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Cenário olímpico cercado de verde

O Globo, Rio, p. 12
12 de Jun de 2015

Cenário olímpico cercado de verde
Às margens das arenas dos jogos na Barra, vegetação de manguezal e de restinga volta à vida com projeto de replantio em área antes degradada

Luiz Ernesto Magalhães

Destruídos por ocupações irregulares desde a década de 60, o manguezal e a vegetação de restinga da Lagoa de Jacarepaguá ressurgem, aos poucos, à beira do Parque Olímpico, na Barra. Numa área de 57 mil metros quadrados, que pertence à faixa marginal de proteção da lagoa, pássaros e até capivaras em busca de alimento já parecem retornar ao seu habitat. O replantio da vegetação foi iniciado no ano passado e está sob a responsabilidade do Consórcio Rio Mais, que executa as obras de infraestrutura e de parte das instalações do futuro complexo esportivo dos Jogos, numa parceria-público-privada com a prefeitura.
Consultor do consórcio, o biólogo Mário Moscatelli conta que o trabalho de recuperação ambiental no Parque Olímpico é o maior, em dimensões, já executado em lagoas da cidade. Para ele, também é um dos mais complexos, superando experiências como a revitalização do manguezal em volta da Lagoa Rodrigo de Freitas. A área que será replantada começa nas imediações do antigo Clube Esportivo de Ultraleve (CEU), na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, e vai até a altura da Avenida Salvador Allende. Parte da faixa marginal estava ocupada por imóveis de classe média e outras casas mais simples que faziam parte da Vila Autódromo.
Como mostrou O GLOBO, há moradores que já deixaram a comunidade após indenizações que custaram quase R$ 100 milhões à prefeitura.
- Na Lagoa Rodrigo de Freitas, já havia uma ocupação consolidada, com os limites das áreas urbanizadas bem definidos. Aqui, foi preciso recuperar uma área bem mais degradada e lidar com problemas da poluição. Para evitar que objetos jogados na Lagoa de Jacarepaguá invadissem o mangue, criamos uma espécie de ecobarreira: instalamos grades próximo aos limites do manguezal - disse Moscatelli.
De acordo com a prefeitura, a meta é concluir o plantio até as Olimpíadas, em agosto do ano que vem. Quem for ao local em 2016 como espectador das competições nas arenas ou, simplesmente, como frequentador do Parque Olímpico poderá observar o resultado da recuperação a uma pequena distância. Um trecho da área replantada é vizinha do chamado "live site", espaço público com telões, que transmitirão as disputas.
- Durante o evento , o espaço ficará isolado do público. Mas a ideia é que, após os Jogos, seja criada uma pequena área de circulação para a população observar a fauna e a vegetação, num trabalho de conscientização ecológica - explicou o gerente de sustentabilidade e acessibilidade da Empresa Olímpica Municipal (EOM), Luiz Pizotti.
O sucesso do replantio foi acompanhado de alguns "efeitos colaterais". Moscatelli contou que, no começo, as capivaras chegaram a devorar algumas mudas, já repostas. Segundo o biólogo, a vegetação de mangue funciona como uma espécie de filtro natural para as águas. Mas, pelos níveis de poluição, outros serviços ainda precisam ser executados na lagoa:
- A dragagem das lagoas tem que ser realizada, e as fontes de poluição controladas - afirmou Moscatelli.
A recuperação ambiental das lagoas da região, um dos compromissos olímpicos assumidos pelo Rio, ainda não tem data para ser iniciada.

SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS
Uma das curiosidades do trabalho na faixa marginal foi o aproveitamento de materiais encontrados no terreno do antigo Autódromo de Jacarepaguá. Pedaços de concreto viraram brita para a própria obra. Como algumas plantas precisam de estacas de sustentação, optou-se por utilizar madeira da vegetação retirada.
- A terra do plantio veio de áreas no entorno da antiga pista. Enquanto o plantio não começava, usamos essa terra para criamos uma horta. Durante um tempo, plantamos abóboras e melancias, que foram consumidas pelos operários nas refeições - contou a gerente de sustentabilidade do Consórcio Rio Mais, Cristina Campolina.
A revitalização do manguezal está sendo realizada por etapas. Cerca de 35% dos trabalhos já foram concluídos. Antes de iniciar o replantio de um lote, o terreno recebe um tratamento: as camadas de asfalto, se existirem, são removidas, assim como amendoeiras, casuarinas e outras espécies consideradas inapropriadas para as características da região. Apenas no trecho do manguezal, serão plantadas pelo menos 20 mil mudas criadas em viveiros no local.
- No trecho que em recuperação, retiramos 50 toneladas de resíduos. Isso incluiu até geladeiras e máquinas de lavar - lembrou Moscatelli.

O Globo, 12/06/2015, Rio, p.12

http://oglobo.globo.com/rio/vegetacao-as-margens-das-arenas-olimpicas-d…

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