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Celebração olímpica das etnias

CB, Brasil, p.14
25 de Ago de 2006

Celebração olímpica das etnias
Os uai-uais foram os vencedores da competição esportiva que reuniu cerca de 500 atletas às margens do Rio Araguaia. Próxima edição do evento está marcada para 2008, por decisão do Ministério dos Esportes

Carmen Souza
Enviada especial

Se o quesito fosse o número de vitórias, os vencedores da terceira edição dos Jogos Indígenas do Pará seriam os índios uai-uais. Após os cinco dias de evento, eles ganharam quatro das 10 modalidades disputadas no evento, que incluía competições de brancos, como o futebol, e práticas comuns de quem vive nas aldeias. Mas o espírito do encerramento dos jogos, na última quarta-feira, era outro: o de celebração da cultura indígena. Até porque a competição não previa prêmio para nenhuma categoria. Todas as etnias participantes mostraram ao público que vêm de uma história rica. E cheia de peculiaridades. "Somos coloridos. A gente usa essas bolinhas (miçangas). As nossas mulheres têm o topo da cabeça raspada", diz David Kayapó, um dos pouco integrantes da equipe kayapó que sabe falar português.

O bê-á-bá do homem branco, aliás, era pouco compreendido pelos quase 500 índios que foram aos jogos. Na ausência de tradutores, mostravam que estavam gostando da participação da platéia prolongando o script da programação. "É uma festa de integração, de valorização da cultura indígena. É uma celebração de nossas origens" José Ângelo Miranda, secretário de Esporte e Lazer do Pará.

No domingo, segundo dia de festa, os Xerentes engataram a apresentação da corrida de toras com a Dança do Gavião. No ritual, várias índias passam uma semana tentando vingar a morte de um cacique, atacado por um gavião. "Tem pouco tempo que começamos a dançar fora da aldeia", conta Gilberto Srógdé, um dos xerentes.

Tricampeão

O caminho inverso, da cidade para a oca, é feito diariamente por Isaías Nascimento, treinador da equipe de futebol dos Xikrins do Cateté. Há três anos, ele prepara cerca de 60 índios da aldeia situada no sul do Pará. "Montamos quatro times. Fico mais tempo com eles do que em casa", brinca. Os xikrins venceram a final masculina do futebol. São tricampeões dos jogos indígenas. "Uma hora vai ter seis estrelas na nossa camisa. O time está melhor que o da Seleção", compara Bedjair Xikrin.

Na noite da final do futebol, Bedjair, 24 anos, trocou camisa e chuteiras por colares amarelos e virou artista. No penúltimo dia do evento, os xikrins apresentaram o Kagót. O ritual os prepara para o ataque do inimigo. "Eles são muito rápidos. Não sei como os mais velhos conseguem se jogar no chão daquele jeito", diz Maria Aparecida Menezes. A senhora de 45 anos deixou Catalão (GO) para assistir ao evento.

Ela também se encantou com a agilidade de Krata Gavião. O índio de 20 anos, vencedor da competição de arco e flecha, foi o único a acertar o alvo que garantia a maior pontuação do jogo. "Aprendi com meu avô, e uso todo o dia para caçar", diz. "É a primeira vez que venho. Não sabia que as pessoas gostavam tanto da gente assim", impressiona-se o índio. Na competição de cabo de guerra, um impasse. Como houve empate entre duas equipes, foi realizada nova disputa. Saíram vencedores os uai-uais.

A repórter e o fotógrafo viajaram a convite da Secretaria de Esporte e Lazer do Pará

Evento custou R$ 1,1 mi

Organizada pela Secretaria Executiva de Esporte e Lazer do Pará, a terceira edição dos Jogos Indígenas do Pará custou R$ 1,1 milhão. Segundo os organizadores, nos cinco dias do evento, foram consumidos 5 mil copos de água mineral , 4.500 quilos de gelo e 10 toneladas de comida. Os índios participantes receberam quatro refeições por dia - café -da-manhã, almoço, lanche e jantar. Entre voluntários e profissionais contratados, mais de 200 pessoas trabalharam no evento.

A próxima edição dos jogos paraenses está marcada para 2008. Por decisão do Ministério dos Esportes, os jogos regionais acontecerão, a partir de agora, a cada dois anos, intercalando a competição nacional. O governo do Pará deve se candidatar para sediar, no próximo ano, o evento que envolverá tribos de todo o país. "Se depender da seriedade da organização, é praticamente certo que o Pará receberá no ano que vem os jogos nacionais. Eles têm experiência nisso", diz André Coutinho, representante do Ministério dos Esportes na terceira edição dos Jogos Indígenas do Pará.

Além das competições, o evento teve uma programação paralela de workshops, mostras de filme e vídeos. Três assuntos foram debatidos: a relação entre os povos indígenas e as Organizações das Nações Unidas (ONU); a inclusão digital indígena; e direitos humanos, meio ambiente e identidade cultural. Entre os debatedores, estava Otilia Maia, membro do Fórum Permanente das Nações Unidas (ONU) para questões indígenas, e o líder indígena Marcos Terena.

O NÚMERO

Alimentação
10T foi a quantidade de comida consumida durante os cinco dias do evento

CB, 25/08/2006, Brasil, p.14

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