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'Antes do vírus, o que preocupa é a fome', diz líder indígena de Minas Gerais sobre pandemia

G1 MG - g1.globo.com/mg
Autor: Thais Pimentel
02 de Abr de 2020

Segundo Célia Xakriabá, uma política pública destinada às aldeias é urgente. Um caso suspeito de covid-19 foi registrado em um território indígena entre Minas Gerais e Espírito Santo.

Por Thais Pimentel, G1 Minas - Belo Horizonte
02/04/2020 05h30 Atualizado há 3 anos

"Somos um povo de costumes coletivos. Estamos fazendo todo esforço possível para que o primeiro caso não chegue. Se chegar, será um extermínio", disse a doutora em antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e líder indígena, Célia Xakriabá.

Ela cobra políticas públicas destinadas às aldeias no combate à pandemia do novo coronavírus. Principalmente recursos para a sobrevivência dos povos.

"Antes do vírus, o que preocupa é a fome. Os povos que vivem no estado têm relação com a vida urbana. Com o comércio fechado e aldeias isoladas, muita gente está tendo problemas com alimentação", disse Célia.
As plantações não são suficientes para abastecer toda a aldeia, segundo ela. Há cerca de 11 mil xacriabás em Minas Gerais. Grande parte do território fica na cidade de São João das Missões, no norte do estado.

"É um desafio para aqueles que querem acessar mercadoria. Foi proibido a entrega de produtos na aldeia", disse ela.

A pandemia também afetou hábitos do povo Xakriabá.

"Quando venho aqui, a primeira coisa é ir na casa das minhas tias mais velhas. É difícil para os anciões entenderem este afastamento", contou Célia que se divide entre a aldeia e a Belo Horizonte onde está concluindo o doutorado.

De acordo com ela, a costume que os índios sempre visitem a casa de seus vizinhos. Mas isso teve mudar por causa do novo coronavírus. "Meu avô de 80 anos mora com a gente. Ele caminha todo dia. Ia na casa dos outros e agora conversamos com ele. É um desafio não poder se movimentar", disse.

Apenas equipes de saúde são permitidas dentro da aldeia. "Essa doença pode se alastrar muito rapidamente", disse Célia.

O balanço divulgado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Minas Gerais/Espírito Santo (DSEI-MG/ES) nesta quarta-feira (1o) apontou um caso suspeito de covid-19 em uma das aldeias da região. Ainda não há informações sobre o local ou tribo atingida. No Amazonas, um caso em indígena de 20 anos foi confirmado.

"Precisamos de uma política pública destinada aos povos indígenas. Compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPI's), insumos, vacinação contra gripe. É urgente", disse Célia.
Um plano emergencial tramita no Congresso Nacional, em Brasília. Ele determina medidas específicas de vigilância sanitária e epidemiológica para prevenção do contágio e da disseminação do novo coronavírus. Ainda prazo para que ele entre em votação.

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que mantém diálogo com as lideranças indígenas e orientações de isolamento social estão sendo feitas. O órgão disse ainda que "efetuou o pagamento emergencial de 75% do custeio da Resolução SES-MG no 6.894/2020 no valor de R$ 1. 154.395,18 para ações de enfrentamento à epidemia".

"Por conta da nossa situação de vulnerabilidade, da invisibilidade e cegueira social, essa pandemia pode significar o nosso extermínio", disse Célia.

Comitê nacional
O Ministério da Saúde criou um comitê de crise nacional para monitorar impactos da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, em comunidades indígenas. A portaria foi publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira (2).

Segundo a portaria, o comitê será formado por outros 35: um central, formado por membros da Secretaria especial de saúde indígena; e os distritais, representantes dos 34 distritos sanitários especiais indígenas. O documento estabelece que o comitê central se reúna uma vez ao dia, presencialmente ou por videoconferência.

https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2020/04/02/antes-do-virus-…

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