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Brasil faz aposta no ecoturismo

OESP, Viagem & Aventura, p.V10
19 de Out de 2004

Brasil faz aposta no ecoturismo
País tem potencial, mas muitas cidades ainda não estão preparadas para o turista
Adriana Moreira
Especial para o Estado
Aventurar-se por destinos onde o conforto não é o atrativo principal – e sim emoções fortes, adrenalina e contato com a natureza. O ecoturismo atrai cada vez mais adeptos e mostra que tem muito potencial a ser explorado.
O ecoturismo está em expansão”, afirma o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. Não é por acaso. O País tem uma geografia privilegiada, que favorece a prática de rafting, rappel, mergulho, tirolesa e trekking, entre outros esportes radicais.
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Ecoturismo (IEB), João Allievi, o ecoturista é, essencialmente, urbano. Quem mora nas grandes cidades tem essa necessidade de respirar ar puro, procurar um pouco de verde”, diz.
De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), o setor cresce 20% ao ano em todo o mundo, enquanto o turismo tradicional contabiliza uma taxa de crescimento de 7%. O Brasil ainda não tem números oficiais, mas estima-se que a atividade cresça de 25% a 30% ao ano.
O presidente do Bureau Brasil de Ecoturismo, Israel Waligora, acredita que o mercado é ainda maior do que parece. Muita gente viaja por conta própria, sem recorrer às operadoras”, explica.
Waligora também é diretor da Ambiental Expedições, operadora que está no mercado de aventura desde 1987. Segundo ele, em meados dos anos 1980 as pessoas que procuravam destinos de ecoturismo eram mais dispostas a viajar com uma infra-estrutura ainda ineficiente. A demanda por Bonito, em Mato Grosso do Sul, estava apenas começando”, diz. Hoje, a cidade é referência em ecoturismo no Brasil e é considerada exemplo de desenvolvimento sustentável e preservação do meio ambiente.
Brotas, no interior de São Paulo, também destaca-se por ter sua estrutura de turismo. Para Waligora, no entanto, ainda há muito o que fazer. Muitas cidades não estão preparadas para receber o turista.”
Investimentos
Com a criação do bureau, lançado há pouco mais de um mês, a expectativa é de que cresçam os investimentos para estruturar o segmento. A parceria com a Embratur deve ajudar na capacitação e divulgação do ecoturismo”, explica Waligora. Precisamos entender o setor. A médio prazo, iremos contabilizar o fluxo de pessoas nesses destinos.”
Dez empresas integram a organização, mas a idéia é que esse número seja ampliado, de acordo com o diretor de Turismo, Lazer e Incentivo da Embratur, Airton Pereira. As operadoras que fazem parte do bureau têm 75% de seus produtos voltados para o ecoturismo. A demanda no segmento é forte e, por isso, exige uma operação especializada.”
Para Waligora, o ecoturismo brasileiro é promissor. Queremos aumentar o fluxo de visitantes, mas garantindo a qualidade de operação, com respeito ao meio ambiente e segurança. As empresas que fazem parte do bureau têm essas questões presentes”, afirma.
O ministro do Turismo também está otimista com o segmento. Os empresários do setor já estão maduros, mas o Brasil ainda está na pré-escola. Acredito que daqui a cinco ou dez anos o País possa ser um dos maiores destinos de ecoturismo do mundo.”

Certificação é essencial para atrair turistas estrangeiros
Enquanto o Ministério do Turismo prepara as normas, a Embratur divulga no exterior os 50 destinos já mapeados
Adriana Moreira
Especial para o Estado
Apesar de ter a paisagem como trunfo, a falta de normas para o setor atrapalha o País na hora de atrair o turista estrangeiro. O mundo não olha o Brasil como destino de ecoturismo”, afirma o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. Pensando nisso, o ministério começa a criar um programa de certificação, com o apoio de empresários do ramo.
Encomendamos um estudo sobre o ecoturismo em países como Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Costa Rica, e no Estado do Colorado (EUA)”, diz a secretária de Programas de Desenvolvimento do Turismo, Maria Luisa Campos Machado Leal. Vamos buscar caminhos com base na experiência deles.”
Na Costa Rica, pelo menos 50% dos turistas procuram atividades relacionadas ao ecoturismo. Com 30% de áreas protegidas, 20 parques naturais e 8 reservas, o país investiu em leis fortes. Temos policiais especializados em ecoturismo nos parques e os moradores atuam como fiscais”, diz o cônsul-geral da Costa Rica no Brasil, Dom Rafael Acosta. Lá, as operadoras são certificadas e devem renovar suas licenças anualmente, algo que só consegue quem está de acordo com as normas do programa.
Com 14 parques nacionais que englobam um terço de seu território, a Nova Zelândia é outra referência em ecoturismo. O Ministério do Turismo local criou a Estratégia 2010 de Turismo para o país, que reúne princípios, objetivos e métodos para promover o desenvolvimento sustentável do setor para daqui a seis anos.
ISO BRASIL
No Brasil, a idéia é que a certificação seja feita por um sistema semelhante ao ISO. Uma das alternativas, segundo Maria Luisa, é conseguir o apoio de seguradoras, que cobrariam menos das agências certificadas. As agências vêm colaborando na criação das normas, que devem ficar prontas em cerca de seis meses.”
O presidente do Instituto Brasileiro de Ecoturismo (IEB), João Allivi, acredita que só a certificação não é suficiente. Ela é importante, mas não podemos depender só disso. Criar leis para normatizar a atividade é algo urgente, que os próprios municípios podem fazer.”
Mesmo sem a certificação, a Embratur já começou a divulgar o ecoturismo no exterior. Quando começamos a trabalhar os 11 segmentos de turismo de forma diferenciada, aventura e ecoturismo apareceram com muita força”, explica o diretor de Turismo, Lazer e Incentivo da Embratur, Airton Pereira.
A instituição mapeou 50 destinos de ecoturismo com infra-estrutura para receber turistas que são apresentados para as operadoras estrangeiras pelo programa Caravana Brasil. A última ocorreu entre 15 e 19 de setembro, no Pantanal e em Bonito (MS). A Embratur espera trazer para o Brasil, em 2007, 9 milhões de turistas estrangeiros e US$ 8 bilhões em divisas.

Segmento movimenta indústria especializada
Adriana Moreira
Especial para o Estado
A demanda crescente de visitantes em destinos ligados ao ecoturismo mexe não só com as cidades, mas com toda uma cadeia industrial. A necessidade de produtos especiais chamou a atenção de empresários, que decidiram investir nesse público. Estima-se que a indústria de equipamentos, vestuário e acessórios para o segmento movimente cerca de US$ 250 milhões por ano no País. Nos Estados Unidos, no entanto, o montante chega a US$ 8 bilhões.
O Brasil tem um potencial fantástico e lugares ainda inexplorados. O mercado nacional é embrionário e ainda tem muito a crescer”, acredita Sérgio Bernardi, diretor da Promotrade, empresa organizadora da Adventure Sports Fair, considerada a maior feira do setor e realizada anualmente em São Paulo.
Segundo Bernardi, ele e seu sócio, Sérgio Franco, perceberam que o mercado era promissor em 1997. Inicialmente, decidimos investir na organização de uma feira que reunisse vários segmentos de esportes e lazer”, conta. A primeira edição foi realizada em 1999, em uma área de 12 mil metros quadrados, com 105 estandes. O setor estava muito espalhado. A feira contribuiu para a divulgação do conceito e reuniu segmentos variados do turismo de aventura”, diz Bernardi.
Em 2004, a feira ocorreu em agosto, em um espaço de 24 mil metros quadrados, com 275 estandes. Entre os expositores, estava a marca nacional de calçados Tribo dos Pés. Dos 20 mil pares fabricados ao mês, 35% são voltados para esportes de aventura. O segmento projetou a marca”, conta o diretor comercial da empresa, Bernardino Pucci Neto.
Fundada há 11 anos, a marca não tinha uma identidade até 1999. Gosto de praticar esportes de aventura e não encontrava nenhum calçado que fosse confortável para o pé do brasileiro. Cheguei a perder as unhas dos dedos mindinho em uma corrida por conta de sapato apertado”, relata Pucci Neto.
Ele passou a desenvolver calçados para o segmento e hoje a empresa conta com pontos de venda em locais como Chapada Diamantina (BA), Brotas (SP) e, em breve, Bonito (MS). Segundo ele, a fábrica deve manter a mesma estratégia e assegurar o crescimento de 20 a 25% ao ano que conseguiu desde que passou a investir em esportes de aventura.
A Adidas também vem ganhando espaço nesse mercado. A empresa controla a Solomon, marca de calçados para modalidades outdoor que chegou ao Brasil em 2003, e ainda possui a linha Adventure, que tem uma proposta mais popular. A expectativa da empresa é que a Solomon tenha um crescimento anual de 25% no País. Portal defende ecoturismo responsável No ar há cinco anos, o portal EcoViagem (www.ecoviagem.com.br) é referência para os adeptos do ecoturismo responsável. Além de liderar a campanha Conheça, Preserve e Faça – apoiada por instituições, meios de hospedagem, agências e ONGs –, o site oferece ótimo conteúdo sobre esportes de aventura, roteiros de ecoturismo, informações sobre reservas naturais e atualizações diárias sobre as diversas áreas relacionadas.

OESP, 19/10/2004, p. V10

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