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Brasil avança menos que outros Brics em desenvolvimento humano

FSP, Poder, p. A8-A9
03 de Nov de 2011

Brasil avança menos que outros Brics em desenvolvimento humano
Segundo indicador da ONU, melhorias são mais rápidas em emergentes como China, Índia e Rússia
O Brasil progrediu em expectativa de vida, escolaridade e renda, e alcançou nível que os EUA tinham há 40 anos

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO
LARISSA GUIMARÃES
DE BRASÍLIA

O Brasil tem avançado em alguns pontos nas áreas de saúde, escolaridade e renda, mas a passos mais lentos do que outros emergentes, como Rússia, Índia e China.
É o que mostra relatório divulgado ontem pela ONU sobre o Índice de Desenvolvimento Humano de 187 países.
O chamado IDH tenta medir e comparar o nível de desenvolvimento das nações com base em indicadores de expectativa de vida, escolaridade e renda per capita.
Pode variar de 0 a 1 _quanto mais alto, maior o nível de desenvolvimento do país.
Em 2011, o IDH brasileiro atingiu 0,718, e o país avançou uma posição no ranking da ONU, para o 84o lugar.
O resultado reflete expectativa de vida de 73,5 anos; 7,2 anos de estudo em média (para os com 25 anos); 13,8 anos de escolaridade esperados para mais jovens e renda per capita anual de US$ 10.162 (ajustada pelo custo de vida).
Segundo relatório divulgado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o IDH brasileiro cresceu a uma média anual de 0,69% de 2000 a 2011. O resultado está ligeiramente abaixo da expansão de 0,70% de países de desenvolvimento humano elevado, grupo ao qual pertence o Brasil.
Esse desempenho relativo é, no entanto, inferior ao dos demais Brics (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia e China). Os IDHs de Rússia, China e Índia subiram a uma velocidade bem maior que a da média dos grupos dos quais fazem parte, na última década.
O relatório da ONU não detalha o período em questão, mas um dos fatores que pode ter influenciado na diferença entre ritmos é o crescimento econômico nos últimos 11 anos, bem menor no Brasil.
"Esses países são os verdadeiros emergentes. O nível de água está subindo, mas eles sobem com velocidade ainda maior", afirma o economista Marcelo Neri, da FGV-Rio.
Quanto maior o nível de desenvolvimento de um país, mais lento tende a ser o ritmo de avanço do seu IDH porque a base de comparação vai se tornando mais elevada.
Por isso o ideal é que as comparações sejam feitas entre países do mesmo grupo. As divisões são: muito elevado; elevado; médio e baixo.

COMPARAÇÕES
Rússia e Brasil fazem parte do grupo de nações de desenvolvimento humano elevado. Já China e Índia são de desenvolvimento médio.
Apesar do avanço recente, o nível de desenvolvimento do Brasil no ano passado é inferior ao que países avançados como Noruega, EUA e Japão possuíam há 40 anos.
Milorad Kovacevic, chefe de estatísticas do Relatório de Desenvolvimento Humano 2011, ressalta que "é mais difícil para países grandes como China e Brasil atingirem padrão de vida mais alto do que para países pequenos".
Dez nações da América Latina (Chile, Argentina, Uruguai, Cuba, México, Panamá, Costa Rica, Venezuela, Peru e Equador) têm posições melhores que a do Brasil e indicadores de expectativa de vida e escolaridade mais altos.
O Brasil registra progresso nos dados de expectativa de vida, escolaridade média e renda. Já o número de anos esperados de estudo recua.
Técnicos do PNUD não sabem a causa, mas pode estar associada à maior oferta de trabalhos que não exigem escolaridade avançada.

Avaliação em prazos mais longos permite compreensão melhor
Abismo entre pobres e ricos diminuiu nos últimos anos, mas Brasil ainda se destaca entre os mais desiguais

ANTÔNIO GOIS
DO RIO

O IDH, divulgado desde 1990 pela ONU, representou um avanço ao difundir a ideia de que o desenvolvimento humano não poderia ser mensurado apenas por indicadores econômicos.
No entanto, justamente por ser uma síntese de estatísticas distintas, é preciso entender o que o índice revela e o que ele pode esconder.
Entram hoje no cálculo do IDH renda, expectativa de vida e escolaridade por serem indicadores possíveis de mensuração em quase todos os países. Mas ficam de fora aspectos importantes do desenvolvimento humano.
Na educação, a ONU leva em conta a média de anos de estudos, sem considerar a qualidade. A população adulta do Brasil, por exemplo, tem média de 7,2 anos de estudo -menos que o ensino fundamental completo.
Sabemos por outros levantamentos que o brasileiro está dois anos atrasado em relação à média dos países ricos em termos de aprendizado. Ou seja, sete anos de estudo aqui equivaleriam a cinco em países desenvolvidos.
O mesmo vale para a expectativa de vida. O IBGE estimou em 2000 que um quinto da vida do brasileiro é vivida com menos qualidade por limitações físicas ou problemas crônicos de saúde. No Japão, esta proporção é de apenas 3%.
Essas ponderações não invalidam o IDH, especialmente quando fugimos da tentação de reduzir o indicador a um mero perde e ganha de posições no ranking.
Numa análise de longo prazo, temos, por exemplo, uma visão melhor do quanto avançamos na redução da desigualdade no país.
Em 1990, o Brasil aparecia como campeão de desigualdade entre 45 nações avaliadas. A renda média dos 20% mais ricos equivalia a 34 vezes a dos 20% mais pobres. Hoje, a proporção é de 18.
Olhando apenas para nosso umbigo, talvez ficaríamos satisfeitos com a melhoria.
Mas, ao comparar 142 nações para as quais foi possível fazer esta conta, o relatório mostra que seguimos no top 10 da desigualdade, na décima colocação.
A comparação de indicadores no longo prazo, apesar de todas as limitações, ajuda a colocar melhor em perspectiva os avanços e os retrocessos registrados pelos países.

Satisfação do brasileiro equivale à de europeus

DE BRASÍLIA
DE SÃO PAULO

Em uma escala de 0 a 10, o brasileiro dá nota 6,8 ao avaliar a satisfação geral com sua vida, mesma pontuação de países como França e Alemanha, onde o desenvolvimento humano é classificado como muito elevado.
Entre os latino-americanos, os venezuelanos são os mais satisfeitos -a nota fica em 7,5, avaliação semelhante à da Noruega, país que ocupa a primeira colocação do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano.
Desde o ano passado, o Pnud divulga, além do IDH, o chamado IDH-D. O indicador contabiliza a desigualdade em distribuição de renda, educação e saúde. Alguns países têm pontos "descontados" -é o caso do Brasil.
Neste ano, o IDH-D do Brasil ficou em 0,519. Se o indicador for considerado no ranking geral de desenvolvimento, o país piora sua classificação e perde 13 posições.
A ONU não divulgou os dados revisados de 2010.
Além de abordar a desigualdade, o relatório do Pnud joga luz sobre as possíveis relações entre o desenvolvimento e os riscos ambientais, tema tratado neste ano.
Pelas projeções, o IDH global em 2050 poderá ser 8% mais baixo se não forem reduzidas as ameaças ambientais, como a poluição do ar e as alterações climáticas.
A atuação do Brasil na preservação ambiental é elogiada no relatório, que aponta "grande sucesso" na redução do desmatamento. Também cita que o país produz quase 85% de sua eletricidade a partir de energias renováveis.

FSP, 03/11/2011, Poder, p. A8-A9

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0311201109.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0311201111.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po0311201112.htm

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