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Brasil desperdiça três usinas de Belo Monte com bagaço de cana

OESP, Especial, p. H4
11 de Jun de 2010

Brasil desperdiça três usinas de Belo Monte com bagaço de cana
Falta de estratégia do País impede um melhor uso da agroenergia, segundo Roberto Rodrigues

Anne Warth

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse que o Brasil possui um potencial para produzir energia elétrica com bagaço e palha da cana-de-açúcar equivalente a três usinas de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), empreendimento que terá capacidade instalada para produzir 4.571 megawatts médios.
"O bagaço e a palha já disponíveis no campo brasileiro dão três Belo Monte. Temos três Belo Monte dormindo no campo da cana brasileira, energia embutida e ainda não extraída por razões óbvias, porque não temos estratégia", declarou. "Produzir essa energia seria muito mais fácil e rápido do que ficar brigando com os índios no Xingu", ironizou Rodrigues.
Segundo o ex-ministro, a energia renovável representa 45% da matriz energética do Brasil, e 17% vêm da cana-de-açúcar, por meio do etanol e da bioeletricidade. "A cana-de-açúcar é hoje a segunda maior fonte de geração de energia no Brasil, só superada pelo petróleo, Ela é maior que a energia gerada por usinas hidrelétricas, embora quase ninguém saiba disso", ressaltou Rodrigues.
O ex-ministro criticou a ausência de uma estratégia articulada entre governo e setor privado para estimular a geração de energia por meio do bagaço e palha de cana. Segundo ele, o mecanismo é simples e consiste na mudança das caldeiras e na construção de linhas de transmissão mais próximas das usinas.
"Falta uma política mais forte que financie a caldeira, por exemplo. Falta estratégia dos governos estaduais para levar as linhas de transmissão para a usina. Você faz a eletricidade, mas ela tem de sair por alguma linha, algum fio, e quem vai levar o fio? Falta uma definição estrutural do governos federal, dos governos estaduais e até dos municipais, em parceria com o setor privado, para que isso avance de maneira substancial", explicou.
Rodrigues reiterou não ser contra a construção da Usina de Belo Monte. "Uma forma de energia não exclui a outra", disse. "A demanda do Brasil por energia será cada vez maior. A diferença é que uma está pronta: é só transformar o bagaço da cana em energia. A outra precisa passar por todo um processo de negociação ambiental e estrutural. Levar as linhas de transmissão até o Rio Xingu também não será tão fácil ou barato quanto trazê-las até uma usina localizada no Estado de São Paulo ou mesmo em Minas Gerais", comparou o ex-ministro.

OESP, 11/06/2010, Especial, p. H4

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100611/not_imp564767,0.php

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