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Casamentos comprometidos

Agência FAPESP
Autor: Thiago Romero
22 de Ago de 2007

Mais de 12% da população sateré-maué, etnia formada por cerca de 8,5 mil indivíduos originários da terra indígena Andirá-Marau, localizada entre os estados do Amazonas e do Pará, mora em áreas urbanas, principalmente nas cidades de Parintins, Maués e Barreirinha.

A migração, facilitada pelo progresso dos meios de transporte na região, tem gerado desequilíbrio entre os sexos nas aldeias. A constatação foi feita por Raylene Rodrigues de Sena, professora do Departamento de Economia e Análise da Faculdade de Estudos Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Segundo Raylene, que visitou periodicamente as três áreas urbanas onde os sateré-maué residem para saber os motivos que os levaram a sair das aldeias, mais da metade dos migrantes são mulheres em idade econômica ativa para o trabalho e para o estudo.

"O aproveitamento da mão-de-obra para serviços domésticos é o principal motivo da migração feminina. O segundo é a busca por estudos, seja para o próprio índio ou para seus filhos. As escolas dentro da terra indígena Andirá-Marau só vão até a quarta série do ensino fundamental. Para se formar, os índios se sentem obrigados a migrar para as três cidades próximas", disse à Agência FAPESP.

O trabalho foi realizado com base nos dados de um censo sociodemográfico realizado em 2003 na terra indígena, coordenado por pesquisadores da Ufam, da Fundação Estadual de Política Indigenista do Amazonas, da Secretaria de Educação do Estado do Amazonas, da Fundação Joaquim Nabuco, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A publicação Sateré-Mawé: Retrato de um povo indígena, organizada por Pery Teixeira, também professor da Ufam, serviu de referência.

O estudo mostra que, apesar de o número de nascimentos ser praticamente o mesmo nas aldeias para os sexos, atualmente existem cerca de 110 homens para cada grupo de 100 mulheres com idades entre 15 e 49 anos.

"Em um futuro próximo, a maior migração feminina, caso essa tendência continue, poderá causar impactos como a diminuição do número de casamentos e, conseqüentemente, do número de nascimentos de novos indivíduos da etnia", alertou Raylene.

Segundo ela, a migração também tem causado mudanças culturais dos índios, como a perda do idioma sateré-maué, dos rituais e da forma de vida comunitária. "As próprias buscas por trabalho e por educação não são valores tradicionais dos povos indígenas. São necessidades criadas a partir do contato com os brancos", afirmou.

Além da procura por trabalho e da necessidade de estudar, a constituição de família - não necessariamente com integrantes da mesma etnia - é outro fator para a migração de ambos os sexos, segundo declararam os próprios indígenas à pesquisadora.

"Por conta disso, as mulheres sateré-maué que têm filhos e continuam nas aldeias são muito valorizadas. Hoje, essa é a principal segurança de que a etnia continuará se perpetuando", disse.

O trabalho Movimentos migratórios da população sateré-maué: Povo indígena da Amazônia, apresentado por Raylene como dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Ufam, teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

O livro Sateré-Mawé: Retrato de um povo índígena pode ser lido na íntegra em (pdf): www.unicef.org/brazil/satere_mawe.pdf.

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