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Ciclos de cheias e secas tornam vida incerta para ribeirinhos da Amazônia

Globo Amazônia - www.globoamazonia.com
17 de Set de 2010

É pelas ondas do rádio que o ribeirinho recebe recados, ouve notícias, sabe quando o rio vai começar a encher.

Num lugar onde não há telefone e o correio não chega, para algumas pessoas, o rádio é a única fonte de informação. "Nós não temos televisão, só tem o rádio. Então, é um meio de a gente saber todas as notícias que passam, o que está acontecendo no mundo inteiro. E aí a gente fica informado de tudo", diz a agricultora Marlene Guedes.

A vida em ciclos de cheias e secas faz com que o homem da várzea não tenha vínculos com um lugar específico, mas com esse ambiente de um modo geral. O futuro incerto demais não permite grandes planos. O que mais interessa para eles é o dia de hoje. Pesquisadores desse modo de vida afirmam que as águas não levam apenas as roças, mas muitas lembranças das famílias.

Dona Marlene mora com o marido e os cinco filhos no igarapé do Amparo, num dos braços do Rio Solimões. A família vive aqui há dez anos, quando foram tiradas essas fotos, já desgastadas.

Muitas famílias são expulsas pelo avanço das erosões nos barrancos, porque rios viram praias ou porque ele desvia o curso e o caminho fica mais longo. Por isso, é frequente a mudança de endereço de comunidades inteiras. Maguari é exceção. Está no mesmo lugar há mais de 30 anos. Todos os dias, no fim da tarde, é hora de ver televisão, mesmo que o barulho do gerador de energia atrapalhe um bocado.

Aqui os moradores têm forte relação de parentesco, quase todos são da família Pereira. Dona Maria é a presidente da comunidade. Coisa rara por aqui ter uma mulher como líder. Mães e pais têm o mesmo cuidado.

"Esses aqui não tem época não. Cresceu um pouquinho, já vai nadar. Preocupação é assim: cai uma criança dentro d'água a gente não tá vendo, né? Não é todo minuto, segundo que a gente pode cuidar. Por um descuido, cai na água e não sabe vir para cima para nadar e tem que morrer", afirma Maria Pereira.

Por isso, aprender a nadar desde muito cedo é tão importante na várzea.

Durante a cheia, a canoa é a única forma de os alunos chegarem à escola, seja com os pais ou sozinhas. Francinilde Alfaia Pereira tem quatro filhos e está grávida do quinto. Ela quer um futuro melhor para as crianças. "A gente traz eles que é pra eles aprenderem cada dia mais, que hoje em dia tudo a gente só consegue através dos estudos", diz.

Nas aulas, a garotada fica animada e atenta aos ensinamentos passados pela professora. Tanto na cheia quanto na seca, tudo gira em torno da água. Por isso, a brincadeira é dentro do rio mesmo, ou na lama, num jogo de vôlei no fim da tarde.

Coisas da várzea da Amazônia. Difícil acreditar que o campo submerso, de onde só se viam as traves, seis meses depois, é o lugar de lazer dos ribeirinhos. Times de várias comunidades se enfrentam em jogos amistosos. É o futebol que une brasileiros de todos os cantos do país.

http://www.globoamazonia.com/Amazonia/0,,MUL1618950-16052,00-CICLOS+DE+…

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