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Bertin sai do consórcio de Belo Monte, mas nega dificuldades financeiras

O Globo, Economia, p. 22
17 de Fev de 2011

Bertin sai do consórcio de Belo Monte, mas nega dificuldades financeiras
Grupo garante que participará do Rodoanel e que tem interesse no trem-bala

Lino Rodrigues e Marcelle Ribeiro

O grupo Bertin negou ontem que esteja passando por dificuldades financeiras, mas confirmou que não vai mais exercer a opção de 9% que a sua subsidiária, a Gaia Energia, detinha como autoprodutor no projeto de construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. O presidente da Bertin Energia, José Malta, disse que o grupo não terá "ônus nem bônus" com a decisão, uma vez que não precisará mais aportar R$1,93 bilhão na construção da usina e tampouco receberá pelos 9% que a Gaia detinha no consórcio Norte Energia, liderado pela Eletrobras.

- Vamos focar nossos recursos nos projetos das usinas térmicas que estão em implementação. A decisão foi tomada esta manhã (ontem). Qualquer coisa que saiu antes é pura especulação. Não estamos saindo, mas exercendo nossa prerrogativa de não participar como autoprodutor. Continuamos como integrantes do grupo construtor com a Contern - disse Malta, salientando que a saída do grupo não significa que tenha alguma dúvida sobre a viabilidade do projeto. - É um projeto bom, rentável e um excelente gerador de caixa.

Segundo o executivo, não será o Bertin que irá negociar possíveis novos sócios para substituir a Gaia na condição de autoprodutor, mas os dirigentes do Norte Energia. Com isso, o grupo ficará com uma participação simbólica (de 1,25%) que sua outra subsidiária na área de construção, a Contern Construtora, vai manter no projeto de Belo Monte. Ele lembra que, na área de energia, o grupo está tocando 30 projetos de térmicas, que passam a ser a prioridade.

Três empresas já disputam vaga de Bertin em Belo Monte

Com relação ao Rodoanel, no qual o Bertin controla o consórcio SPMar, o presidente da Contern e responsável pela área de infraestrutura, Antonio Kelson, disse que a empresa em momento algum pensou em sair do negócio e que os R$ 370 milhões que deveriam ter sido depositados no início do mês, referentes à outorga fixa estipulada para os trechos sul e leste, serão quitados até março, depois de levantamento sobre as obras realizadas.

- Foi uma obra inaugurada às pressas em função das eleições. Foram constatados vários problemas, que estamos identificando para cobrar das construtoras ou do Estado - disse Kelson, que acredita que existe um "bombardeio de notícias" para prejudicar a imagem do grupo Bertin, que acabou se transformando em um dos principais aliados do governo nas grandes obras de infraestrutura.

Kelson disse ainda que o grupo não desistiu de participar do projeto do trem-bala, que vai ligar as cidades de Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. Segundo o executivo, o projeto de mais de R$35 bilhões tem riscos ambientais, mas a empresa está negociando com um grupo coreano a participação na obra.

A empresa Norte Energia, que reúne os sócios controladores do consórcio, disse ontem que não comentaria a saída da Bertin do grupo de controle. Amanhã será realizada uma reunião que já estava prevista pela empresa, quando deverá ser discutida a entrada de um novo sócio que tenha o mesmo perfil do Bertin, isto é, que seja autoprodutor de energia. Segundo fontes, três empresas estão disputando essa nova vaga no controle da Norte Energia.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou ontem que a decisão sobre a concessão de uma licença definitiva para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, será técnica e baseada em laudos do Ibama.

Ministra a Lobão: decisão de licença é do Meio Ambiente

Ela destacou que não aceitará interferências e contestou uma previsão do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que, em janeiro, anunciou que a permissão para a obra seria concedida até o fim deste mês:

- O ministro Edison Lobão fala do setor dele. Quem vai liberar a licença é o Ibama. Você ouviu a ministra do Meio Ambiente falar? Não. Você ouviu o presidente do Ibama falar? Não. Nós vamos anunciar quando a licença sair. Se tiver que sair a licença, ela será publicada.

Apesar do tom, Izabella afirmou que tem "excelentes relações" com seu colega da pasta de Minas e Energia.

- O ministro pode solicitar. Pedir faz parte do processo. Ele, como ministro de Minas e Energia, tem competência e o papel de indicar as prioridades de sua pasta. Lobão está dizendo que Belo Monte é uma prioridade, mas não está impondo nada para o licenciamento - afirmou.

O Globo, 17/02/2011, Economia, p. 22

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