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Câmara pede ajuda à Interpol

CB, Brasil, p. 19
28 de Abr de 2005

Câmara pede ajuda à Interpol
Em depoimento na CPI da Biopirataria, procurador confirma investigação sobre venda nos EUA de DNA dos índios suruí e karitiana, de Rondônia. E alerta que há mais um crime: o contrabando de sementes de mogno

Paloma Oliveto
Da equipe do Correio

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Biopirataria vai pedir à Interpol que participe das investigações sobre a coleta de sangue indevida e o envio de DNA das etnias suruí e karitiana, de Rondônia, aos Estados Unidos. Conforme denúncia do Correio em 21 de abril, o site do instituto de pesquisa norte-americano Coriell vende por US$ 85 para cada amostra, o material genético desses povos. O requerimento foi feito pelo deputado Dr. Rosinha (PT-PR), que considerou "um absurdo" as amostras terem saído do Brasil sem qualquer tipo de autorização.
Ontem, o procurador da República em Rondônia, Reginaldo Pereira Trindade, prestou depoimento à CPI. Segundo Trindade, que tomou conhecimento do fato no final do ano passado, ainda não se sabe como o material dos índios foi parar nos Estados Unidos. "Não descarto que outras etnias tenham sofrido o mesmo problema", disse. 0 procurador afirmou que o médico brasileiro Hilton Pereira da Silva e sua ex-mulher, a norte-americana Denise Hallack, são os principais suspeitos de ter coletado o material e enviado as amostras ao exterior.
Em carta ao Correio, Hilton afirmou que retirou o sangue dos karitiana a pedido dos próprios índios, com objetivo de prestar atendimento médico emergencial, em 1996. Ele negou ter mandado o material para os Estados Unidos e disse que o sangue foi enviado à Universidade Federal do Pará. Durante a audiência da CPI, Trindade comentou a carta do médico brasileiro, dizendo que "ele tem direito de se defender publicamente, inclusive de mentir". Hilton responde a processo por ter coletado o sangue dos índios sem pedir autorização, embora não seja acusado formalmente pelo contrabando de DNA. "Ele está sendo processado porque, com o pretexto de acompanhar a filmagem de um documentário, ludibriou os índios e retirou o sangue deles", explicou o procurador.
Ainda de acordo com Trindade, das 160 amostras de sangue retiradas, apenas 54 foram devolvidas pela universidade paraense ao Ministério Público Federal. "Onde foram parar as outras? A Universidade Federal do Pará lavou as mãos e disse que só estava armazenando o material", contou. Ele disse que, embora ainda não se tenha certeza, o mais provável é que o DNA vendido pelo Coriell Institute tenha sido retirado das amostras coletadas no ano em que Hilton Pereira da Silva esteve com os índios karitiana.
Novo crime
0 procurador também denunciou mais um crime de biopirataria: o contrabando de sementes de mogno na aldeia dos urueuau-au, de Rondônia. Em 1994, a tribo já havia sido vítima de pesquisadores alemães, que roubaram e patentearam um anticoagulante natural, o veneno tiki'uba. Agora, um missionário evangélico da Alemanha está vendendo as sementes de mogno de uma aldeia localizada a 350 quilômetros de Porto Velho. "Lá só vivem 16 índios, é fácil aliciá-los", conta a coordenadora de projetos da Associação de Defesa Etno-Ambiental de Rondônia, Ivaneide Bandeira. Ela diz que o missionário "compra" os índios oferecendo caronas, café, estadias na cidade. "Eles são ingênuos, por isso, negam quando são perguntados sobre o contrabando de semente."

Coleta ilegal em 1996
Em 1996, uma equipe do canal de televisão Discovery Channel, da Inglaterra, esteve na aldeia dos índios karitiana, em Rondônia, para realizar um documentário. Eles tinham autorização da Funai para filmar. 0 médico Hilton Pereira da Silva acompanhou a equipe. Segundo ele, foi constatada uma situação de saúde muito precária entre os indígenas, o que levou um cacique a pedir que o médico prestasse atendimento emergencial. Hiltort retirou amostras do sangue dos índios e as enviou à Universidade Federal do Pará (UFPA).
A CPI da Biopirataria investiga como o material dessa etnia e também dos suruí foi parar nos Estados Unidos. Há três semanas, o site de um instituto de pesquisa norte-americano, o Coriell, colocou à venda o DNA de karitiana e suruí a US$ 85. Cento e sessenta amostras de ambas etnias estavam armazenadas na UFPA, porém, somente 56 foram devolvidas ao Ministério Público Federal. A suspeita é que o material genético comercializado pelo instituto norte-americano faça parte desse lote de amostras, embora nem a CPI nem o MP tenham conseguido confirmar a informação. (P0)

CB, 28/04/2005, Brasil, p. 19

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