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Árvores amenizam clima

A Crítica, Cidades, p. C4
24 de Fev de 2008

Árvores amenizam clima
No entanto, política de plantio de mudas promovido pela prefeitura de Manaus ainda está longe de alcançar este efeito

Gerson Severo Dantas
Da equipe de A Crítica

A arborização de vias e logradouros públicos é capaz, segundo estudos recentes, de contribuir para a redução em até quatro graus Celsius na temperatura. Mas em Manaus, o programa responsável pelo plantio de mudas ainda está longe de conseguir esse feito. Apesar de estar próximo de alcançar a meta de plantar e proteger 1 milhão de árvores, o resultado dessa ação só virá em seis ou sete anos.
As árvores reduzem a incidência direta dos raios do Sol e diminuem a umidade relativa do ar, num processo que contribui para atenuar a temperatura nas chamadas ilhas de calor, que são os centros de cidades e áreas cheias de prédios.
De acordo como engenheiro florestal Afonso Rebelo, a árvore urbana atua sobre o clima, a qualidade do ar, o nível de ruídos, sobre a paisagem e garante um refúgio importante para animais remanescentes de antigas áreas florestais. Neste sentido, ela se constitui um importante "seqüestrador de carbono". "Ela faz a retenção dos poluentes e o consumo de gás carbônico contribui para melhorar a qualidade do ar", afirma.
Conforme a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), faltam menos de 100 mil árvores para que a meta estabelecida pelo prefeito Serafim Corrêa, na campanha de 2004,.seja atingida. O programa de Arborização contabiliza o plantio de 330 mil árvores entre as plantadas diretamente pela Semma nas ruas e quintais públicos e as distribuídas aos moradores da cidade. Outras 580 mil estão em duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e no Corredor Ecológico do Igarapé do Mindu.
Já avançamos bastante na regulamentação e estamos discutindo a criação do Plano Diretor de Regularização Urbana, que vai ajudar muito neste processo", afirma a secretária Luciana Valente.
A secretaria disse também que neste mês será criada a terceira reserva, na Zona Rural de Manaus, nas proximidades da praia do Tupé. No entanto, as árvores protegidas dessa área não estão incluídas na meta de 1 milhão.
CONTRA
Uni problema enfrentado pelo programa, que dificulta a eficiência do processo de plantio, é o vandalismo e o roubo de mudas. O chefe do núcleo operacional do programa, Sidney Brasil, sempre lembra que o canteiro da avenida Grande Circular, na Zona Leste, já foi arborizado duas vezes na atual administração: uma no início e outro no fim de 2007. "No final do ano passado, 130 mudas foram replantadas e, dessas, pelo menos 80 foram depredadas e tiveram as cercas protetoras danificadas", afirmou.
O corte ou poda de árvores na cidade de Manaus é proibido se não for executado com a devida licença dos órgãos públicos desde 1896. A proibição está expressa no Código de Posturas Municipais e referia-se a árvores frutíferas, de madeira de lei ou de uso na construção. O código também estabelecia o preço a ser pago pela extração da madeira.

Rearborização resiste até hoje

O "roubo" de árvores obrigou que em 1915 o Poder Público tivesse que reformar e rearborizar a praça General Osório (hoje o estádio General Osório, do Colégio Militar), largo da Matriz, praça da Constituição, praça Dom Pedro II (a da prefeitura velha), praça Tamandaré, praça da República, além da avenida Eduardo Ribeiro. .

Polêmica e problemas antigos
Escolhas das espécies e roubo de mudas são obstáculos enfrentados pela autoridades locais

A definição das espécies a serem usadas na arborização de Manaus é um assunto polêmico desde os primeiros esforços para dar o início deste processo, em 1870. Em artigo publicado na série Memória, da Secretaria de Estado da Cultura, Andréa, de Souza Nascimento afirma que o debate na época era se a arborização deveria ser feita com plantas nativas ou plantas estrangeiras.
Optou-se pela importação de espécies como o fícus benjamim, palmeiras imperiais e acácias, com milhares de mudas sendo compradas no Rio de Janeiro e trazidas para Manaus. A palmeira imperial, "pelo porte majestoso, a beleza, a influência de sua difusão no Jardim Botânico do Rio de Janeiro", era a árvore mais requisitada, mas já naquele tempo, como agora, sua importação não foi bem sucedida devido a problemas de transporte e de adaptação.
Atualmente, a escolha das espécies que são usadas no programa de arborização da prefeitura é feito com base na resolução 090/2006 do Conselho Municipal do Meio Ambiente, que estabelece uma cota igual de 50% para as nativas e as não-nativas. Assim, hoje são plantadas ou distribuídas mudas de pupunheiras, ipê, pau-pretinho, jutairana (nativas), açaí, biribá e mangueira (não nativas).
Um outro problema atual que já se apresentava no início do século passado é o roubo das árvores plantadas pelos governos em locais públicos.'
"No decorrer do início do século XX o Estado teve uma preocupação efetiva em promover a arborização de praças, jardins e hortos na cidade, até mesmo porque a cidade foi assolada por uma onda de vandalismo e roubo das espécies plantadas", afirma Andréa, acrescentando que os moradores 'roubavam' as árvores para plantar em seus quintais.
Para combater este problema, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) faz um trabalho de prevenção com os moradores das áreas onde ocorreu o plantio de árvores e ainda distribui mudas das mesmas espécies plantadas.

Destaque

A tentativa de arborizar as principais vias públicas de Manaus com palmeiras imperiais, no fim da gestão do ex-prefeito Alfredo Nascimento, revelou-se um fracasso passados cinco anos. A maioria das palmeiras estão queimadas.

A Crítica, 24/02/2008, Cidades, p. C4

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