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Amazônia: Floresta está 15% menor

Correio Braziliense-Brasília-DF
Autor: Ronaldo Brasiliense
05 de Mai de 2001

A Floresta Amazônica sofreu mais um duro golpe. No ano passado, 17 mil quilômetros quadrados de mata virgem foram destruídos pela ação do homem. É como se quase todo o território da Bélgica tivesse sido desmatado em um único ano. No total, mais de 560 mil quilômetros quadrados de mata nativa, quase 15% de toda a cobertura florestal amazônica, foram dizimados neste século. É uma França a menos.

Quase dois milhões de campos de futebol são desmatados por ano, em média, na Amazônia brasileira, compara Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos, São Paulo. O Inpe monitora os desmatamentos na Amazônia desde a década de 70 através de imagens do satélite norte-americano Landsat. A exemplo dos últimos três anos, 78% de todos os desmatamentos constatados pelo satélite Landsat na Amazônia concentram-se em 44 das 229 imagens coletadas, localizadas na área batizada pelo Inpe como Arco do Desflorestamento da Amazônia. Engloba áreas localizadas no norte do Mato Grosso, sul/sudeste do Pará, norte do Tocantins, oeste do Maranhão e terras às margens da rodovia BR-364 (Cuiabá-Porto Velho).

Os dados sobre os desmatamentos na Amazônia no ano 2.000 ainda estão sendo guardados a sete chaves pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos, São Paulo, mas devem ser divulgados oficialmente pelo Ministério do Meio Ambiente agora em maio.

Resposta do governo

Desde que os desmatamentos na Amazônia começaram a ser monitorados por imagens do satélite norte-americano Landsat, o Inpe vem divulgando ano a ano o avanço humano sobre a maior floresta tropical úmida do planeta. A Amazônia brasileira, com cinco milhões de quilômetros quadrados, sendo quatro milhões de cobertura vegetal, vem perdendo em ritmo acelerado sua cobertura vegetal.

Somente quando o valor da floresta em pé for maior do que a floresta derrubada é que vamos conseguir controlar os desmatamentos ilegais, afirma a secretária de coordenação da Amazônia Legal, Mary Allegretti, lembrando que o desafio maior do Ministério do Meio Ambiente é adotar medidas que valorizem a floresta. O governo brasileiro sempre reagiu às altas taxas de desmatamento na Amazônia anunciando medidas para controlá-las, constata Allegretti. Agora, estamos buscando alterar a política ambiental em parcerias com Estados e municípios para que possamos acompanhar e controlar os desmatamentos o ano todo.

O ecólogo norte-americano Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), alerta ainda para o fato de que os desmatamentos na Amazônia contribuem com 6% a 7% para o efeito estufa mundial. O Brasil é, segundo Carlos Nobre, do Inpe, responsável pela maior parte das emissões globais de carbono por desmatamento em florestas tropicais.

Na avaliação do ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, a nova filosofia de trabalho em relação à Amazônia prevê onerar os desmatamentos e desonerar o manejo florestal. Medidas sobre diferentes modelos de manejo florestal sustentável, destinadas ao segmento empresarial, ao uso comunitário e aos recursos não madeireiros estão sendo discutidas pela Comissão Regional de Monitoramento e Avaliação de Licenciamento Ambiental em Propriedade Rural. Essas regras serão definidas por instruções normativas e devem ser anunciadas por Sarney Filho nos próximos dias.

A ameaça da soja

Roberto Smeraldi avalia que governo brasileiro gasta mal os recursos que disponibiliza em seu orçamento para combater os desmatamentos na Amazônia. Há programas como o Proarco, PrevFogo, Prodesc e outros que têm uma dotação superior a R$ 100 milhões, que são muito mal aplicados, acusa.

E a ameaça à maior floresta tropical do mundo cresce esse ano com a proposta de mudança no Código Florestal que reduz as reservas florestais legais no país, apresentada no Congresso Nacional pelo deputado federal Moacir Michelleto. Se aprovado, o projeto de Michelleto reduzirá as reservas florestais em propriedades rurais na Amazônia de 80% para 50% em toda a região. A proposta do deputado Michelleto é transformar a Amazônia numa grande plantação de soja, conclui, com uma boa dose de exagero, Flávio Montiel, ativista da ONG Greenpeace.

Pode até ser exagero, mas onde há fumaça, há fogo.(amazonpress.com.br)

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