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Árvores carregam a História da poluição em São Paulo

O Globo, Sociedade, p. 22
14 de Ago de 2018

Árvores carregam a História da poluição em São Paulo
Por meio de amostras dos troncos de tipuanas, cientistas brasileiros traçaram evolução da concentração de elementos químicos na atmosfera da cidade

HELENA BORGES
hborges@edglobo.com.br

Caminhando por São Paulo, é comum encontrar uma espécie de árvore com copa ampla e flores amarelas, a mais comum na cidade. Dentro de seus troncos, as tipuanas carregam um registro da evolução da poluição ambiental nas últimas décadas. Elas absorvem pelas raízes, ao longo da vida, elementos químicos como metais pesados, presentes na atmosfera e levados para o solo pelas chuvas. Uma vez absorvidos, os minérios ficam presos nos pequenos canos por onde passa a seiva - como se fossem os vasos sanguíneos da planta. E ficam armazenados em sua madeira, nos anéis de crescimento anual.
- Esse processo não é exclusivo das tipuanas, as escolhemos por terem uma idade que permite ver o processo de desindustrialização que aconteceu em São Paulo, passando de polo industrial para um centro de serviços - explica Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP.
MENOS CHUMBO
Originária da Bolívia, a espécie começou a ser plantada na cidade antes de 1950. Pesquisadores do Instituto de Biociências e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estão usando os troncos para analisar os níveis de poluição da
cidade por metais pesados e outros elementos químicos.
O tronco de uma árvore é formado por anéis de crescimento anual. A cada aniversário, um círculo concêntrico se completa na parte interna do tronco, cada vez mais distante do centro. Ao analisar a composição química deles, os pesquisadores conseguem medir a concentração de metais pesados no solo de um determinado ambiente no ano emqueoanelfoiformado. Assim, é possível avaliar como a presença desses elementos químicos variou em uma escala de décadas.
Os pesquisadores constataram que a poluição por cádmio, cobre, níquel e chumbo foi reduzida na zona oeste de São Paulo nos últimos 30 anos. Em 1988, por exemplo, o Brasil foi um dos primeiros países a retirar o chumbo da lista de aditivos na gasolina. O reflexo da lei é perceptível nos troncos das árvores.
Os experimentos também foram feitos com as outras duas espécies de árvores mais comuns na cidade: o alfeneiro e a sibipiruna.
As cascas da tipuana também permitem avaliar a concentração de elementos químicos presentes na atmosfera atual. Ao medir a concentração de elementos químicos de amostras de cascas de diversas árvores espalhadas por São Paulo, consegue-se avaliar a variação espacial
desses elementos.
- Como a casca é uma parte mais simples de se obter da planta do que os anéis de crescimento anual e o custo das análises químicas delas também é menor, é possível avaliar as cascas de diversas árvores e cobrir uma grande área- disse Giuliano Maselli Locosselli, pós-doutorando no IB-USP.
Para obter amostras dos anéis de crescimento, algumas das quais tinham 35 anos de idade, foi usada uma sonda que é capaz de extrair uma amostra cilíndrica do interior da árvore, mostrando todos os seus anéis, da casca ao centro, sem prejudicá-la.
As amostras, de 15 milímetros, dos anéis de crescimento anual das árvores foram encaminhadas para o Instituto de Química da Unicamp, onde foram analisadas.
Anéis de crescimento anual armazenam compostos presentes no ambiente

O Globo, 14/08/2018, Sociedade, p. 22

https://oglobo.globo.com/sociedade/arvores-registram-historico-de-polui…

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