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Cenário de crescimento atrai interesse privado

Valor Econômico, Especial Infraestrutura, p. F3
27 de Abr de 2012

Cenário de crescimento atrai interesse privado
Bloco Andino: prioridades são estradas, portos e navegabilidade dos rios

Bom momento financeiro, baixa inflação, redução do grau de riscos, criação de um marco legal para proteger e garantir fluxo de investimentos do setor privado, eis o cenário montado por vários países do bloco andino (Bolívia, Venezuela, Colômbia, Equador e Peru) para atrair investimentos de companhias privadas brasileiras. Cálculos da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) estimam em US$ 3,6 bilhões o valor de 16 projetos estruturantes e individuais, com dezenas de obras, nas áreas de transportes, energia e telecomunicações, escolhidos pelos governos da região. Mas um levantamento preliminar indica que, na verdade, os investimentos em obras estruturantes, ao longo dos próximos anos, podem ultrapassar US$ 20 bilhões, informa Jean Philippe Pening Gaviria - diretor de infraestrutura do Departamento Nacional de Planejamento da Colômbia. "Só o projeto de construção do metrô de Bogotá, capital colombiana, é avaliado em US$ 2,5 bilhões", diz.

O Eixo Andino está localizado no entorno da Cordilheira dos Andes e a área de influência dos projetos compreende 2.556.393 quilômetros quadrados, equivalente a 54,41% do total dos cinco países. Gaviria avalia que os empresários têm plenos motivos para trabalhar em parcerias com os governos da região. A Colômbia é um exemplo, diz. O PIB per capita do país passou de US$ 2.333 em 2003 para US$ 6.153, em 2010, alta de 176%. A taxa de inflação caiu de 7,7% em 2008, para 3,7% em 2011 e deve se manter nessa faixa em 2012. "A Lei das Associações Público Privadas, focada na aquisição de bens e serviços para o setor público, permitiu ao governo colombiano garantir um ambiente tranquilo para os investimentos privados."

A maioria dos projetos estruturantes previstos para a região têm fortes apelos para a participação privada, diz Gaviria. São projetos como o do corredor rodoviário Caracas-Bogotá-Buenaventura (Quito), que intensificará o transporte de produtos, inclusive do Equador e Venezuela até o porto de Boaventura, no Pacífico, e interconexões fronteiriças da Colômbia com o Equador, Colômbia e Venezuela, além da construção da Autopista do Sol, ligando o norte do Peru ao sul do Equador.

Destaque também para o projeto estruturante que permitirá acesso nordeste ao rio Amazonas, envolvendo Brasil, Colômbia, Equador e Peru, e que prevê melhoria da navegabilidade dos rios Içá, Putumayo, Morona, Napo e melhorias nos portos de transferência de carga de Morona e Providência. Segundo Horacio Sevilla-Borja, embaixador do Equador, o projeto de navegabilidade dos rios do Amazonas é uma prioridade. "Está previsto para novembro, uma reunião de cúpula dos quatro governos interessados para definir um projeto para a melhoria da navegabilidade nos rios do Amazonas", diz.

As empresas brasileiras estão animadas com os projetos de integração da infraestrutura regional da Unasul, confia Tharcizio Calderaro, diretor da Construtora Camargo Corrêa para a América Latina. A construtora tem uma forte presença em vários países da região. No Peru, desenvolveu o corredor viário Interoceânico Sul (Rodovia do Pacífico), com 12 quilômetros, que liga a cidade de Assis, no Acre, aos portos de Ilo, Matarani e Marcona, no sul do Peru, e da construção da estrada Chiclayo-Chongoyape. Faz atualmente grandes obras na Venezuela, na Colômbia, e, na Argentina, é um dos maiores investidores locais, através de sua controlada Loma Negra, que opera nove fábrica de cimento. "Pretendemos aumentar nossa presença e incentivar o crescimento interno dos países da América do Sul", comenta Calderaro. "O foco agora é consolidar um mercado de 400 milhões de pessoas. Temos regiões dos Andes e da Amazônia com dificuldades para integrar. É preciso romper essas barreiras. E essa integração só se dá com grandes projetos de infraestrutura", afirma.

Amazonas poderá ter acesso ao Pacífico
Por Rosangela Capozoli | Para o Valor, de São Paulo

O "Acesso Nordeste ao Rio Amazonas" é um dos três projetos estruturantes compreendidos no Eixo Amazonas. O projeto envolve Colômbia, Brasil, Equador e Peru e está estimado em US$ 105,52 milhões. Seis obras individuais fazem parte do projeto: a melhoria da navegabilidade dos rios Içá e Putumayo, o porto de transferência de Carga Morona, a melhoria da navegabilidade dos rios Morona e Napo, e o Porto Providência. Segundo o projeto, "ligando as vias leste-oeste no Equador, Colômbia e Peru, que se articulam com os rios Putumayo, Morona e Napo, a obra irá conectá-las aos rios Içá e Amazonas e chegar à Manaus."

Ao melhorar a navegabilidade desses quatro rios (Putumayo, Içá, Morona e Napo), e implantar hidrovias e terminais fluviais pertinentes, o projeto promove a junção à capital amazonense, sem perder de vista a possibilidade de conexão com mercados ultramar, que se abrem pelas portas do Amazonas. "O rio Içá servirá para que o oeste do Brasil tenha uma saída para o porto Tumaco, no Pacífico. O rio faz fronteira com Equador, Peru e Brasil. Vamos fazer um estudo de navegabilidade e acordo com os países fronteiriços com início em julho próximo e com resultados esperados já para o próximo ano", diz Jean Philippe Pening Gaviria, diretor de Infraestrutura do Departamento Nacional de Planejamento da Colômbia.

O Eixo Escudo Guianês (4) deverá receber US$ 1,05 bilhão e integra o Brasil, Guiana, Suriname e Venezuela. Um dos projetos é a Recuperação da Rodovia Caracas-Manaus que consumirá R$ 480 milhões em melhorias ao longo dos 2.250 quilômetros que ligam as duas cidades. A rodovia une Roraima e Amazonas ao mar do Caribe. "O objetivo é o desenvolvimento sócio-econômico e comercial do Amazonas e de Roraima", diz Lúcia Barillo, assessora internacional do Ministério dos Transportes.

Outro projeto do Eixo Escudo Guianês é a melhoria e pavimentação da Rodovia Boa Vista a Georgetown. Entre as cidades de Lethem e Linden são 438 quilômetros que serão pavimentados a um custo de R$ 270 milhões numa iniciativa que integra Brasil e Guiana. Será a primeira rodovia pavimentada a atravessar toda a Guiana, reduzindo o acesso do Amazonas e de Roraima à costa do Caribe.

O terceiro projeto estruturante do eixo 4 são as rodovias de conexão entre Venezuela, Guiana e Suriname. Cerca de US$ 300 milhões estão previstos na execução dessas conexões que formarão um corredor rodoviário de integração no eixo litorâneo, ligando Guayana, na Venezuela, Georgetown, na Guiana, e Paramaribo, no Suriname. A construção de uma ponte sobre o rio Coren Tyne deve reduzir o gargalo no transporte provocado pela utilização de uma balsa.

A área de influência do projeto Eixo Escudo Guianês compreende uma superfície de 4 milhões de km2, equivalente a 40,80% da área dos países que integram o eixo.

O Eixo Peru, Brasil, Bolívia foi outro tema debatido, sobretudo a ligação rodoviária entre Porto Velho e o litoral peruano, que inclui uma ponte sobre o rio Madeira. Esse eixo, de número 8, prevê investimento de US$ 119 milhões e é um dos menores eixos de Integração da Infraestrutura da América do Sul. Sua área estimada totaliza 1.146 mil km2 e sua população em 2008 somava 10 milhões.

Valor Econômico, 27-29/04/2012, Especial Infraestrutura, p. F3

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