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Boas ações na Amazônia: educação e valorização da floresta para desenvolvimento

Amazonia.org.br - www.amazonia.org.br
Autor: Fabíola Munhoz
21 de Dez de 2009

A Amazônia termina o ano no centro das discussões internacionais sobre mudanças climáticas, por ser parte de um problema a ser resolvido: o desmatamento, que contribui com as emissões de gases do efeito estufa globais.

Mas, se é verdade que a região apresenta devastação da floresta e os menores índices de desenvolvimento humano, além de grandes conflitos sociais, como a disputa por terras, também é fato que nem só de projetos concentradores de renda e danos ao meio ambiente vive o local.

São cada vez mais comuns na Amazônia iniciativas criadas por organizações não-governamentais (ONGs), governos, movimentos sociais e povos da floresta, que têm por objetivo criar alternativas de economia sustentável e redução das desigualdades sociais.

Exemplo disso é o projeto de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd) dos índios Suruí, que tem como o objetivo central apoiar a implementação do plano de gestão de 50 anos do povo paiter (suruí) de Rondônia.

Trata-se de uma iniciativa da Associação Metareilá do Povo Indígena Suruí, desenvolvida com apoio de: Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Forest Trends, Equipe de Conservação da Amazônia (ACT), grupo Katoomba, Google, Instituto Jane Goodall e Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).

O foco da ação é a conservação da floresta da Terra Indígena (TI) Sete de Setembro e também de sua área de influência, nos municípios de Cacoal e Espigão D'Oeste (RO) e Rondolândia (MT), totalizando cerca de 248 mil hectares.

"O projeto beneficia o povo indígena suruí, a população de não-índios que vivem em Rondônia, e a população do planeta, pois manter a floresta em pé é garantir o equilíbrio do clima, beneficiando toda a humanidade", diz Almir Narayamoga Suruí, presidente da Associação Meteirelá, que é idealizador do plano e o coordena com outros quatro líderes suruí.

O meio usado para propor a conservação da floresta existente da TI dos Suruí é um mecanismo baseado no cálculo das emissões provenientes do desmatamento que são evitadas no local.

A referência usada para essa conta tem como base a projeção do desmatamento futuro. A previsão é de que a emissão de 16,5 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2 eq.) Seria evitada até 2050 com o projeto implementado.

"O plano também envolve proteção ao meio ambiente, educação, saúde, cultura, programa de geração de renda, fortalecimento institucional e reflorestamento", acrescenta Almir.

Ainda sem forma de financiamento prevista, a iniciativa pretende arrecadar recursos do mercado voluntário e aplicar os valores arrecadados diretamente em suas ações. A divisão do dinheiro será entre custos transacionais, desenvolvimento de opções de renda para as populações locais, pagamento direto a indígenas e produtores, e estabelecimento de um fundo fiduciário a ser destinado à manutenção do projeto, dentre outras necessidades.

"O projeto foi finalizado e lançado agora em Copenhague [onde aconteceu a Conferência das Partes sobre o Clima, na Dinamarca]. Estamos recebendo as propostas, mas ainda não firmamos nenhum acordo. Faremos parcerias com os que considerarmos que atende o que planejamos", diz Almir.

Educação nas ondas do rádio

O financiamento de práticas de Redd não é a única solução para os riscos de desaparecimento da biodiversidade amazônica. A prática tem mostrado que somente incentivos em conscientização e informação poderão romper o atraso social da região.

Nessa linha de pensamento, foi criado o projeto Rádio pela Educação, desenvolvido desde 1999, com a meta de contribuir para a melhoria da qualidade da educação no ensino fundamental de municípios da Amazônia, a partir da educomunicação.

Esse é um método de ensinar, que emprega veículos de comunicação, como o rádio, para valorizar os direitos da criança e do adolescente e promover o desenvolvimento de senso crítico nas comunidades escolares envolvidas.

O principal instrumento do projeto, que atende os alunos do ensino fundamental das redes públicas municipais, é o Programa de Rádio Para Ouvir e Aprender, veiculado pela Rádio Rural de Santarém (PA) às segundas, quartas e sextas-feiras, nos horários de 7h30 às 8h e de 14h05 às 14h35. Durante trinta minutos, o programa leva à sala de aula 14 sessões alternadas, que transmitem informações sobre a realidade da Amazônia, contadas por crianças, adolescentes, professores e comunitários das zonas urbana e rural.

Dentre as sessões apresentadas no programa, está a Rede de Repórteres Educativos. Esse é um espaço que alunos selecionados nas escolas têm, para se expressar e participar da construção de valores éticos e educativos.

São os próprios estudantes repórteres que produzem matérias para a equipe técnica da rádio editar e incluir no programa. O grupo recebe capacitação duas vezes por ano, assim como gravadores e fitas K7 para que possam retratar o cotidiano da sua escola e da comunidade, de acordo com seu ponto de vista.

"Os alunos têm mostrado maior interesse pelas aulas, poder de concentração que começaram a ter com o exercício da escuta, desempenho na expressão oral e escrita, envolvimento com as atividades na escola, entre outros avanços", diz a coordenadora do projeto, Rosa Rodrigues.

A iniciativa desenvolvida pela Diocese de Santarém e executada pela Rádio Rural conta com parcerias importantes, como a Secretaria Municipal de Educação de Santarém, o projeto Criança Esperança da Unesco e a Fundação Banco do Brasil, que custeiam as ações.

Apesar do suporte financeiro, o projeto encontra dificuldades, como obstáculos ao monitoramento das ações pretendidas e a falta de profissionais que atendam às demandas cada vez maiores dos beneficiários da ação.

"A maioria das escolas envolvidas está na zona rural. Então, temos essa dificuldade de acompanhamento. Também, a emissora [Rádio Rural] vem apresentando dificuldades de manter a infraestrutura de produção dos programas e dos horários de veiculação, que são despesas importantes", conta Rosa.

Outras boas práticas

Projeto de Redd da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma

A iniciativa da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em parceria com o Governo do Estado do Amazonas, é desenvolvida na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, localizada no município de Novo Aripuanã (AM).

O projeto tem como ação principal calcular as emissões evitadas na reserva, a partir da conservação da floresta do local. O projeto inclui atividades adicionais, como o manejo florestal sustentável. Com a iniciativa, pretende-se evitar a emissão de 189 milhões de toneladas de CO2 eq., que seriam emitidas até 2050. A ação é financiada por meio da compensação das emissões dos hóspedes da rede de hotéis Marriott International. Os recursos vêm sendo alocados de acordo com o Plano de Gestão e do Programa Bolsa Floresta da Rede de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Juma.

Telinha de Cinema

A Secretaria Estadual da Educação de Rondônia, o Instituto Vivo e a ONG Casa da Árvore formaram, neste mês, a primeira turma de alunos do projeto Telinha na Escola.

A ação tem como objetivo incentivar o uso de novas tecnologias em sala de aula, utilizando o celular como instrumento pedagógico. Executado pela Secretaria de Estado de Educação de Rondônia, o programa se baseia em treinamento, suporte e metodologia desenvolvida pela ONG Casa da Árvore, com apoio e concepção do Instituto Vivo.

Quarenta jovens, de 13 a 19 anos, das escolas de Porto Velho (RO) Flora Calheiros e Marcello Cândia, já estão capacitados a produzir, filmar, editar e publicar vídeos por celular. Desde agosto, quando o projeto foi iniciado, eles tiveram aula três vezes por semana, em turno contrário ao de seus estudos e com carga horária de nove horas semanais.

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