. B15

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