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Após captação, mostra leiloará obras

FSP, Ilustrada, p. E3
04 de Mar de 2008

Após captação, mostra leiloará obras
Com trabalhos de 150 artistas, exposição para financiar preservação ambiental arrecadou R$ 750 mil por lei de incentivo
Diretor de museus do MinC considera a operação "estranha", mas assessoria do ministério assegura que não há irregularidade

Fabio Cypriano
Da reportagem local

Com a participação de 150 artistas brasileiros, "Arte pela Amazônia", mostra que é inaugurada hoje no pavilhão na Bienal, tem como objetivo central arrecadar fundos para a compra de uma área na fronteira do Mato Grosso com o Amazonas para preservação ambiental. Os artistas doaram as obras, que irão a leilão no dia 3 de abril.
Segundo Ricardo Ribenboim, um dos sócios da Base 7 Projetos Culturais, produtora que organiza a mostra, a expectativa é arrecadar entre R$ 300 mil e R$ 500 mil, suficientes para comprar um terreno de 833 hectares, área cinco vezes superior ao parque Ibirapuera. "Esse terreno, onde será possível plantar 1 milhão de árvores, custa em torno de R$ 120 mil e com o dinheiro restante pretendemos criar um edital para projetos de qualidade para a população indígena e ribeirinha", conta Ribenboim.
Curioso, entretanto, é que a Base 7 arrecadou, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, R$ 750 mil para a organização da exposição, valor bem superior ao que se pretende arrecadar. "Uma exposição com 150 artistas é muito cara por conta do seguro das obras, do aluguel de espaço, da edição de um catálogo. Nós só quisemos organizar a mostra e depois viabilizá-la a ponto de conseguir que a renda seja totalmente entregue ao projeto", diz Ribenboim.
"Acho estranho que isso ocorra e, se virar moda, todo mundo vai usar a lei de incentivo para organizar uma exposição e fazer negócios em favor de alguma causa, independente do que ela seja", diz José do Nascimento Júnior, diretor do Departamento de Museus do Ministério da Cultura (MinC). Coordenador de Análise e Aprovação de Projetos do MinC, Maurício Bortoloti disse que irá emitir um parecer sobre o caso nos próximos dias.
A assessoria de imprensa do ministério assegura, no entanto, que não há irregularidade, pois os projetos inscritos podem ter fim comercial, se houver uma finalidade cultural.

Em família
A idéia para organizar a mostra com fins filantrópicos teve início numa conversa familiar: o filho de Ribenboim, Gabriel, é um dos proprietários da CO2 Soluções Ambientais, empresa que realiza projetos de neutralização de carbono, e tem uma fazenda próxima à área onde se pretende adquirir o novo terreno e irá monitorar o novo espaço contra incêndios e o desmatamento. "A idéia surgiu da união da CO2 e da Base 7 para criar um projeto de preservação consciente da Amazônia de longo prazo", diz Ribenboim.
O resultado da arrecadação do leilão será dividido em duas partes: 30% para os artistas e 70% para uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), criada a partir do Instituto Arte Mais Meio Ambiente, que irá gerenciar o projeto. Os artistas, segundo Ribenboim, estão sendo convidados a participarem da entidade. "A idéia é entender que isso é uma atitude de artistas e foi bacana ver como houve sensibilidade para o projeto", diz.
De 170 convidados, 150 aceitaram o convite para a mostra. No entanto, vários artistas ouvidos pela Folha não sabiam da captação. "Acho o valor arrecadado muito elevado, mas acredito ser por uma boa causa", diz Mauro Restiffe. Outros atenderam por respeito ao organizador: "Participo porque confio no Ribenboim", diz Carlito Carvalhosa. Outros artistas -que preferiram não se identificar- tiveram reações mais exaltadas ao tomar conhecimento da captação.
A Base 7 conseguiu ainda uma parceria com a Fundação Bienal de São Paulo que, mesmo ainda tendo dívidas da Bienal de 2006, deu um desconto substantivo para o aluguel: em vez de cobrar o preço normal, R$ 274 mil, está recebendo R$ 50 mil. O curador da fundação, Jacopo Crivelli Visconti, também trabalha para "Arte pela Amazônia", organizando a disposição das obras e escrevendo o texto do catálogo. Segundo Ribenboim, Visconti recebe verba da própria fundação.

Exposição tem pintura, foto e videoinstalação

Da reportagem local

A diversidade é a principal característica entre os 150 artistas que participam de "Arte pela Amazônia". Há artistas de várias gerações, como a nonagenária Tomie Ohtake, quase meio século mais velha que Ding Musa, um dos mais jovens na mostra.
Há também uma grande diferença no uso de suportes, dos mais tradicionais como pintura, representada principalmente por Ohtake e Paulo Pasta, passando pela fotografia de Luiz Braga e Gal Oppido, ou em videoinstalações, como Amilcar Packer.
"Cada um contribui com um tijolo imaginário, e o que conta é o resultado desse esforço coletivo", escreve Jacopo Crivelli Visconti, em texto da mostra. No terceiro andar do prédio da Bienal, Visconti dividiu as obras em cinco núcleos temáticos.
Dentre os artistas mais conhecidos, tomam parte Tunga, Regina Silveira, Carmela Gross e Miguel Rio Branco. No entanto, o grande artista conhecido pela defesa de causas ecológicas no país, Frans Krajcberg, não participa da exposição. (FCy)

ARTE PELA AMAZÔNIA
Quando: abertura hoje para convidados; de ter. a dom., das 10h às 20h; até 30/3
Onde: Pavilhão da Bienal (pq. do Ibirapuera, portão 3, 3o andar, acesso pela rampa externa; tel. 0/xx/11/3088-4530)
Quanto: entrada franca

FSP, 04/03/2008, Ilustrada, p. E3

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