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Casos de aids em indígenas preocupam autoridades sanitárias

24 Horas News-Cuiabá-MT
09 de Jan de 2004

Doença típica de brancos, a aids começa a preocupar as autoridades sanitárias brasileiras que cuidam da saúde indígena. De uma população estimada em 400 mil índios, já foram detectados, desde 1986, 101 casos de aids, segundo informações do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde (MS). A doença afeta principalmente os índios que vivem fora das aldeias, cerca de 50 mil, em zonas urbanas e de fronteiras, consideradas áreas mais vulneráveis ao contato do índio com o branco e locais de maior concentração de disseminação da doença.

A região Centro-Oeste é a que mais preocupa o governo, já que concentra 45% do total de casos de aids em indígenas no Brasil e possui uma tendência de crescimento mais elevada que as demais regiões. A população mais afetada pela aids vive no estado de Mato Grosso do Sul, onde se concentra o maior número de índios residentes em áreas urbanas, em sua maioria jovens e mulheres.

Situação de pobreza, a prostituição de mulheres índias e o alcoolismo são alguns dos fatores apontados por técnicos do MS como principais causas da chegada da aids às populações indígenas, que migram para as cidades em busca de trabalho, educação e saúde. O segmento mais afetado possui entre 20 e 34 anos, com 68% dos casos da doença, sendo que 65,3% são homens e 79,2%, mulheres.

O diretor do Departamento de Saúde Indígena da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Ricardo Chagas, lembra que não apenas a aids, mas também as doenças sexualmente transmissíveis (DST) vêm aumentando entre os índios, com 4.820 casos registrados até 2001.
Para impedir o crescimento da aids, a Funasa recebeu um financiamento do Banco Mundial no valor de US$ 3 milhões para capacitar, em três anos, agentes de saúde para lidar com a questão das DST/Aids nas populações indígenas.

"Nós estamos capacitando todos os nossos técnicos de saúde para aprimorar a questão do diagnóstico e fazer articulação com o Sistema Único de Saúde (SUS)", informou Ricardo Chagas.

Existem hoje 6.400 técnicos que trabalham diretamente com a saúde dos índios, nos 34 Distritos Sanitários Especiais de Saúde Indígena (DSEI) espalhados por todo o país. Um dos trabalhos desenvolvidos é orientar os índios a usarem a camisinha, principalmente no contato com o não-índio. "Está aumentando o número de indígenas que utiliza a camisinha. Isso é um trabalho que vem sendo feito já há cinco anos e hoje o índio já tem uma consciência muito boa da utilização da camisinha", disse Chagas.

Para o vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Saulo Feitosa, o programa de atenção à saúde indígena do governo federal funciona no que diz respeito à parte técnica, mas possui falhas de ordem política. Para os dirigentes do Cimi, órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a criação dos DSEI não tem funcionado da maneira como foi pensada a partir das conferências nacionais de saúde indígena.

"Embora reconheçamos que os programas de combate às doenças sexualmente transmissíveis tenham avançado, por outro lado questionamos a política de saúde indígena adotada atualmente pelo governo brasileiro", critica Feitosa.

O conflito entre a medicina tradicional e a concepção indígena de saúde/doença é também uma barreira na prevenção e no tratamento de inúmeras doenças, entre elas a aids. O assunto promete ser abordado na capacitação dos agentes de saúde.

O primeiro caso de aids em povos indígenas foi notificado em 1988 no estado de Santa Catarina.

Nos Estados Unidos, a aids entre os índios também preocupa as autoridades públicas de saúde. De acordo com o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), os índios americanos são infectados com aids a uma razão de 11,2 a cada 100 mil, quase 1,5 vezes a taxa de brancos e mais que o dobro da taxa de asiáticos.

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