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Cerrado preserva a flora da mata atlantica

OESP, Vida, p.A12
23 de Dez de 2004

Cerrado preserva a flora da mata atlântica
A biodiversidade da floresta costeira pode estar garantida nas veredas do interior do Brasil. Cerca de 45% de suas espécies são originárias do litoral
Evanildo da Silveira
A conservação da biodiversidade da mata atlântica pode estar no cerrado. Pode parecer inusitado, mas a explicação é simples. Um estudo de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) descobriu que os dois biomas compartilham grande parte das espécies. Como o cerrado está mais preservado - tem de 20% a 40% de sua área ainda intacta, ante os 7% da mata atlântica -, grande parte da flora já extinta na floresta do litoral ainda sobrevive nas veredas e nos cerradões do interior do País.
A pesquisa da UnB mostrou que, ao contrário do que os cientistas pensavam, a maioria das plantas do cerrado não é exclusiva dessa região. Apenas 41,1% da vegetação é endêmica de lá. O restante é originário da mata atlântica (44,8%), da floresta amazônica (1,4%) ou de ambas (12,7%).
Para chegar a esses números, os pesquisadores estudaram 290 árvores e arbustos de 12 localidades do cerrado. Eles descobriram ainda que as espécies desses biomas vizinhos vão rareando à medida que se avança cerrado adentro, a partir de suas bordas. As amazônicas penetram até 700 quilômetros. As plantas da mata atlântica, por sua vez, são encontradas em todo o cerrado, mas em menor número no centro.
CONSERVAÇÃO
Para um dos coordenadores da equipe, Raimundo Henriques, do Departamento de Ecologia da UnB, os resultados do trabalho têm grande importância do ponto de vista da conservação da mata atlântica. "Essa floresta já foi quase totalmente destruída, restando apenas 7% da sua área original", diz Henriques. "Já não é possível conservar a biodiversidade da floresta atlântica além das atuais áreas intactas."
Graças à pesquisa, no entanto, surge a possibilidade de preservar espécies já desaparecidas da mata atlântica, conservando áreas de cerrado onde elas ainda existem. Das 290 espécies estudadas, 130 são originárias da mata atlântica, 4 da Amazônia, 37 de ambas e 119 são exclusivas do cerrado.
Os pesquisadores também tentaram descobrir as causas da grande diferença que encontraram entre o número de plantas da mata atlântica e da floresta amazônica no cerrado. Henriques explica que há basicamente dois processos responsáveis pela composição da flora de uma região. Um deles é a especiação intra-regional (dentro da própria área), ou seja, a espécie se origina e evolui no mesmo local. O outro é intercâmbio por dispersão entre biotas adjacentes (isto é, o conjunto de espécie existentes em determinada região), como as florestas amazônica e atlântica, que é importante mecanismo regulador da riqueza de espécies nas diversas regiões do planeta. Esse processo depende, porém, das configurações geográficas e de eventos históricos de determinada região.
No caso do cerrado, as explicações para o fato de ele possuir muito mais espécies da mata atlântica do que da Amazônia estão ligadas às mudanças climáticas no passado, principalmente nos últimos 60 mil anos. Em pelo menos três ocasiões (entre 50 mil e 40 mil e 19 mil e 7 mil anos atrás), o clima foi mais frio e seco na região do cerrado.
Segundo Henriques, isso favoreceu as espécies da mata atlântica, mais acostumadas a ambientes assim. "No caso das plantas amazônicas, além de não estar adaptadas a climas mais frios e secos, elas são menos resistentes a queimadas, comuns no cerrado", explica. Por isso, são em menor número nesse bioma”.

OESP, 23/12/2004, p. A12

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