VOLTAR

Com comida grátis, ato protesta contra fim de conselho

FSP, ilustrada, p. C3
27 de Fev de 2019

Com comida grátis, ato protesta contra fim de conselho no governo
Extinto, Consea tinha participação popular e atuava para formular políticas públicas de alimentação

Marília Miragaia
SÃO PAULO

No horário do almoço desta quarta-feira (27), quem estiver de passagem pela praça da República, em São Paulo, poderá provar de graça cuscuz paulista, arroz de pancs (plantas alimentícias não convencionais), vinagrete de feijão e farofa e pratos preparados por cozinheiros conhecidos, entre eles Bel Coelho (do Clandestino) e Marie-Henry France (do La Casserole).
Pode não parecer, mas é um protesto. O Banquetaço quer reivindicar o retorno do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), extinto em uma medida provisória no início de janeiro.
Ligado à Presidência, o órgão articulava setores do governo e representantes da sociedade civil para formular e monitorar políticas públicas relacionadas à alimentação.
"O conselho é importante do ponto de vista político e técnico. Se existirem críticas, o melhor seria chamar a sociedade para rediscutir o formato", diz Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor de administração pública da FGV (Fundação Getulio Vargas).
O ato desta quarta, feito com doações, deve ocorrer em quase 40 municípios de 20 estados e oferecer 15 mil refeições gratuitas. A rede realizou, entre outras ações, uma em 2017 contra o uso da farinata na merenda de escolas de São Paulo.
A mobilização é também pela "manutenção de iniciativas exitosas, como o combate à fome, a redução de agrotóxicos e a rotulagem do transgênico", explica Glenn Makuta, membro do Slow Food São Paulo.
Isso porque a articulação para que essas medidas se concretizem era uma das funções do Consea. O órgão surgiu em 1993 no governo de Itamar Franco, em um momento de intensa atuação de movimentos populares, como os liderados por Betinho e dom Mauro Morelli em combate à fome.
O conselho era composto por dois terços de representantes da sociedade civil, com cargos que não eram remunerados -exceto passagens e diárias para custear a participação de plenárias, segundo Elisabetta Recine, professora do departamento de nutrição da UnB (Universidade de Brasília) e última presidente do órgão.
Faziam parte do Consea instituições como o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a Ação da Cidadania, o instituto Alana e representantes de grupos de pescadores, povos indígenas, catadores de material reciclável, além de especialistas em assuntos ligados à atuação do órgão, como nutrição.
Elisabetta, que também participa do Banquetaço, afirma que, com o resultado da eleição presidencial do ano passado, o Consea entregou um documento à equipe de transição do presidente Jair Bolsonaro com a análise de resultados alcançados, prioridades e pontos mais críticos da política pública de segurança alimentar e nutricional.
Entre esses pontos, está a manutenção de programas de agricultura familiar e de cisternas no semiárido. Segundo representantes, o órgão não obteve resposta.
Questionado se as funções e representações do Consea seriam reabsorvidas por outras áreas do governo, o Ministério da Cidadania afirmou que "o Consea, bem como os demais conselhos vinculados à Presidência da República, foi extinto. Foram mantidas todas as competências que havia nos conselhos, mas agora em outros órgãos. A partir dessa forma de organização, a entrega governamental se tornará mais célere".
Para o sociólogo Carlos Alberto Dória, contudo, o conselho tem um caráter consultivo que "permite ao governo sentir a sociedade, optar por ir nessa ou naquela direção". Com essas funções distribuídas em outros órgãos, "já se fala: vamos fazer um Consea sem governo?", diz.
BANQUETAÇO
- Quando Qua. (27), das 11h às 15h
- Onde Praça da República, São Paulo
- Mais Programação de outras cidades em facebook.com/banquetaco.nacional
-

FSP, 27/02/2019, ilustrada, p. C3

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/02/ministerio-do-ambiente-q…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.