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Asfalto na Floresta: BBC Brasil percorre a BR-319 na Amazônia

BBC Brasil - www.bbc.co.uk
27 de Out de 2009

"Breve hotel e"

Da estrada - se é que se pode chamar assim o trecho da BR-319 em frente à Vila Realidade, a 100 quilômetros de Humaitá - pode-se ver a placa de madeira pintada à mão em frente a uma casa de alvenaria em construção que diz: "Breve hotel e".

No galpão aberto ao lado, uma outra placa pintada à mão complementa a informação e não deixa dúvidas: "Restaurante, serve-se comida".

O estabelecimento pertence a Edith Alves Pantoja, que mora no Realidade desde fevereiro, com o marido e quatro filhos.

A obra do hotel, que um dia deve chegar a ter dez quartos, está parada por falta de dinheiro. Isso não chega a surpreender.

O movimento nesta altura da BR-319 é mínimo. Dona Edith se vira fazendo pão para outros moradores - "10, 12 por dia" - e comida para os raros visitantes.

"Se a pessoa esperar a gente faz uma comida. Não que eu faça comida e fique esperando, não."

Tudo pode mudar com a reabertura da BR-319.

Para quem segue rumo a Manaus, o Realidade é o último vilarejo digno de menção antes de um trecho de 400 quilômetros, praticamente desertos, com a exceção de alguns moradores isolados.

Os olhos de dona Edith brilham quando ela fala da possibilidade do recapeamento da rodovia.

"Podia abrir a BR para poder passar gente por aqui. Mas se não abrir, sempre tem um ou outro que vai precisar dormir aqui", afirma.

A obra do único hotel da Vila Realidade começou em dezembro e não tem data para acabar.

Atualmente, o marido de dona Edith trabalha em Humaitá, a cerca de 2h30m de ônibus, durante a semana para juntar o dinheiro necessário para concluir a obra.

"Quem sabe em três anos", sonha dona Edith.

"Isso aqui é feio para caramba"

Depois de uma caminhada de uma hora sem parar pela Floresta Amazônica encontramos um grupo do serviço geográfico do Exército que trabalhava na demarcação do Parque Estadual de Tapauá.

Com eles, estavam 22 alunos do Instituto Militar de Engenharia (IME) em viagem de instrução pela Amazônia. Faz parte da formação dos futuros geógrafos e cartógrafos militares.

Atentamente, observavam a instalação do sofisticado aparelho de GPS que indicou o local exato para a instalação do marco do parque e depois ainda foram arguidos pelo comandante do serviço, o general Pedro Ronalt Vieira.

Enquanto eu trabalhava intensamente nas três línguas em que tenho mandado material de volta a Londres, o nosso guia, o geógrafo Luiz Cleyton Holanda, observou uma cena curiosa:

Um dos estudantes, fardado, comentou em voz alta com seus colegas que não entendia por que tanto barulho pela preservação da Amazônia.

"Isso aqui é feio para caramba", disparou.

Cleyton, um apaixonado pela Amazõnia, se controlou para não partir para o ataque.

No fim das contas, quem sofreu fui eu. O aluno do IME também era carioca....

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