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Amazônia tem a natureza mais rica do planeta

O Liberal-Belém-PA
25 de Mar de 2003

Levantamento inédito feito nas chamadas grandes regiões naturais do planeta confirmou o que há muito já se desconfiava. Embora não seja a maior em extensão territorial, a Amazônia é disparada a região com maior riqueza vegetal e animal da Terra, seguida de longe pela ilha de Nova Guiné e as florestas do Congo, ambas na África Central.

O resultado do levantamento está no livro "Grandes Regiões Naturais: As Últimas Áreas Silvestres da Terra" que será lançado hoje pela Conservation International em Belém. A CI é uma Organização Não Governamental fundada há 16 anos para incentivar a conservação da biodiversidade no mundo e, em especial, nos países tropicais.

Para ser incluída entre as grandes regiões naturais do planeta, era necessário atender a alguns critérios. Entre eles, ter mais de 10 mil quilômetros quadrados, densidade demográfica inferior a cinco habitantes por quilômetro quadrado (excluindo as áreas urbanas ) e pelo menos 70% da área preservada, além de, no mínimo, 1,5 mil espécies de plantas. A Amazônia, claro, preenche a todos os requisitos com folga. A área total coberta pela floresta tropical estende-se por nove países somando mais de 6 milhões de quilômetros quadrados. Cerca de 80% desse total ainda não foram afetados por projetos humanos. Quando o quesito é a biodiversidade aí mesmo é que Amazônia faz bonito. A região reúne uma profusão de plantas, mamíferos, aves, peixes e anfíbios sem contar na centena de milhares de microorganismos, em sua maioria ainda desconhecidos.

Os pesquisadores estimam que a Amazônia reúna cerca de 30 mil espécies endêmicas - aquelas que não aparecem em nenhum outro lugar- o que signficaria em torno de 10% de todas as espécies do planeta.

Além da Amazônia, destacaram-se no estudo as florestas de Miombo Mopane e as pradrarias do Sul do África. A supresa do estudo ficou por conta dos desertos do Oeste americano e Norte do México, onde também foi econtrada grande variedade de espécies vegetais e animais. "Muito mais do que esperado em um deserto", comenta o presidente do Convervation International, Russel Mittermeier.

O livro traz ainda informações sobre savanas, planícies inundadas, florestas temperadas e altas latitudes como a Patagônia. As cinco regiões com maior riqueza biológica ocupam 6,1% da terra e abrigam 17,1% das plantas e animais endêmicas. Por conta dessa concentração de espécies animais e vegetais, as cinco regiões deverão, de acordo com o estudo figurar entre as de "altíssima prioridade para conservação da biodiversidade".

O livro, afirma Mittermeier, não é apenas um registro da riqueza das áreas estudadas. A idéia, segundo ele, é mostrar a importância dessas regiões e com isso incentivar a conservação. "Não é algo para ser visto quando não tivermos mais a Amazônia e dizermos ah! Como era bonita. É uma ferramenta para estimular a conservação. Queremos mostrar para o público de cada País os bens que devem ser preservados," afirma.

O livro é uma verdadeira obra de arte. Reúne belíssimas fotos com imagens que vão do Pantanal à Antártida, passando por desertos e Caatinga. São mais de 500 páginas, onde além das fotos, estão reunidas as impressões de 200 especialistas na área ambiental. O trabalho levou dois anos para ficar pronto. No Brasil, onde serão distribuídos 1,3 mil exemplares, o livro já foi lançado em São Paulo e, além de Belém, apenas Belém terá cerimônia de lançamento. Parte da tiragem será doada para autoridades e entidades ligadas à área ambiental.

O livro lançado hoje é o terceiro de uma série que vem sendo produzida pela CI. Já foram publicados o "Megadiversidade" e "Hotpots" (algo como áreas quentes). Foram chamadas de "Hotpots" as 25 áreas mais ricas e ameçadas do planeta.

Biodiversidade torna complexa tarefa
de planejar o desenvolvimento da região

A riqueza da biodiversidade e o grande número das chamadas espécies endêmicas - aquelas que aparecem exclusivamente em determinada região - aumenta o desafio dos responsáveis por planejar o desenvovilmento da Amazônia. A missão é desenvolver projetos economicamente viáveis que melhorem a vida das populações locais, sem ameaçar essa riqueza natural. Um dos maiores riscos, afirma o diretor da Organização não Governamental Conservation International, Russell Mittermeier, é a ameaça às bacias hidrográficas, as maiores do mundo. "Os grandes ecossistemas são fundamentais para manter serviços ecológicos onde o mais importante é água. A floresta inatcta projete as bacias", afirma ele.

O presidente da CI afirma que é importante chamar a atenção para a riqueza da região agora porque, afirma ele, em geral isso só ocorre quando já é tarde. "Enquanto está aí ( o patrimônio natural) pensa-se que é infinito e não há preocupação em perservar".

Reconhecida com a mais rica região do planeta em biodiversidade, a Amazônia, é segundo os estudos da CI, uma das mais ameaçadas. Entre essas ameaças está a exploração madeireira predatória, a derrubada de floresta para dar lugar a pasto e caça ilegal. "Hoje há lugares onde ainda há floresta mas não se encontram mais algumas espécies animais", afirma o diretor da CI para a Amazônia, José Maria Cardoso. Segundo ele, isso pode ser observado, por exemplo na região de Paragominas, onde mesmo onde ainda há cobertura vegetal, não aparecerem animais que habitavam no lugar. O desaparacimento dessas espécies é grave porque acaba afetando todo o ecossistema da região. Isso porque esses animais com o leva e traz de sementes garantem o nascimento de novas espécies.

Além das ameaças constantes, a região ainda enfrenta, de acordo com os pesquisadores, riscos por conta de alguns projetos planejados pelo governo federal. O mais importante desses projetos é a usina hidrelétrica de Belo Monte, prevista para ser construída no rio Xingu, próximo ao município de Altamira. "É preciso muito mais estudo do que os feitos até agora pela Eletronorte", afirma o diretor presidente da Conservation International, Roberto Cavalcanti. Ele defende que esses estudos se estendam para além da área da usina propriamente dita. Isso porque os impactos devem se estender por todo o entorno da obra. "Esta não se resume a uma discusssão entre ambientalistas e não ambientalistas", afirma Cavalcanti para quem o debate "deve ser muito mais amplo". "Já temos um histórico de projetos sem planejamento algum", comenta.

O diretor-presidente da CI afirma que a necessidade de estudos também deve ser vista como um fator de economia porque evitaria grandes perdas ecológicas que depois poderiam ameaçar o desenvolvimento das regiões. "Quando não se leva em conta os fatores ambientais tem-se resultados inadequados, não esperados e às vezes, desastrosos". A mesma avaliação estende-se ao asfaltamento da BR-163, a conhecida Santarém-Cuiabá. Os pesquisadores garantem ser favoráveis ao afastamento que vai tirar do isolamento milhares de pessoas da região. Afirmam, porém, que é necessário analisar e tentar minimizar o risco de devastação que chegará com o asfalto.

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