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Aquecimento do Ártico intensifica fenômenos climáticos que assolam EUA, Europa e China

O Globo, Ciência, p. 27
18 de Fev de 2014

Aquecimento do Ártico intensifica fenômenos climáticos que assolam EUA, Europa e China
Diminuição do gelo marinho muda corrente de ar que regula temperatura na região, aumentando duração de eventos extremos

Maria Clara Serra

RIO - O primeiro mês de 2014 foi considerado o mais frio desde 1994 em grande parte dos Estados Unidos. O Alasca, no entanto, passou pelo terceiro janeiro mais quente já registrado pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (Noaa). Entre dezembro de 2013 e fevereiro de 2014, o Reino Unido sofreu com tempestades que são apontadas como as piores em 250 anos. Já a China enfrenta o inverno mais rigoroso dos últimos 28 anos. Não é coincidência. Influenciado pelo aquecimento do Ártico, o Hemisfério Norte encara eventos climáticos extremos cada vez mais longos e intensos.
Desde 1970, a temperatura do Ártico subiu 2 graus Celsius, o suficiente para fazer com que a região perdesse 40% de sua extensão mínima de gelo marinho. De acordo com uma pesquisa do Instituto de Oceanografia Scripps, nos EUA, publicada na revista científica "PNAS", a perda do gelo fez com que a região ficasse mais escura, reduzindo seu albedo - medida da quantidade de luz refletida que vai de 0 a 1 - de 0,52 para 0,48.
Com menos gelo para refletir a radiação, a região absorveu mais calor e, afirmam os cientistas, influenciou muito mais o aquecimento global do que se imaginava. Mas não só o aquecimento global. Ela também causa mudanças na corrente de jato polar do Hemisfério Norte - responsável por regular as temperaturas na região - o que, segundo estudo divulgado na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), tem impacto direto nos eventos climáticos extremos vividos na região nos últimos meses.
- A redução do gelo marinho do Ártico aumenta a sua temperatura e faz com que a corrente de jato e o campo atmosférico se reposicionem, podendo induzir ondas de frio, chuvas intensas e até calor - explica o chefe do Departamento de Geografia e pesquisador do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul , Francisco Eliseu Aquino. - Isso porque esse reposicionamento induz a entrada de ar subtropical em alta latitude (ao Sul) e ar polar para baixa latitude (ao Norte), alterando o padrão da circulação dessa massa de ar.
Segundo Aquino, é esse novo padrão que explica as temperaturas elevadas no Alasca e o frio extremo no Leste dos EUA. Já na Europa, a corrente não consegue chegar com tanta intensidade, aumentando a presença das tempestades que alagaram mais de cinco mil casas no Reino Unido.

O Globo, 18/02/2014, Ciência, p. 27

http://oglobo.globo.com/ciencia/aquecimento-do-artico-intensifica-fenom…

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