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Cana já é 2ª maior fonte de energia do País

OESP, Economia, p. B7
09 de Mai de 2008

Cana já é 2ª maior fonte de energia do País
Com seus derivados, produto perde apenas para o petróleo

Nicola Pamplona

A cana-de-açúcar já é a segunda principal fonte de energia do Brasil, atrás apenas do petróleo. A informação é do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, que divulgou ontem dados preliminares do Balanço Energético Nacional de 2007. Segundo o estudo, a cana e seus derivados ultrapassaram a energia hidráulica e foram responsáveis por 16% da matriz energética em 2007.

Segundo Tolmasquim, a evolução foi provocada pelo crescimento de 46,1% no consumo de álcool hidratado durante o ano. "Isso é reflexo do aumento das vendas de carros bicombustíveis e da produção de álcool, que contribuiu para baixar o preço do produto."

Em 2007, os produtos da cana foram responsáveis pela oferta de 38,4 milhões de toneladas de petróleo equivalente (TEP) em energia no País.

A TEP faz a comparação da energia gerada por outras fontes com a que poderia ter sido produzida a partir do petróleo. E apontou crescimento de 17,1% da energia vinda da cana ante o verificado em 2006.

Em 2006, a cana-de-açúcar ocupava o terceiro lugar na matriz energética brasileira, com uma parcela de 14,5%. A energia hidráulica tinha então 14,8%, mas perdeu participação no ano seguinte, caindo para 14,7%. Tolmasquim acredita que os produtos da cana tendem a manter a segunda posição nos próximos anos, mesmo após a entrada de projetos hidrelétricos de porte, como as usinas do Rio Madeira e Belo Monte. Segundo ele, há projeções de crescimento no consumo de álcool e na geração de energia a partir do bagaço.

De toda a energia gerada pela cana, cerca de 25% representam o consumo de álcool combustível, informou a EPE. O restante é fruto da geração de eletricidade e de vapor para uso em processos industriais, principalmente na produção de açúcar. A participação dos produtos de cana na oferta de eletricidade, porém, ainda é pequena, em torno dos 3%. Neste caso, a energia hidráulica segue imbatível, com uma fatia de 85,6%.

Para o presidente da EPE, no entanto, a participação da biomassa na oferta de energia elétrica tende a crescer. Em junho, o governo realiza leilão para a compra de energia de reserva para o sistema elétrico, que terá como foco esse tipo de fonte energética. Ele defendeu ainda que a expansão da oferta de cana não tem impacto sobre o preço dos alimentos - crítica recorrente no mercado internacional -, pois há grande volume de pastagens que podem ser usadas para o plantio adicional.

O estudo da EPE indica que cresceu a participação das energias renováveis na matriz energética brasileira. Em 2007, foram responsáveis pela oferta de 111 milhões de TEP (46,4% do total). O número é 9,4% superior ao registrado em 2006. Já o grupo petróleo e derivados teve uma participação de 36,7% da matriz, queda de 0,9 ponto porcentual ante o ano anterior. Tolmasquim lembrou que o Brasil vem conseguindo ampliar a participação das fontes renováveis sem subsídios ao consumidor, como ocorre com a energia eólica na Europa, por exemplo.

A maior participação das renováveis coloca o Brasil em posição privilegiada com relação às emissões de gás carbônico, ressaltou o executivo. Segundo a EPE, as emissões brasileiras foram equivalentes a 1,84 tonelada de dióxido de carbono (CO2) emitiram o equivalente a 19,61. A média mundial ficou em 4,22 toneladas por habitante.

Por outro lado, o Balanço Energético Nacional detectou um acréscimo de 8,6% no consumo de carvão mineral, combustível responsável em 2007 por 6,2% da matriz energética brasileira. Tolmasquim explica que o desempenho é reflexo do crescimento da produção de aço, que usa o carvão como redutor siderúrgico. O Brasil importa todo o carvão mineral que consome.

Da lenha às hidrelétricas. E agora, a cana

Andrea Vialli

Até 1940, cerca de 80% da energia consumida no Brasil era gerada a partir da queima de lenha. O grande boom do setor energético brasileiro começou na década de 50, com o processo de industrialização liderado pelo presidente Juscelino Kubitscheck. Naquele momento, petróleo e derivados passam a ter participação crescente na matriz. Na década de 60, o governo inicia o Programa Nuclear e projeta a construção das Usinas Angra I, II e III. Ao mesmo tempo, o País vive a era das grandes obras de hidrelétricas, como Itaipu.

A geração de energia elétrica do bagaço de cana-de-açúcar tomou impulso com o Proálcool, na década de 80. No final daquela década, 75% das usinas brasileiras supriam suas necessidades energéticas com a co-geração interna. Em São Paulo, esse número chegava a 90%. Mas foi só nos anos 90, após experiências como a do grupo Balbo, que o excedente dessa energia passou a entrar no sistema de distribuição de energia elétrica, a partir de acordos entre as usinas e as concessionárias. O físico José Goldemberg, que em 1990 era secretário de Ciência e Tecnologia, foi um dos que se engajaram na defesa da maior participação da cana na matriz brasileira. "Se houver apagão no País, com certeza não atingirá o Estado de São Paulo." A expectativa de geração de energia da biomassa da cana-de-açúcar, até 2015, é da ordem de 24 mil megawatts (MW).

Bird pede calma com biocombustível
Diretor da instituição critica modelo de produção que utiliza subsídios

Reuters

O diretor do Departamento de Agricultura e Desenvolvimento do Banco Mundial (Bird), Juergen Voegele, afirmou ontem que os países não deveriam incrementar em grandes quantidades a produção de biocombustíveis até que fique mais claro qual a parcela de culpa desse movimento na alta global dos preços dos alimentos.

"Não achamos que os biocombustíveis devam ser responsabilizados por todos os males da atualidade (na área de alimentos), mas tampouco pensamos que se pode continuar a subsidiá-los da maneira como ocorre hoje em vários países", disse.

Segundo Voegele, o Banco Mundial está analisando os biocombustíveis sob vários pontos de vista: econômico, meio ambiente e social. "As inter-relações com a produção de alimentos são complexas e precisamos alcançar uma compreensão muito melhor do que é sustentável no longo prazo", observou o diretor da instituição. "Há muitas expectativas de que os biocombustíveis de segunda e terceira geração tenham um melhor balanço econômico, social e ambiental."

Muitos analistas e autoridades têm culpado os biocombustíveis pela crise dos alimentos. Eles relacionam recentes distúrbios em países pobres da Ásia, da África e da América Latina à disparada das cotações das commodities alimentícias, como arroz e trigo.

O governo do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, tem defendido sua política de biocombustíveis, que tem como base o etanol produzido a partir do milho. Segundo ativistas, o produto, sozinho, responde por entre 12% e 13% da alta global dos alimentos. "Este é um debate importante. Modelos diferentes (de produção) dão resultados diferentes, e leva tempo para que decifremos tudo", disse Voegele.

Investimento foi fundamental
Para empresário, petróleo caro também ajuda

Gustavo Porto

Os investimentos do setor sucroalcooleiro na ampliação do parque industrial para a produção de açúcar, álcool e energia foram fundamentais para que a cana superasse as hidrelétricas na matriz energética brasileira em 2007. A avaliação é do empresário Jairo Menesis Balbo, diretor do Grupo Balbo e da Bioenergia. Pioneiro na comercialização de energia elétrica co-gerada a partir da biomassa, iniciada em 1987, Balbo afirmou que o crescimento da cana no Balanço Energético Nacional (BEM) foi favorecido ainda pela disparada do preço do petróleo, que beneficiou o álcool, e pela ausência de novos empreendimentos hidrelétricos, cujo espaço foi ocupado pelas térmicas a bagaço de cana.

"O petróleo não vai acabar, mas vai ficar tão caro que, como hoje, abre espaço para a cana-de-açúcar, cuja produtividade aumenta e os custos de produção ficam cada vez menores no Brasil", disse Balbo. "Para projetos de energia em térmicas a biomassa, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem um financiamento praticamente instantâneo. Já para as hidrelétricas, com as questões ambientais, há uma dificuldade imensa", completou o diretor da Bioergia, empresa que fornece energia elétrica às usinas São Francisco e Santo Antonio, do Grupo Balbo, e à rede, neste caso por meio da CPFL.

Balbo lembra que, há mais de 20 anos, quebrou paradigmas para comercializar a energia co-gerada na Usina São Francisco, em Sertãozinho (SP). "Todos achavam que teríamos problemas na conexão e que poderíamos até causar um apagão ao colocar a energia na rede, o que não ocorreu." Outra dificuldade foi vender a energia para a CPFL, na época ainda uma estatal, já que não havia uma legislação para o setor.

Segundo Balbo, o investimento feito na construção da unidade de co-geração da Usina São Francisco foi pago em meia safra de cana, em três meses, só com a energia elétrica economizada.

OESP, 09/05/2008, Economia, p. B7

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