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Angra 3, antídoto contra a crise

OESP, Economia, p. B2
Autor: CAMARGO, Guilherme
05 de Mai de 2009

Angra 3, antídoto contra a crise

Guilherme Camargo*

O recuo no PIB brasileiro e nos índices de produção industrial e o aumento no desemprego acabaram com qualquer dúvida de que a crise atingiu o Brasil em cheio. A saída será complexa e não ocorrerá apenas com medidas monetaristas, como muitos governos vêm fazendo. No momento atual, não faz sentido investir para aumentar a capacidade produtiva, pois, com a redução da atividade econômica, as fábricas se encontram ociosas. Também não adianta injetar recursos públicos em empresas e bancos falidos. Essa é uma medida que, na melhor das hipóteses, tem caráter paliativo.

A solução mais adequada para o País sair da crise é investir em projetos de infraestrutura, que dão retorno em termos de geração de emprego, movimentam a indústria nacional e ainda resultam num aumento na arrecadação de impostos em todos os níveis. São áreas como transporte, infraestrutura portuária, energia, telecomunicações, construção civil, indústria de bens de capital e siderurgia, entre outras, que ajudam a diminuir o chamado custo Brasil e aumentam a competitividade da economia.

É o caso de Angra 3, que recentemente recebeu a licença de instalação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), que autorizou a concretagem complementar da área destinada à construção dos prédios de segurança nuclear e a impermeabilização do terreno onde será instalada a usina. Essas tarefas devem demorar cerca de sete meses, tempo suficiente para a mobilização de 1,5 mil a 2 mil trabalhadores na obra antes do final do ano.

A área energética é especialmente importante. Não há uma grande sobra de geração de eletricidade no País. Não podemos nos acomodar, pois a situação confortável que existe hoje se deve à crise, que está freando a atividade econômica e, consequentemente, o crescimento do consumo energético. Se a atividade econômica for retomada e o consumo de eletricidade voltar a crescer, o Brasil terá novamente de correr contra o tempo para evitar problemas de abastecimento.

Apesar de o Brasil ser um país de vocação hidrelétrica, as usinas térmicas serão cada vez mais necessárias. Por causa do significativo impacto no meio ambiente, há dificuldades para se obter o licenciamento ambiental para esses empreendimentos, especialmente de grandes hidrelétricas, como as do Rio Madeira e de Belo Monte (essa não saiu sequer da fase de projeto). Além disso, há perdas energéticas consideráveis que ocorrem na transmissão da energia, pois essas usinas se encontram muito distantes dos principais centros de consumo do País. A complementação térmica serve para dar estabilidade e segurança ao sistema elétrico nacional.

Entretanto a aposta no gás natural se provou desastrosa, em razão do preço do gás, do alto custo dos gasodutos e da instabilidade política na Bolívia, nosso principal fornecedor. Dessa forma, a energia nuclear se apresenta como alternativa viável e econômica para a expansão térmica, por seu efeito multiplicador. Ela tem ramificações em todos os campos da economia e, por isso mesmo, um efeito multiplicador.

Esse investimento em energia nuclear começa com a conclusão de Angra 3, que vem para preencher uma importante lacuna. A retomada das obras da usina mobilizará a indústria, especialmente a de bens de capital. O setor industrial de toda a Região Sudeste será beneficiado, não apenas o fluminense. Para tanto, é preciso haver um compromisso de se obter um índice mínimo de nacionalização da ordem de 60% na construção da usina. Angra 3 também é um projeto que contribuirá de forma decisiva para garantir a segurança energética brasileira na próxima década, além de gerar empregos. Serão 9 mil empregos diretos e 15 mil indiretos durante a fase de construção, e mais 500 empregos permanentes após o início das operações.

O investimento em projetos estruturantes, autossustentáveis e que gerem empregos e recursos financeiros são essenciais para o País encontrar um caminho de saída da crise internacional. Os projetos de energia são parte fundamental dessa equação, incluindo a energia nuclear. Angra 3 é um projeto que pode ser iniciado com rapidez pelo governo e representará a criação de empregos e o aumento da segurança energética. Angra 3 já possui as licenças, a construtora e um cronograma estabelecido. Mas isso não basta. É necessário ministrar o antídoto. É preciso, sem demora, iniciar a construção da terceira usina nuclear brasileira.

*Guilherme Camargo é presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben)

OESP, 05/05/2009, Economia, p. B2

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