FSP, Cotidiano, p. B5
03 de Fev de 2018
Com seca severa, Cidade do Cabo já se prepara para 'dia zero' de água
Região sul-africana pode declarar restrição severa em menos de 3 meses
Norimitsu Onishi
Somini Sengupta
Soa como um blockbuster de Hollywood: o "dia zero" vai chegar à Cidade do Cabo, na África do Sul, em abril. População, fique de sobreaviso.
O governo explica que o dia zero será pior do que qualquer coisa que qualquer grande cidade do mundo enfrenta desde a Segunda Guerra Mundial ou que os ataques de 11 de setembro de 2001.
A polícia sul-africana está se preparando, porque a previsão é que "o policiamento normal será totalmente insuficiente". Com os nervos cada vez mais à flor da pele, moradores falam em voz baixa sobre o caos que se aproxima.
A razão do medo é simples: as reservas de água da cidade estão perigosamente perto de se esgotar.
Se o nível de água continuar a cair, a Cidade do Cabo vai declarar dia zero em menos de três meses. As torneiras dos imóveis residenciais e comerciais serão desligadas enquanto não chover. Os 4 milhões de habitantes da cidade terão que fazer fila para buscar cotas de água em 200 pontos de coleta. A cidade se prepara para um impacto sobre a saúde pública e a ordem social.
"Quando o dia zero chegar, vão ter que chamar o Exército", disse Phaldie Ranqueste depois de encher seu grande SUV com galões de água colhida numa fonte natural diante da qual se formara uma fila longa e ansiosa.
ESTIAGEM
Essa situação não estava nos planos para a Cidade do Cabo, conhecida pela política ambiental forte, incluindo a gestão cuidadosa de água. A cidade fica numa região do mundo cada vez mais seca.
Mas, após uma estiagem que já dura três anos, a pior em mais de um século, as autoridades sul-africanas dizem que a Cidade do Cabo corre o risco sério de se tornar um dos poucos grandes centros urbanos do mundo cuja população e locais públicos deixarão de ter água nas torneiras. Hospitais, escolas e outras instituições vitais ainda terão água, mas o racionamento será intensivo.
Os problemas da Cidade do Cabo exemplificam um dos grandes perigos da mudança climática: o risco crescente de secas extensas e recorrentes. Na África, continente especialmente vulnerável aos efeitos da mudança climática, esses problemas servem de alerta a outros governos, que não possuem os recursos dessa cidade e fizeram pouco até agora para se adaptar.
As lideranças políticas da Cidade do Cabo falam em unir-se para "derrotar o dia zero". Enquanto o nível dos reservatórios continua a cair, a cidade corre contra o tempo para construir estações de dessalinização e aumentar a extração de água de poços artesianos. A partir de fevereiro os moradores enfrentarão multas maiores se excederem seu novo limite diário de consumo, que cairá de 87 para 50 litros por pessoa por dia.
Dois anos atrás a situação parecia muito diferente. Em 2014, após anos de chuvas boas, os reservatórios estavam cheios. No ano seguinte, o Grupo C40 (de cidades de todo o mundo que estão combatendo a mudança climática) deu à Cidade do Cabo seu prêmio de "implementação de adaptação", reconhecendo sua boa gestão da água.
A Cidade do Cabo foi descrita como uma das principais cidades verdes do mundo, e a Aliança Democrática -partido que governa a cidade desde 2006- se orgulhou de seu trabalho com a sustentabilidade e o ambiente.
Os prêmios e menções reconheciam o sucesso da cidade na conservação de água. Apesar de a população ter crescido 30% desde o início do século, o consumo total de água permaneceu igual. Muitos dos novos habitantes se fixaram nos bairros pobres, que usam menos água. O consumo total per capita caiu.
FSP, 03/02/2018, Cotidiano, p. B5
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/02/com-seca-severa-cidade-…
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