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Ameaça da seca

O Globo, Rio, p. 8
09 de Jan de 2015

Ameaça da seca
Nível de reservatórios do Paraíba cai a 2,5%, e agropecuária já tem prejuízo de R$ 100 milhões

ALESSANDRO LO-BIANCO
alessandro.bianco@oglobo.com.br
DICLER DE MELLO E SOUZA
granderio@oglobo.com.br

O volume médio de água nos quatro reservatórios ao longo do Rio Paraíba do Sul, que abastece cerca de 15 milhões de pessoas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio, caiu para 2,5%. Há um mês, o nível estava em 3%. Segundo o Centro de Previsão e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), baseado nos últimos 30 anos, eram esperados 420mm de chuvas para os meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 2014. No entanto, choveu apenas 40mm. Para a vice-presidente do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap) e presidente do Comitê do Médio Paraíba do Sul, Vera Lúcia Teixeira, a situação é crítica.
- Vamos mostrar aos prefeitos de diversos municípios o nível em que se encontra o Rio Paraíba e também buscar medidas para começar a nos preparar para o colapso hídrico. Porque a tendência é piorar - disse.
Apesar da seca, o presidente da Cedae, Wagner Victer, garantiu ontem que não há possibilidade de racionamento de água na Região Metropolitana do Rio, onde vivem 8,4 milhões de pessoas.
- A situação é absolutamente normal. O Rio está enfrentando essa crise de maneira muito eficaz, e os problemas agora estão concentrados na irrigação. A situação não é de emergência no Rio, mas o uso consciente da água é fundamental - disse.
PREVISÕES DESANIMADORAS
O diretor da Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul (Agevap), André Marques, alertou que há municípios que podem ficar sem água. Por isso, é preciso traçar planos para amenizar o problema:
- Agora era para ser a época de chuvas, mas as previsões são desanimadoras.
A Agência Nacional de Águas informou que já estão em discussão medidas para reduzir os impactos da falta de chuva, como o uso do volume morto dos quatro reservatórios ao longo do Paraíba do Sul. Segundo a ANA, o nível do Paraibuna, o maior dos quatro e que fica em São Paulo, estava ontem em apenas 0,49%.
O setor agropecuário do estado já enfrenta um prejuízo de R$ 100 milhões nos últimos três meses. Segundo o secretário estadual de Agricultura e Pecuária, Christino Áureo, houve uma redução de 5% na produção de hortaliças e de 20% na de leite, devido à falta d'água para os pequenos produtores. A produção de cana de açúcar também registrou queda de 15% no último trimestre, e houve a perda de pelo menos duas mil cabeças de gado com a seca. Um levantamento feito pelo estado revela que 13 mil produtores rurais estão sendo afetados pela estiagem.
- Estamos com escassez de chuvas nas regiões de maior produção do estado, principalmente no eixo que vai de Nova Friburgo, na Região Serrana, em direção ao Noroeste Fluminense, passando por Itaperuna, Itaocara, até quase a divisa com o Espírito Santo. Campos e São Fidélis também sofrem com a seca - informou o secretário.
Preocupado, o governador Luiz Fernando Pezão deve anunciar, até o fim do mês, um plano emergencial para reduzir os problemas sofridos pelos pequenos produtores com a falta de chuva.
- Pezão vai anunciar um plano de contingência que será aplicado dentro do programa Rio Rural. O programa, que conta com um financiamento do Banco Mundial de US$ 100 milhões, a serem investidos até o final de 2021, vai destinar US$ 11 milhões para essas ações emergenciais - disse Áureo.
A primeira ação emergencial será adotar um sistema de nutrição para os rebanhos que sofrem com a falta de pasto. O governo vai ceder ração para salvar os animais, desde que o produtor se comprometa a produzir alimento para seu gado ao longo do ano. Assim, ele pode ser tornar autossuficiente no caso de novas secas nos próximos anos. Outra ação consiste na perfuração de poços para uso coletivo. Serão reservatórios de água que poderão ser utilizados para matar a sede do gado e também irrigar lavouras. Somente o trabalho de perfuração dos poços vai utilizar R$ 12 milhões.
- Já deslocamos as máquinas para a construção de açudes e barragens que poderão reter e aproveitar água da chuva. Esta semana entramos com os pedidos de outorga no Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para utilizarmos o solo nesse trabalho. Temos um dos maiores aquíferos subterrâneos nas regiões onde menos chove. Precisamos explorar isso - disse o secretário.
Parte do programa já está em andamento desde 2008, com o início da recuperação das nascentes em 350 microbacias de 72 municípios. Segundo o governo, o problema ocasionado pela falta de chuvas é agravado pelas más condições das nascentes. Por isso, a área em volta delas está sendo reflorestada.

O Globo, 09/01/2015, Rio, p. 8

http://oglobo.globo.com/rio/prefeitos-estao-preocupados-com-seca-que-at…

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