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Captação do Paraíba do Sul afetará 23 municípios do Rio

O Globo, País, p. 9
22 de Mar de 2014

Captação do Paraíba do Sul afetará 23 municípios do Rio
Cidades respondem por 40% da produção agropecuária do estado

Fábio Vasconcellos

RIO - A possível captação de águas do Rio Paraíba do Sul, como propõe o governo de São Paulo, afetará 23 municípios do Rio de Janeiro onde estão concentradas a produção agrícola e pecuária do estado, segundo a Secretaria estadual de Agricultura. Esse grupo de cidades participa anualmente com cerca de 40% (R$ 890 milhões) do PIB do setor de agropecuária do Rio.
O peso do Paraíba do Sul no abastecimento dessas cidades pode ser identificado num estudo contratado pelo Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap) e que ainda não foi divulgado. Dados preliminares obtidos pelo GLOBO revelam que a vazão média do rio é de 53 m³/s. Desse total, 44 m³/s (82%) são destinados ao Rio, São Paulo e Minas Gerais para o uso em irrigação, e 1,5 m³/s para o consumo animal. No caso da irrigação, a participação do Rio chega 67%.
- Nesse conjunto de 23 municípios têm alguns que dependem mais e outros menos. Os municípios do Centro Norte e Noroeste são mais dependente de irrigação. É o caso de Campos que tem produção de cana de açúcar. Em Itaocara, a dependência é grande porque a região é muito seca. No Sul e Médio Paraíba, onde há mais pecuária, eles dependem do rio para abastecer os animais. Sem dúvida alguma, se houver mudança na vazão do rio essas cidades serão afetadas - afirmou o secretário estadual de Agricultura e Pecuária, Christino Áureo.
Além de Campos e Itaocara, a lista dos 23 municípios mais afetados inclui São Francisco do Itabapoana, São Fidélis, Vassouras, Paraíba do Sul, Resende, Quatis e Barra Mansa. O secretário de Agricultura afirmou que vai encaminhar à Agência Nacional de Águas (ANA) um pedido de informações sobre a proposta do governo paulista.
- Queremos saber se existe de fato alguma proposta tramitando na ANA. Se houver, queremos informações técnicas, porque queremos participar dessa discussão, afinal, temos inúmeros municípios que serão afetados - disse Áureo.
Pelo estudo contratado pelo Ceivap, o consumo humano representa apenas 8% do total da vazão do Paraíba do Sul, e o uso industrial, 7%. A pesquisa mostra ainda que 184 cidades dependem diretamente ou indiretamente do rio: 39 em São Paulo, 88 em Minas e 57 no Estado do Rio.
A reação à proposta de São Paulo de fazer a captação de parte da água do Paraíba do Sul continuou nesta sexta-feira. Em Brasília, o governador Sérgio Cabral enfatizou que não permitirá a retirada de água do Rio Paraíba do Sul para abastecer São Paulo caso a operação prejudique o abastecimento da população fluminense. Cabral contou ter conversado com o governador Geraldo Alckmin, que considera seu amigo, mas disse que a questão é técnica.
- Nada que afete o abastecimento de água do Rio de Janeiro, nada, uma gota sequer, nós vamos tolerar. Nós temos um rio, que é o Paraíba do Sul. Nós temos a necessidade do fornecimento da água do Paraíba. Esse é um assunto muito sério, que tem que ser tratado nos órgãos técnicos. Tanto eu quanto o Geraldo Alckmin não somos especialistas na matéria - disse Cabral.
A Federação das Indústrias do Rio (Firjan) divulgou nota na qual afirma que "diversos trechos (da Bacia do Paraíba do Sul) apresentam redução drástica de suas vazões em períodos secos, como nas regiões de Barra do Piraí, no estado do Rio, e São José dos Campos, em São Paulo, quase inviabilizando qualquer uso da água". Na nota, a Firjan afirmou também que "os prejuízos evidentes ao estado do Rio, no curto e longo prazos, provocados pela possível retirada de águas da bacia do Paraíba do Sul, devem levar o estado de São Paulo a buscar alternativas diferentes, com menos impactos negativos, para a urgente e necessária complementação de seu sistema de abastecimento".
Para a próxima terça-feira, a Frente Parlamentar em Defesa da Bacia do Rio Paraíba do Sul prepara um ato nas escadarias da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) contra a captação da água do rio. A presidente da frente, deputada Inês Pandeló (PT), declarou que a proposta do governo de São Paulo trará impacto para o Rio.
- Precisamos da mobilização de todos os setores da sociedade. Se for concretizado o projeto, o estado poderá sofrer com o desabastecimento de água - afirmou a deputada.

O Globo, 22/03/2014, País, p. 9

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