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Arte encontra xamãs em "Yanomami"

FSP, Ilustrada, p. E8
19 de Abr de 2004

Arte encontra xamãs em "Yanomami"
No CCBB do Rio, exposição que esteve em Paris retrata índios do Norte brasileiro

Ana Paula Conde

Promover o encontro entre a arte contemporânea e a cosmologia dos xamãs é o objetivo da mostra "Yanomami, o Espírito da Floresta", organizada por Hervé Chandès, diretor da Fundação Cartier, e pelo antropólogo Bruce Albert, diretor do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento. Os curadores convidaram 13 artistas de diferentes nacionalidades para mergulhar no universo indígena e transformar suas observações em linguagem artística.

A exposição, que esteve em cartaz em Paris, com elogios da crítica, em 2003, será aberta hoje no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) do Rio.
"A intenção é considerar os ianomâmis como parceiros de um diálogo sobre questões universais e não colocá-los numa posição subalterna", diz Albert.

A idéia da mostra surgiu durante um encontro de Claudia Andujar, 73, com Chandès na 24ª Bienal Internacional de SP, em 1998. A fotógrafa conheceu os ianomâmis no início dos anos 70, ao fazer uma reportagem sobre a Amazônia para a revista "Realidade".

Ela se encantou com a sociedade indígena, abandonou o fotojornalismo e criou a ONG (organização não-governamental) CCPY (Comissão Pró-Yanomami), que teve papel primordial na demarcação do território ocupado pelo grupo, em 1992. Andujar achou que o próximo passo a ser dado era a divulgação da história e do conhecimento dos índios.

"Queria mostrar a espiritualidade dos ianomâmis, mas não imaginava que a exposição fosse ser tão abrangente. Fiquei satisfeita com o trabalho dos curadores", diz a fotógrafa nascida na Suíça, que escolheu o Brasil para viver em 1956. A exposição reúne 28 fotografias em preto-e-branco e 14 em cores de sua autoria.

O foco da mostra é a comunidade de Watoriki, uma das cerca de 250 aldeias espalhadas por Amazonas e Roraima, onde vivem mais de 13 mil ianomâmis. Dos 132 habitantes da aldeia, 11 são xamãs. São eles os responsáveis pelos processos de cura e por proteger as pessoas dos poderes humanos e não-humanos.

Alguns artistas já haviam trabalhado com os ianomâmis, como o fotógrafo e artista plástico Lothar Baumgarten e o cinegrafista Volkmar Ziegler, ambos alemães; outros se inspiraram no material produzido pelo grupo indígena, como o artista plástico francês Vincent Beaurin e o videoartista americano Tony Oursler.

Um terceiro grupo visitou a aldeia pela primeira vez com o objetivo de desenvolver obras especialmente para a mostra.
O cinegrafista e fotógrafo francês Raymond Depardon, o músico americano Stephen Vitiello, os videoartistas Gary Hill e Wolfgang Staehle e a artista plástica brasileira Adriana Varejão trabalharam diretamente com os xamãs de Watoriki.
"Pedi aos índios que desenhassem o que viam em determinados mitos. Saí da aldeia com um rolo de imagens. Parte das minhas obras foi baseada nelas", conta Varejão.

A exposição apresenta duas obras da artista: "Cadernos de Viagem: Connaissance par le Corps" e "Cadernos de Viagem: Yakoana".
"Faço uma paródia com os cadernos dos antigos viajantes. São ficções históricas", explica.
Varejão ressalta que a experiência mudou o olhar sobre seu próprio trabalho. "Eles me apresentaram um ponto de vista que eu nunca havia tido", explica.

Paralelamente à mostra "Yanomamis, o Espírito da Floresta", o CCBB apresentará a exposição "Ticuna, Pinturas da Floresta", reunindo 40 pinturas, fotografias e ambientações que materializam a vitalidade e o caráter dinâmico da cultura dos índios ticunas.

Yanomami, O espírito da floresta. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, Centro, Rio, tel. 0/xx/ 21/ 3808-2020). Quando: hoje, às 19h (para convidados); de ter. a dom., das 10h às 21h. Até 20/6. Quanto: grátis.

FSP, 19/04/2004, Ilustrada, p. E8

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