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Bioenergia chega à agricultura familiar

FSP, Agrofolha, p. B12
08 de Ago de 2006

Bioenergia chega à agricultura familiar
Pequenos produtores em grupos ou em cooperativas passam a ter acesso a miniusinas para produzir álcool e biodiesel
Feira especializada em produtos para agricultura familiar, realizada em São Paulo, negocia R$ 14,5 mi, com crescimento de 179%

MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL A AGUDOS

A agricultura familiar começa a sair do noticiário político dos jornais e avançar para o de economia. Visto antes como uma atividade improdutiva e de subsistência, o setor mostra desempenho melhor até do que a agricultura empresarial, que passa por momentos difíceis devido ao câmbio e à redução de renda dos produtores.
A análise é de José Carlos Pedreira, diretor da Hecta, empresa que organizou a 4ª Agrifam (feira da agricultura familiar) da Fetaesp (federação dos trabalhadores) neste final de semana, em Agudos (SP).
Os resultados da feira mostram que a agricultura familiar toma impulso, com as negociações atingindo R$ 14,5 milhões neste ano -avanço de 179%.
Braz Albertini, presidente da Fetaesp, diz que a situação da agricultura familiar é melhor porque ela se endividou menos. Mas, para ele, essa é uma das barreiras do setor. "Os bancos têm dinheiro, mas preferem emprestar para os grandes."
A maior estruturação da agricultura familiar atrai a atenção de grandes empresas, como a multinacional Amanco, o Pão de Açúcar, o Carrefour e a Jacto (implementos). Abre as portas, também, para a formação de outras indústrias com o foco específico no pequeno produtor. É o caso da Stoker Máquinas Agrícolas, que "resgatou" um modelo de plantadeira manual muito usada há 60 anos.
Além do interesse das grandes empresas no setor, os agricultores familiares também começam a se interessar por novas tecnologias desenvolvidas basicamente para grandes produtores: álcool e biodiesel.
Com investimento de R$ 150 mil, o produtor pode montar uma usina de biodiesel para produzir 500 litros/dia usando 1.500 quilos de girassol. A usina é ideal para cooperativas ou para vários produtores em assentamentos, diz Rainier Cortes Ferreira, da RC Projetos e Assessoria Técnica Industrial.
Os investimentos em uma miniusina de álcool vão custar um pouco mais: R$ 255 mil. Segundo José Limana, proprietário da Limana Poliserviços, o investimento é ideal para um grupo de produtores ou para cooperativas. A miniusina produz 50 litros de álcool por hora, utilizando 20 a 25 toneladas diárias de cana-de-açúcar.

Repensar a agricultura
Shiro Nishimura, diretor-presidente da Jacto, uma das principais fornecedoras de equipamentos agrícolas no país, diz que "a agricultura precisa ser revista".
Se a coisa vai mal do lado da agricultura empresarial, o mesmo não ocorre com a familiar. Esta produz alimentos para o consumo interno, que não tem problemas de demanda ou com o real forte, diz Nishimura.
Nishimura diz que a Jacto demitiu mil funcionários do setor de produtos para a agricultura empresarial nos últimos 12 meses. Já a demanda crescente de máquinas e equipamentos para a produção de frutas e verduras fez a empresa dobrar o turno de produção nesse segmento nos últimos meses.
A presença dos grandes supermercados na feira tem dois objetivos: conhecer melhor o mercado e colocar nas lojas produtos que dêem sustentabilidade ao pequeno produtor.
Para os representantes dos supermercados, as escalas de vendas desses produtores são pequenas, mas é um produto que interessa ao varejo.
É fundamental, no entanto, que eles se organizem em associações para aprender a produzir o mais adequado para o mercado e também para desenvolver técnicas de negociação e de distribuição.
A multinacional suíça Amanco também vê na agricultura familiar um bom campo de vendas. A empresa fornece sistemas de irrigação para pequenas áreas. Um dos objetivos é o fornecimento de tecnologia para que o pequeno produtor possa ser inserido no processo produtivo, diz o supervisor de vendas da empresa, André Breda.

FSP, 08/08/2006, Agrofolha, p. B12

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