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Antártica em alerta

O Globo, Ciência, p. 33
22 de Jan de 2009

Antártica em alerta
Pela primeira vez, estudo revela aumento da temperatura média

Durante muito tempo cientistas que estudam as mudanças climáticas na Terra acreditaram que enquanto o planeta aquecia, grande parte da Antártica esfriava. Mas isso mudou.
O único continente que parecia imune ao aquecimento global está esquentando rapidamente. Novos estudos mostram que nos últimos 50 anos a região registrou uma elevação média na temperatura de 0,5 grau Celsius, cerca de 0,1 grau por década. Os dados foram publicados na revista britânica "Nature". Estas mudanças têm influência direta no Brasil, pois a Antártica participa da regulação do clima no país.

Cerca de 90% do gelo do planeta encontra-se na Antártica. Até agora, a comunidade científica pensava que todo o interior do continente gelado estava esfriando e que a temperatura só aumentava na sua península, próxima ao extremo da América do Sul. Com base em análises de registros de estações terrestres e satélites, agora os autores da pesquisa contestam a ideia de que as temperaturas se mantêm em equilíbrio entre o oeste e o leste do Continente Polar.

A temperatura subiu de 1957 a 2006, especialmente no inverno e na primavera. É verdade que a parte leste da Antártica esfriou entre 1970 e 2000, mas desde então reaqueceu.

Com isto, a média sobe, explicou um dos coordenadores do estudo, Eric Steig, da Universidade de Washington e diretor do Quaternary Research Center.

"O aquecimento na Antártica ocidental (oeste) tem sido de um décimo de grau Celsius por década nos últimos 50 anos, anulando completamente o esfriamento da parte leste (oriental) durante o período de 1970 a 2000", disse um comunicado da Universidade de Washington.
Buraco de ozônio ajudou a esfriar
Este aumento, similar ao do resto do planeta, está relacionado com alterações na circulação atmosférica, variações na temperatura da superfície dos mares e com a diminuição do gelo na região pacífica do oceano Sul. A curto prazo, este aquecimento não terá conseqüências graves.

Porém, com o tempo, a desestabilização da camada de gelo é uma possibilidade, afirmam os autores:
- O oeste da Antártica é muito diferente do leste, e há uma barreira física, as Montanhas Transantárticas, que separam estas duas partes.

A camada de gelo da primeira está a uma altura de 1.830 metros do nível do mar e a segunda a 3.050 metros.

Uma das razões pelas quais se acreditava que a maior parte da Antártica esfriava é a presença do buraco na camada de ozônio, que aparece a partir da primavera na Região Polar do Hemisfério Sul. Este fenômeno seria responsável pela queda de temperatura na parte oriental, especialmente no outono.

- O buraco na camada de ozônio pode esfriar a Antártica ocidental, mas não intensamente como os fatores que produzem aquecimento.

A Antártida ainda continuará coberta de gelo por milhares de anos, independentemente da ação humana.

Porém poderá derreter-se, elevando o nível dos mares - disse Steig.

Saiba mais sobre o continente gelado

Refrigerador da Terra: A Antártica controla o clima no Hemisfério Sul. E mudanças climáticas no Brasil podem ser, em parte, resposta às alterações no continente gelado. As frentes frias, por exemplo, nascem lá. Os ventos atingem 327 quilômetros por hora e a temperatura chega a 55 graus Celsius negativos, muito mais baixa que a do Ártico, de menos 15 a 20 graus Celsius.

Gelo por toda parte: Pelo menos 98% da superfície está sempre recoberta por gelo, um manto de cinco quilômetros de espessura e volume de 25 milhões de quilômetros cúbicos. Se todo este gelo fosse transferido para o Brasil, daria para cobrir todo o país com uma camada de 2,9 mil metros de espessura. Se fosse totalmente derretido, aumentaria o nível do mar em 60 metros.

Água doce: De 70% a 80% da água doce do planeta estão no continente. Ele é cercado por uma camada de mar congelado, cuja superfície varia de 2,7 milhões de quilômetros quadrados no verão a 22 milhões de quilômetros quadrados no inverno.

Animais e Plantas: No mar a vida é rica. Em terra é restrita à pequena faixa junto ao mar, livre de gelo no verão. É onde estão pequenos invertebrados, microorganismos e uma flora abundante em líquens e musgos, além de fungos, algas e poucas gramíneas. Focas e aves procuram esta área para reprodução e descanso.

Geleiras do Chile em retração

Noventa por cento das geleiras do Chile estão em processo de retração, 7% encontram-se estáveis e apenas 1% revela crescimento. A informação é do Ministério de Obras Públicas do país, que possui, ao lado da Argentina e do Canadá, as maiores reservas de água doce do planeta.

Estes são os resultados de um estudo preliminar no qual foram analisados mais de uma centena de geleiras, numa extensão que chega a quase 17 mil quilômetros quadrados.

Os dados servirão para o estabelecimento de uma política local de preservação dessas formações, muito afetadas pelo aquecimento global. A pesquisa é resultado de um convênio entre o governo e o Centro de Estudos Científicos de Valdívia.

As primeiras estimativas indicam que o Chile conta com 1.720 geleiras, que foram identificadas entre a região do Atacama, a 900 quilômetros de Santiago, e Puerto Williams, três mil quilômetros ao sul.

Estudos anteriores já haviam revelado que as geleiras chilenas estavam desaparecendo em um ritmo recorde, incluindo aquelas próximas à capital, que são fonte de água para mais de seis milhões de pessoas. As temperaturas na região no último século aumentaram de 0,5 a 1,26 graus Celsius, o suficiente para derreter as geleiras

Estações do ano chegam dois dias antes
Ação humana pode estar causando variações e alterações dos picos de calor e frio

BERKELEY, Califórnia. Não só houve aumento da temperatura média global nos últimos 50 anos, mas as estações do ano tem tido o seu início alterado, chegando até dois dias antes do normal, tanto no Hemisfério Sul como no Hemisfério Norte, revela um estudo realizado por cientistas das universidades de Berkeley e Harvard, nos EUA.

Assim como a atividade humana produz gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, ela também pode ser a causa das mudanças nos ciclos das estações e também dos seus picos de calor e frio, de acordo com Alexander R. Stine, pesquisador da Universidade de Berkeley, uma das autoras do relatório, publicado na revista "Nature".

- Há cem anos existe um padrão de variabilidade muito natural - explica Stine. - Em seguida, vemos uma grande quebra desse padrão, ao mesmo tempo que a temperatura média global começa a aumentar, o que nos faz suspeitar da influência da atividade humana.

Padrões de circulação atmosférica também estão mudando
Embora a causa desta mudança sazonal não esteja clara, pesquisadores dizem que a mudança parece estar relacionada, em parte, a um determinado padrão de ventos que também foi mudando ao longo do mesmo período.

Este padrão de circulação atmosférica, conhecido como Modo Anular Norte, é o mais importante para controlar o tipo do vento e fazer um inverno no Hemisfério Norte diferente do outro. Os pesquisadores descobriram que este padrão também é importante para controlar a chegada das estações.

Seja qual for a causa, asseguram os pesquisadores de Berkely, os modelos do atual Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) não preveem esta mudança no ciclo das estações.

As temperaturas em qualquer momento do ano podem ser muito diferentes na Terra e sobre os oceanos. E uma mudança na intensidade e na direção dos ventos pode mover uma grande quantidade de calor do oceano para terra, o que pode afetar o calendário das estações.

No entanto, esta parece ser apenas uma explicação parcial porque a relação entre este padrão de circulação e da alteração no calendário das estações do ano não é suficientemente forte para explicar a magnitude da mudança sazonal

O Globo, 22/01/2009, Ciência, p. 33

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