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Cerrado de coração aberto

CB, Cidades, p. 25
15 de Mai de 2009

Cerrado de coração aberto
Uma das maiores atrações naturais do Centro-Oeste, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros retoma funcionamento, após 13 dias fechado em virtude da interrupção dos serviços básicos de limpeza

João Campos

Um erro administrativo mantém as portas do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros fechadas há 13 dias. Localizado no município de Alto Paraíso (GO), a 260 km de Brasília, o lugar conhecido pela rara beleza natural não recebe visitantes por causa do vencimento do contrato com servidores da limpeza. Informações do Instituto Chico Mendes (ICMBio), responsável pela administração, garantem que a unidade de conservação volta a funcionar amanhã, com entrada gratuita. A suspensão temporária da cobrança de ingressos (R$ 3) faz parte do pacote de mudanças previstas para o local. A partir de julho, visitantes encontrarão novas trilhas e a contratação de guias não será mais obrigatória.

Desde 2007, com a criação do ICMBio para gerir unidades de conservação do país, a responsabilidade pelo Parque Nacional deixou de ser do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). Com a mudança, os contratos com as dezenas de servidores do espaço, responsáveis pela limpeza, segurança e alimentação, deveriam ser renovados pela nova administração. No início de maio, no entanto, cinco funcionários da limpeza deixaram o serviço por causa do vencimento do acordo. "Foi uma falha de ambos os lados (do ICMBio e do Ibama)", afirmou o diretor do parque, Daniel Borges. "Nós deveríamos ter acompanhado o prazo, mas eles poderiam ter nos avisado. Faltou comunicação."

Segundo o analista ambiental, a contratação de uma nova firma de limpeza já se encontra em fase de licitação, mas só deve ser concretizada no fim do mês. Para não prejudicar o turismo e a economia locais - segundo dados da Secretaria de Turismo de Alto Paraíso (GO), o parque é o principal atrativo para os visitantes -, a diretoria fez um contrato de urgência para reabrir as portas amanhã. "Foi uma falha durante a troca de gestão. Não podíamos receber pessoas com banheiros imundos", justificou Borges, que terá dois funcionários para limpar o local. A única mudança nos passeios será a suspensão temporária da cobrança de ingressos, conforme portaria publicada ontem no Diário Oficial da União.

Segundo o diretor do parque, a entrada deve permanecer gratuita pelo menos até julho. O acesso livre servirá para concentrar os esforços dos funcionários na implantação da nova estrutura de atendimento e serviços do lugar (veja quadro). "Hoje, eu mesmo, que sou analista ambiental, faço papel de bilheteiro. Vamos nos organizar melhor para essa nova fase", contou. O fechamento inesperado pegou de surpresa muitos turistas, como a analista legislativa Heloísa Lustosa, 50 anos, que criticou a falta de organização dos órgãos do governo federal. "Há mais de um ano houve a troca da administração. Quem vem para a Chapada quer conhecer o parque", comentou a moradora de Brasília.

Mudanças
Para representantes de guias e pousadas da região, o impacto pela suspensão dos serviços só não foi maior por ter ocorrido em baixa temporada. "Setenta por cento dos nossos hóspedes procuram os passeios do parque. Não sabemos ao certo o prejuízo, mas estamos ansiosos para a reabertura", afirmou Carolina Melo, diretora administrativa da pousada Casa das Flores, na Vila de São Jorge (onde fica a entrada do parque, a 36 km de Alto Paraíso). A presidenta da Associação de Guias Servitur, Georgina Rosa, afirmou que a opção para não deixar turistas sem programação foi explorar os outros 50 pontos turísticos fora da unidade. "Temos muitas opções, mas o parque faz muita falta para nós", observou Rosa.

Apesar dos transtornos, o anúncio de melhorias na estrutura e nos serviços oferecidos pelo Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros entusiasmou a população local. Em reunião com representantes da prefeitura, guias e comerciantes, a Secretaria de Turismo de Alto Paraíso (GO) e o ICMBio apresentaram a primeira proposta para as mudanças no espaço. "Teremos profissionais mais bem preparados, mais opções de trilhas e, em alguns casos, a contratação de guias não será obrigatória. Será um espaço mais democrático", afirmou o secretário Fernando Couto. As alterações, ainda em debate, devem começar em julho. "Teremos um novo parque, melhor para todos", concluiu o diretor Daniel Borges.

Para saber mais
Santuário preservado

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, criado em 1961, protege uma área de 65.514 hectares do cerrado de altitude, a 260 km de Brasília. São diversas formações vegetais nativas, centenas de nascentes e cursos d'água, rochas com mais de 1 bilhão de anos e paisagens que mudam conforme a estação. O parque, administrado pelo Instituto Chico Mendes - vinculado ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) - também preserva áreas de antigos garimpos, como parte da história local, e foi declarado Patrimônio Mundial Natural pela Unesco, em 2001. Além da conservação, a área, dividida entre os municípios de Cavalcante (GO) e Alto Paraíso (GO), tem como objetivos a pesquisa científica, a educação ambiental e a visitação pública. Caminhadas por antigas rotas usadas por garimpeiros e banhos de cachoeira são as principais atividades turísticas na unidade de conservação. Ao longo da estrada de acesso (GO-239), é possível observar o Morro da Baleia (no formato do animal) no Km 18 e as Veredas do Jardim de Maytrea, no Km20. Da GO-118, avista-se o ponto mais alto de Goiás, com 1.676 m, no mirante do Pouso Alto. O parque funciona de terça-feira a domingo, das 7h às 18h, e tem capacidade para receber até 450 pessoas por dia. Mais informações: (62) 3455-1116.

O que vai mudar?

As mudanças na estrutura e nos serviços do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros começam a partir de julho. Confira as principais alterações:

Novas opções de trilhas
Hoje são dois passeios, de aproximadamente 12 km de caminhada. Há a previsão da abertura de novas trilhas, inclusive para cadeirantes e idosos, além de opções mais longas, como um percurso de 18 km com pernoite em um camping selvagem.

Obrigatoriedade de guias
Hoje a contratação de guias é obrigatória, no valor médio de R$ 80. Com as mudanças, haverá sinalização específica em parte das trilhas, o que permitirá aos visitantes caminhar sozinhos.

Formação dos guias
Hoje muitas pessoas chamadas de guias são, na verdade, condutores de visitantes, pois não possuem formação adequada para o cargo. Investimentos na capacitação desses servidores vão melhorar o repasse de informações importantes, como o conhecimento das trilhas e as noções de primeiros socorros.

Preço do ingresso
Hoje o bilhete de entrada custa R$ 3. O valor, empregado na manutenção do parque, deve variar de acordo com o passeio. O preço máximo deve ficar na casa dos R$ 7.

CB, 15/05/2009, Cidades, p. 25

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