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Brasil, África do Sul, Índia e China reafirmam Acordo de Paris

O Globo, Sociedade, p. 33
12 de Abr de 2017

Brasil, África do Sul, Índia e China reafirmam Acordo de Paris

Vivian Oswald

PEQUIM - No encontro do Basic, grupo formado por Brasil, África do Sul, Índia e China, para debater o clima, os quatro países avisaram que não pretendem voltar atrás nos compromissos de combate às mudanças climáticas firmados em Paris. O recado é claro e direcionado sobretudo aos Estados Unidos, que neste momento ameaçam deixar o acordo assinado por mais de 150 nações em 2015.
Os quatro países garantiram que estão mais comprometidos do que nunca com as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa - independentemente de uma nova postura que venha a ser adotada por outras nações daqui por diante.
Durante a reunião ministerial que durou dois dias em Pequim, anunciaram que já estão tomando medidas para implementar as suas metas e tirar do papel todos os compromissos firmados na capital francesa. Trata-se de uma tentativa de salvar os resultados do entendimento, sobretudo por parte da China, que agora se posiciona como um dos principais defensores do combate à mudança do clima. A pedido de Donald Trump, os americanos estão revendo todas posições do ex-presidente Barack Obama sobre o tema, o que poderia tirar os Estados Unidos, o segundo maior poluidor do mundo, da lista das nações que se comprometeram com as novas metas.
Este foi o primeiro encontro do Basic (o grupo dos quatro países criado em 2009 para trocar ideias sobre o clima) desde a eleição que levou o republicano ao comando da Casa Branca. E a posição americana ganhou destaque na agenda principalmente por pressão dos chineses. De acordo com o sub-secretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia, José Antônio Marcondes de Carvalho, o aquecimento global é um problema de todos que precisa ser resolvido por todos.
- Esse é um desafio global que precisa ser atacado por todos. Não é um esforço que pode ser devolvido por um apenas. Uma andorinha que não fará a redução do aquecimento global. É um problema e uma ameaça global que requer definitivamente uma resposta global e a ação de todos - disse ao GLOBO, lembrando que o Brasil foi um dos países que se comprometeu com as metas mais ousadas, apesar de ser uma nação em desenvolvimento.
O embaixador destacou que, neste momento, há incertezas pairando sobre o acordo. E os Estados Unidos são apenas uma delas. A saída do Reino Unido da União Europeia e as eleições em países europeus, em sua avaliação, também podem influenciar o resultado da conferência do clima.
NOVO LÍDER NO COMBATE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
A China tem tentado se impor como um novo líder no debate sobre o clima. Ontem, o enviado especial do governo chinês para o assunto, Xie Zhenhua, avisou que o país não só vai manter o seu compromisso, como pretende ultrapassar a meta para 2020. Estados Unidos e China são os dois maiores poluidores do mundo. O chinês defendeu o combate à mudança do clima como uma oportunidade mais do que um desafio para os países em desenvolvimento. Segundo ele, os investimentos trilionáros necessários para a adoção das medidas com as quais se comprometeram os países devem criar um gigantesco mercado.
Para a vice-ministra de Meio Ambiente da África do Sul, Barbara Thompson, a posição dos Estados Unidos é muito pouco clara neste momento.
- Existem diferentes visões dentro da nova administração. Mas podemos mandar uma mensagem política. Temos de nos manter firmes e reiterar nossos próprios compromissos, o que pode ter efeitos positivos - disse Thompson.
No comunicado final do encontro, os ministros "reiteram o compromisso inabalável de seus governos com o esforço global contra a mudança do clima". E instaram todos os signatários a seguir adiante e manter o seu apoio ao acordo de Paris pelo bem da humanidade e das nossas futuras gerações", diz o documento. Eles pediram que os países desenvolvidos honrem os compromissos que assumiram e compram com a meta de financiamento de US$ 100 bilhões para o financiamento das novas ações.
- A mensagem principal dessa reunião do Basic é, sim, os quatro países estamos atuando para concluir o trabalho não terminado que é de regulamentar os dispositivos de Paris. E, número dois, sim, nossos países estão trabalhando de forma acelerada e diligente nos preparativos para a implementação das ações de cada um dos compromissos que nossos países colocaram para o acordo de Paris - disse o embaixador brasileiro.
Segundo ele, é importante lembrar a responsabilidade comum, porém diferenciada.
- Não é um posicionamento político sem base. A ciência mostra qual é o tempo de permanência desses gases de efeito estufa na natureza, na atmosfera. Estamos sofrendo hoje os efeitos de gases acumulados desde a Revolução Industrial. A responsabilidade comum, porém diferenciada, decorre não só deste fato histórico e desta realidade científica, mas também do fato de que países em desenvolvimento como o Brasil temos outras realidades e necessidades que outros países mais ricos não têm, que é o caso da erradicação da pobreza.

O Globo, 12/04/2017, Sociedade, p. 33

http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/brasil-africa-do-sul…

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