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Caiovás em MS desfazem bloqueio em estrada

OESP, Nacional, p. A9
17 de Jan de 2007

Caiovás em MS desfazem bloqueio em estrada

João Nave

Os índios caiovás desfizeram pacificamente o bloqueio que mantinham desde quinta-feira na rodovia MS-289, em Mato Grosso do Sul. Uma determinação do juiz Thiago Nakaswa, da Comarca de Amambaí, para uso de força policial bastou para que os caiovás cessassem os protestos contra a forma violenta com que foram expulsos da Fazenda Madama, situada entre os municípios de Amambaí e Coronel Sapucaia, no extremo sul do Estado, divisa com o Paraguai.

Segundo os conselheiros da Aldeia Jaquapery, parte da propriedade está em terras caiovás, porque existem vestígios de cemitérios indígenas no local, onde foram sepultados ancestrais da tribo. Segundo o administrador da Funai em Amambaí, Gildo Martins, isso dá direito aos índios de reivindicarem a área. "Foi em busca desse direito que começaram os conflitos com os fazendeiros", disse o administrador.

No dia 4, um grupo de 200 índios invadiu a Fazenda Madama e armou uma maloca (habitação coletiva rústica) a poucos metros da sede da propriedade. No dia 9, 40 homens armados com revólveres e espingardas chegaram à fazenda em 12 caminhonetes e expulsaram os invasores com intenso tiroteio. Com gritos de "mata, mata, mata", explosões de rojões, promoveram "um verdadeiro inferno", conforme uma das testemunhas que estão sendo ouvidas pela Polícia Federal de Ponta Porã.

Na confusão, a índia Churitê Lopez, de 70 anos, foi atingida por um disparo no peito e morreu no local. Outros dois tiros atravessaram a perna direita do índio Valdecir Ximenez, de 22 anos.

"Quem pôde saiu correndo feito doido e se embrenhou no mato. Quem não pôde ficou lá, à mercê dos bandoleiros", disse outra testemunha. Dez ou oito índios, entre eles Valdecir e o corpo de Churitê, foram levados em caminhonetes e despejados nas proximidades da Aldeia Jaquapery.

INVESTIGAÇÃO

Tanto a Polícia Federal quanto o Ministério Público Federal investigam pistas deixadas pelos agressores. Segundo o delegado Alexandre Fresneda, três pessoas da empresa de segurança contratada pelos fazendeiros deverão depor na sexta-feira.

O presidente do Conselho Indigenista Missionário, o bispo Erwin Kräutler, manifestou-se ontem sobre o episódio. Em nota oficial acusou os fazendeiros de contratarem "jagunços, seguranças privados e pistoleiros para resolverem à força disputas sobre terras"

D. Erwin também afirmou que as milícias agem com a certeza da impunidade: "Os matadores continuam soltos, enquanto dezenas de índios estão presos."

OESP, 17/01/2007, Nacional, p. A9

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