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Cobrança de multas pode zerar desmatamento ilegal

FSP, Agrícola, p. 13
22 de Ago de 2007

Cobrança de multas pode zerar desmatamento ilegal
Eficiência de arrecadação do Ibama precisa aumentar 28 vezes, diz pesquisador
Análise do Imazon sugere que o órgão ambiental só precisaria cobrar 70% das multas que aplica para inviabilizar corte criminoso

Eduardo Geraque
Da reportagem local

Em tese, a receita para zerar o desmatamento ilegal na Amazônia é trivial. Basta aumentar em 28 vezes a eficiência de arrecadação de multas emitidas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que hoje é de 2,5%.
A análise, apresentada na semana passada ao próprio governo, é de Paulo Barreto, da ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), sediada em Belém.
"Para aumentar a eficiência de arrecadação basta melhorar o departamento jurídico. Muitas das multas hoje não são recebidas porque não se consegue acompanhar adequadamente esses processos, que são muitos", explica Barreto.
Entre agosto de 2004 e agosto de 2006, o Ibama emitiu, segundo números oficiais, 19.762 multas. O que renderia, se todas tivessem sido pagas, R$ 4,97 bilhões ao órgão.
Pelas estimativas de Barreto, nem precisava que a eficiência de arrecadação chegasse aos 100%. Com 70% (28 vezes mais que os 2,5% atuais) já haveria a queda total no desmatamento ilegal feito hoje na Amazônia.
A lógica de Barreto é que, tendo certeza de que vai sentir a punição no bolso, o criminoso ambiental conclua que sai mais barato cumprir a lei.
"O valor esperado de lucro pelo hectare de terra desmatado hoje é, em média, de R$ 1.500. Uma perda de 30% desse valor [devido a multas] já basta para desestimular o desmate", estima Barreto.
Como hoje o desmatamento médio ilegal anual atinge 2 milhões de hectares, o esforço de fiscalização do Ibama é suficiente, em tese, para arrecadar mais que R$ 700 por hectare. "Portanto, com R$ 500, ou 70% mais ou menos, o problema estaria resolvido", diz.
De acordo com Barreto, o aumento de 25 vezes no esforço de fiscalização do Ibama também seria suficiente para parar com todo o tipo de derrubada florestal fora da lei. No entanto, é a via de ação mais cara.
Segundo o Ibama, o instituto gastou no ano passado R$ 42 milhões com a fiscalização da Amazônia. O que significa que a quantia ideal para a fiscalização amazônica, multiplicada por 25, seria de R$ 1,05 bilhão. Isso é praticamente todo o orçamento do órgão.

Subsídios perversos
Barreto também defende que o governo corte o que ele chama de subsídios perversos.
"Hoje, existem 42 milhões de hectares na Amazônia que são de proprietários que ocuparam a terra, pediram a legalização dela aos órgãos competentes, mas até agora não regularizaram nada", diz o pesquisador.
Esse processo, que já dura até 20 anos em alguns casos, se enquadra na mesma lógica da eficiência das multas, diz Barreto.
"A pessoa usa a terra e também não paga nada. Desmatar, claro, fica bem mais barato."

Mãozinha invisível: Commodities em queda frearam devastação, diz ONG

O esforço de fiscalização do governo federal, se fosse tão eficiente assim, deveria praticamente fazer zerar o desmatamento na Amazônia. Isso, de acordo com Paulo Barreto, do Imazon, era perfeitamente possível, por causa também do baixo preço de commodities como a soja e o boi. Para ele, o mercado tem influenciado fortemente na flutuação dos índices de desmatamento, que deve cair mais de 30% em 2007. Um gráfico construído pelo pesquisador mostra que entre 1994 e 2006, quase todas as vezes que o preço do boi caiu, os índices de desmate da Amazônia também sofreram quedas semelhantes. O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, diz que a análise de Barreto é "instigante, mas genérica demais".

FSP, 22/08/2007, Agrícola, p. 13

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