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Cantareira: Ações dão sobrevida de 70 dias

OESP, Metrópole, p. D3
12 de Jul de 2014

Cantareira: Ações dão sobrevida de 70 dias

Fabio Leite

Depois de iniciar em junho a polêmica retirada do volume morto do Sistema Cantareira, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) estuda agora repetir a estratégia no Sistema Alto Tietê, o segundo maior da Grande São Paulo. Graças a uma série de medidas anticrise, incluindo a utilização do fundo do manancial, o Cantareira ganhou sobrevida de 70 dias em sua captação.
Formado por cinco represas distribuídas entre Suzano e Salesópolis, o Alto Tietê também sofre com a grave seca e registra queda no nível de armazenamento igual à do Cantareira, conforme o Estado antecipou há um mês. Ontem, estava com apenas 24% da capacidade, a mais baixa para esta época do ano na última década.
Há um mês, o nível do manancial que abastece 4 milhões de pessoas na parte leste da Região Metropolitana era de 29,3%. No mesmo período, o Cantareira também perdeu 5 pontos porcentuais, atingindo ontem 18,6% da capacidade. Com estoque máximo de 520 bilhões de litros, contudo, o Alto Tietê tem pouco mais da metade da capacidade total do Cantareira, de 982 bilhões de litros.
A crise no Alto Tietê se intensificou em fevereiro, logo após a Sabesp começar a remanejar cerca de 1 mil litros por segundo de água de suas represas para bairros da capital que eram atendidos pelo Cantareira. Projeções feitas por integrantes do Comitê da Bacia do Alto Tietê apontam que o volume útil do manancial pode acabar em cerca de quatro meses.
Questionado em junho sobre a crise hídrica no segundo principal sistema, que produz até 15 mil litros por segundo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que não haveria "problemas no Alto Tietê". Ontem, em nota, a Sabesp informou apenas que "está executando estudos para o possível aproveitamento da reserva técnica do Sistema Alto Tietê" em caso de "necessidade".

Cantareira
Além do volume morto do Alto Tietê, a Sabesp admitiu ontem que estuda também utilizar uma segunda cota da reserva profunda do Cantareira. Desde anteontem, quando o volume útil do sistema se esgotou, a companhia passou a utilizar apenas os 182,5 bilhões de litros represados abaixo do nível das comportas. Estimativas feitas pela empresa apontam que a reserva deve durar até outubro ou novembro.
No início da semana, contudo, Alckmin havia negado a possibilidade de usar mais uma cota do volume morto, que tem cerca de 400 bilhões de litros. "Ainda há uma reserva de 218 milhões de metros cúbicos (bilhões de litros) que não pretendemos destacar", disse o tucano na segunda-feira.
Segundo o Estado apurou, a Sabesp já sinalizou aos órgãos gestores do manancial, Agência Nacional de Águas (ANA) e Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), que pretende captar mais 100 bilhões de litros da reserva profunda, intenção que ainda encontra resistência da agência federal. De acordo com a Sabesp, a medida está em estudo.
A empresa afirma que tem feito todos os esforços para reduzir a retirada de água do Cantareira, já são 33% a menos, sem precisar adotar o racionamento generalizado na Grande São Paulo. Segundo a Sabesp, a reversão de água de outros sistemas, a redução da pressão na rede à noite e o programa de bônus deram uma sobrevida de 70 dias ao Cantareira. Ou seja, de acordo com a concessionárias, se essas medidas não tivessem sido tomadas, o volume útil do manancial, que se esgotou anteontem, teria acabado no início de maio.

Para governo, Alto Tietê não estava em crise há um mês

Há exatamente um mês, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) negou que o Sistema Alto Tietê também estivesse em crise de estiagem e disse que a reportagem do Estado tentava provar que a água dos principais mananciais paulistas iriam acabar.
"A Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos lamenta que, depois de reiteradas e infrutíferas tentativas de provar que a água do Cantareira vai acabar, o Estadão agora encampa a tese de que outro sistema - o Alto Tietê - vai 'secar' e 'entrar em colapso'", informou a assessoria de imprensa da pasta em nota enviado por e-mail no dia 13 de junho.
"As projeções da Sabesp indicam, na verdade, que o sistema tem água suficiente para garantir o abastecimento até a próxima estação chuvosa, graças aos investimentos feitos pela empresa e à ampla adesão à campanha de uso racional da água, em que 91% da população da Região Metropolitana de São Paulo reduziu seu consumo", completou.
À época, o Estado questionou a secretaria sobra a possibilidade de uso do volume morto do Alto Tietê, mas não obteve resposta. Na nota, a pasta disse apenas que a Sabesp acompanha o desempenho desse sistema para definir o melhor aproveitamento. "Não é razoável, como tem feito sistematicamente a reportagem do Estadão, traçar sempre o cenário mais desfavorável".

Outorga do sistema é estendida para 2015
Resolução foi saída encontrada para adiar disputa pela água do manancial entre Sabesp e Bacia do PCJ

A Agência Nacional de Águas (ANA), do governo federal, e o Departamento de Água e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) prorrogaram até o dia 31 de outubro de 2015 o prazo de vigência da outorga do Sistema Cantareira para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que venceria no próximo mês.
Publicada na edição de ontem do Diário Oficial, a resolução foi a saída encontrada pelos órgãos gestores do manancial para adiar a disputa pela água do Cantareira entre a Sabesp e a Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), onde ficam os principais reservatórios do sistema, durante a histórica crise de estiagem.
Pelas regras da outorga vigente, que foi renovada em 2004, a Sabesp tinha o direito de captar até 31 mil litros por segundo para abastecer cerca de 8,8 milhões de pessoas na Região Metropolitana e as cidades no entorno de Campinas, até 5 mil litros por segundo, para atender 5 milhões de habitantes.
Durante a discussão da renovação, os municípios da bacia do PCJ pediam mais água por causa do crescimento da região nos últimos dez anos. A Sabesp, por sua vez, dizia que não poderia abrir mão do volume acordado.
ANA e DAEE afirmam que a prorrogação da outorga "se justifica pela atual situação de excepcionalidade de baixa disponibilidade hídrica na bacia do Rio Piracicaba, o que resultou em vazões afluentes aos reservatórios do Cantareira em magnitude inferiores às mínimas registradas desde 1930, levando à utilização emergencial de volumes acumulados abaixo dos níveis mínimos operacionais", o chamado volume morto.
A resolução determina que os dados hidrológicos (vazões e chuvas) do ano de 2014 deverão ser considerados no requerimento de renovação da outorga do Sistema Cantareira que a Sabesp terá de apresentar até abril do ano que vem. O manancial é a principal fonte de abastecimento de água da Grande São Paulo. Antes da crise, a pior em 84 anos de medições, ele atendia 47% da população da Região Metropolitana.
Agora, com a reversão de água de outros sistemas de abastecimento, como Alto Tietê e Guarapiranga, cerca de 7,2 milhões de habitantes ainda dependem da água do Cantareira, que nesta sexta estava com 18,6% da capacidade. Se não fosse a utilização do volume morto do manancial, que fica represado abaixo do nível das comportas da Sabesp, o sistema teria se esgotado anteontem.

Futuro. Pelas projeções feitas pela Sabesp, os cerca de 182,5 bilhões de litros da reserva profunda que estão disponíveis devem durar até o fim de outubro, quando tem início o período de chuvas. O governo Geraldo Alckmin (PSDB) aposta que voltará a chover dentro da média e garante o abastecimento de água sem racionamento generalizado até meados de março de 2015. Segundo análise estatística feita pelo comitê anticrise que monitora o Cantareira, a chance de o manancial se recuperar até abril, porém, é de apenas 25%.

OESP, 12/07/2014, Metrópole, p. D3

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