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Cai número de mortes por desnutrição entre os índios que moram no lavrado

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
13 de Mar de 2005

A morte de crianças por desnutrição no Distrito Sanitário Leste (DSL), que abrange todas as comunidades indígenas de Roraima, exceto os Yanomami, vem caindo nos últimos anos. Em 2002, foram registradas 13 mortes, caindo para quatro em 2003 e duas no ano passado.
Esse resultado, segundo o coordenador médico do DSL, Paulo Daniel Moraes, é um dos melhores entre as comunidades indígenas no Brasil. Para se ter uma idéia, de 2003 para 2004, a mortalidade entre crianças indígenas aumentou em 13 dos 34 Distritos Sanitários do país.
A taxa de mortalidade infantil por causas gerais na região é de 35,8 em cada grupo de mil nascidos vivos, enquanto que a média nos demais distritos é de 44,4 por mil. Em Roraima, essa taxa é de 36,6, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), um pouco acima do registrado no DSL, apesar de o serviço médico das áreas não indígenas dispor de mais recursos tecnológicos para cuidar da saúde dos menores.
Em todo o ano de 2004, morreram 52 crianças de zero a quatro anos no DSL. As doenças do aparelho respiratório, principalmente a pneumonia, foram responsáveis pelo maior número de vítimas, 19 no total. Paulo Daniel ressaltou que essas enfermidades são as maiores causas de morte em todo o mundo, não só na área indígena. Ao todo, 126 índios morreram por doença no ano passado, sendo um idoso por desnutrição.
O atendimento médico das áreas indígenas é feito pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), através de um convênio com a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), no valor de R$ 7 milhões ao ano.
Segundo Paulo Daniel, que é pediatra e médico sanitarista, o trabalho é focado na prevenção. Para isso, 450 agentes de saúde indígena foram capacitados para atuar diretamente em suas comunidades, em conjunto com médicos, enfermeiros, dentistas, bioquímicos e outros profissionais de saúde que fazem visitas nas aldeias.
Como ainda não há um padrão definido de peso e altura para os indígenas do lavrado roraimense, diz que não dispõe de estatísticas sobre o baixo peso nas diversas etnias que integram o DSL. Destaca, no entanto, que as equipes médicas fazem o controle da desnutrição, pedindo e medindo as crianças todos os meses.
O DSL atende uma população de 35.065 pessoas, sendo 4.780 menores de cinco anos. Entre adultos e crianças, 121 sofreram de desnutrição. O baixo peso, segundo o médico, decorre de uma associação de fatores como o abandono de crianças e idosos com a morte de seus familiares próximos, doenças graves como a diarréia e carência alimentar em algumas regiões que já não apresentam condições de caça e pesca, para suprir as necessidades por proteína.
A doença é combatida com acompanhamento médico, suplementação alimentar com a doação de leite e farinhas para as crianças e cestas básicas para os idosos e conscientização das comunidades de que é preciso ajudar quem perdeu os parentes.
No caso das doenças respiratórias, os agentes de saúde são treinados para identificar com rapidez os casos e encaminhar os mais graves para Boa Vista, por meio de remoção. Toda a população é vacinada, anualmente, contra a gripe.
Também recebem doses para imunizá-los contra a tuberculose, que também é muito comum na região e contra a catapora. Além disso, os menores de cinco anos são vacinados quatro vezes por ano, cumprindo todo o plano do Cartão de Vacina usado em nossas crianças.
O DSL atende 258 comunidades indígenas. Em 218 há postos médicos, cuja construção, na maioria dos casos, segue o padrão das casas da região e 72 laboratórios habilitados para a realização de exames que identificam a malária, tuberculose e verminoses.
O número de médicos, no entanto, é insuficiente para atender toda a demanda. São quatro profissionais contratados pelo CIR e nove pelas prefeituras que também são conveniadas com a Funasa. Paulo Daniel afirma que além da falta de recursos financeiros para novas contratações, os médicos não se interessam em prestar serviços nas comunidades indígenas.

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